- Por Maria de Lourdes Jesus
A vitória certa da Giorgia Meloni e do seu partido Fratelli d’Italia, tinha sido anunciada através das sondagens apresentadas todas as semanas nos meios de comunicação.
Apesar da mais baixa afluência dos últimos anos, Meloni foi premiada com 26% dos votos, superando os seus aliados Lega (8, 9%), Forza Italia (8%), e afirmando-se como o primeiro partido em Itália do bloco da direita que vai governar o país com 44,27% de votos e com um centro-esquerda que saiu inglorioso dessa votação com apenas 26,4%. Uma derrota prevista que deu os primeiros sinais quando o bloco da direita formou uma coligação com Meloni, Salvini, Berlusconi e outros partidos menores, e o da esquerda que entrou na campanha eleitoral com uma coligação muito fraca, sem os Cinco Estrelas (Cinque Stelle) e Itália Viva. Dois partidos que saíram respetivamente das urnas no dia 25 de Setembro com 16,5% e 7.8%.
Importante saber que a lei eleitoral Rosatellum, baseada no sistema uninominal, favorece os partidos agrupados em coligação. Outra vantagem atribuída a Giorgia Meloni foi porque o Fratelli d’Italia não tomou parte no governo de Unidade Nacional, chefiado pelo ex-governador do BCE, Mario Draghi. Durante os 17 meses deste governo, Meloni decidiu ficar na oposição e com grande vantagem para o seu partido. Ganhou 4 vezes mais em relação a eleição precedente em 2018. Nessa altura, o partido contava com 33 dos 600 deputados na Câmera. Em 17 meses, Fratelli d’Italia foi aumentando nas sondagens, até atingir os 26% nas eleições do dia 25 de Setembro.
O Parlamento italiano é composto por 400 deputados e 200 senadores eleitos. A coligação de direita tem 115 cadeiras no Senado e 237 na Câmera, a do centro-esquerda, respectivamente 85 e 44, o Movimento 5 estrelas 28 e 52, enquanto Azione e Itália Viva 9 e 21.
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A coligação de direita venceu com maioria absoluta nos dois Ramos do Parlamento italiano: Câmera e Senado. A novidade dessa eleição é sem dúvida a vitória de Giorgia Meloni: a primeira mulher na Itália a ser nomeada Primeiro-ministro do próximo governo italiano. Na longa história da República italiana, pela primeira vez um partido de direita, liderada por uma mulher, vence as eleições politicas.
No próximo mês de Outubro, o governo italiano vai ser dirigido por uma mulher de 45 anos.
Algumas passagens mais importantes da sua carreira politica:
Aos 15 anos inscreve-se no Fronte della Gioventù, organização dos jovens do Movimento Social Italiano, MSI- Destra Nazionale.
Aos 21 torna-se conselheira provincial,
Aos 29 anos foi deputada e vice-presidente da Camera dos deputados.
Em 2008 Berlusconi volta ao poder e Meloni é nomeada Ministra da Juventude.
Em dezembro 2012 funda o partido Fratelli d’Italia juntamente com Ignazio La Russa e Guido Crosetto.
Em 2020, Giorgia Meloni é a nova presidente do Partido dos conservadores e reformistas europeus composto por 14 países.
As preocupações da Itália e da Europa
Este último encargo da Giorgia Meloni, como presidente dos soberanistas na Europa, é a grande preocupação da Itália e também da Europa. Meloni é atacada e criticada várias vezes pela sua posição que defende os valores da direita, nacional-conservadora, contrária aos direitos civis que a Europa defende como uma grande conquista, a benefício da humanidade. A boa relação de Meloni com os partidos extremistas da direita, reforçada pelo novo governo da Suécia, que inclui um partido nacionalista, poderia contribuir à formação dum “bloco soberanista”, capaz de mudar o quadro político da Europa, e por em perigo algumas conquistas já consolidadas na Itália e sobretudo na Europa.
A incógnita da política da imigração do próximo governo.
O Presidente da Federação da Diáspora Africana, Godwin Chukwu, não perdeu tempo. A sua preocupação perante a política da imigração de Giorgia Meloni e do seu partido ficou bem clara na mensagem enviada à nova chefe do Executivo. Godwin apelou para a responsabilidade do governo em relação aos cidadãos oriundos que vivem e trabalham em Itália, contribuindo assim para a riqueza deste país. Um dos temas mais controversos e muito debatido é o direito à cidadania italiana dos filhos dos imigrantes que nasceram ou chegaram à Itália ainda menores. Essa luta começou nos anos 1990, mas ainda não existe uma lei que responda às propostas avançadas pelos imigrantes e em geral pela sociedade civil italiana.
O apelo do presidente da diáspora africana tem razão de ser, visto que o novo governo vai ter que decidir também da qualidade da nossa vida, a dos nossos filhos, que nasceram neste país, que é também o nosso. Atentos, ficamos por aqui aguardando as medidas que o próximo governo vai adotar para responder as várias propostas avançadas pelos imigrantes e às preocupações das Ongs na salvação dos refugiados no Mediterrâneo.
Concluo este artigo com uma boa notícia: Aboubakar Soumahoro candidato na lista Alianza Verde- Sinistra Italiana entra para o Parlamento italiano. Originário da Costa de Marfim, Aboubakar chegou a Itália em 1999. Licenciado em sociologia, é um sindicalista muito conhecido, através dos meios de comunicação, pela luta que travou contra a exploração dos africanos que trabalham na agricultura, sobretudo no sul da Itália. Em 2020 fundou a Lega Braccianti e abre na cidade de Foggia a primeira “Casa dei diritti e della dignità Giuseppe Di Vittorio”. Um espaço de agregação e de cultura.
Benvindo ao Parlamento Aboubakar Soumahoro.