Abraão Vicente defende que o Ministério do Mar deve ser projectado com um pendor económico e menos romantizado
Na abertura do primeiro conselho do Ministério do Mar, Abraão Vicente desafiou os gestores das instituições e empresas tuteladas a ganharem a coragem de decidir e a projectarem o ministério com um pendor mais económico, menos romantizado. “Falar do MM não é falar dos peixes, golfinhos, baleias e tartarugas”, deixou claro.
O ministro Abraão Vicente desafiou os gestores das instituições tuteladas pelo Ministério do Mar a assumirem a coragem de tomar as decisões que acharem necessárias dentro dos seus planos de ação. O governante, que recentemente foi criticado pela classe artística por ter mudado de forma repentina o director do CNAD, deixou claro que cabe aos decisores a responsabilidade de ajustarem e reconstruirem as suas equipas de trabalho e fazerem as lutas internas necessárias para alcançarem um melhor posicionamento das suas instituições.
Segundo Vicente, é verdade que Cabo Verde é um país democrático, mas é preciso desconstruir a ideia de que as decisões têm de ser debatidas por toda a gente. “Com isso quero dizer que temos de assumir a responsabilidade de decidir enquanto responsáveis do sector do mar. A palavra e o voto são devolvidos à população a cada cinco anos. Isto significa que temos um período de cinco anos para agirmos da melhor maneira em nome dos interesses do país”, salientou o governante, para quem o sector do Mar não pode repassar para outras instituições as suas responsabilidades.
Abraão Vicente enalteceu essa mensagem no seu discurso de abertura do primeiro conselho do Ministério do Mar, que acontece hoje na cidade do Mindelo com a presença de uma trintena de gestores dos serviços e empresas tutelados. Um encontro cujo grande objectivo, segundo o ministro, é encontrar os aceleradores capazes de impulsionar o sector marítimo e este possa alavancar o desenvolvimento económico de Cabo Verde.
Na sua intervenção, o governante sublinhou a necessidade de o Ministério do Mar passar a ser projectado fundamentalmente como uma instituição de pendor económico. “Falar do Ministério do Mar não é falar dos peixes, golfinhos, baleias e tartarugas. Esta é a visão românica e uma narrativa que não creio ter sido a mais adequada na fundação deste ministério”, considerou.
Só assim, diz, será possível ao MM empoderar as peixeiras e os pescadores, alcançar a inclusão social e fazer a transferência de recursos directos para o sector, tal como sucede com o Fundo Autónomo e de Segurança. Sendo um ministério económico, o MM, segundo A. Vicente, poderá gerar emprego e impactar a justiça social.
A recentragem da narrativa do Ministério do Mar, prosseguiu, não começa no conselho porque as grandes linhas para o sector, segundo o ministro, estão já definidas, com base numa visão clara: inovar na construção naval, fomentar a produção das energias renováveis, implementar a aquacultura, modernizar as infraestruturas portuárias e de pesca, criar sinergias entre o turismo e o mar, consolidar o sistema dos transportes marítimos…
“Temos uma agenda de trabalho, não estamos aqui para criar uma nova. E a pergunta é a seguinte: o que cada uma das nove instituições aqui presentes estão a fazer para cumprir essas visões? Que metas e parâmetros criaram no plano de actividades para atingirem esses objectivos?”, interrogou Vicente.
Esses serviços e empresas, disse, precisam assumir a responsabilidade de encontrar o caminho para o desenvolvimento da economia marítima. E, segundo Abraão Vicente, não basta repetir bastas vezes o slogan “um mar de oportunidades”, mas sim tornar essas oportunidades em coisas palpáveis.
Para A. Vicente, os cargos nos ministérios, inclusive o do Mar, deveriam ser ocupados por executivos de topo, pessoas com conhecimento e capacidade de decidir. Isto significa, diz, que não será o ministro a definir as linhas estratégicas de ação, por exemplo, da Enapor, Cabnave, da Zona Económica Especial Maritima, IMP, etc. “Significa que vocês são os responsáveis em último caso pela eficiência ou não deste sector. Os ministros mudam e este ministério já teve o ministro José Gonçalves, Paulo Veiga e agora estou eu”, pontuou Vicente, evidenciando que, quem trabalha com ele, deve saber que não costuma pedir as suas equipas que façam o melhor que conseguem fazer, mas sim o melhor que pode ser feito.
Para ele, há uma diferença colossal entre os dois conceitos. O melhor que pode ser feito, explica é o estado ideal, que exige mais esforço e empenho. O primeiro conselho do Ministério do Mar decorre ao longo do dia de hoje com a presença dos responsáveis das instituições tuteladas.