Xazé Novais enaltece nível de reconhecimento internacional alcançado pelo festival Mindelo Summer Jazz
O Mindelo Summer Jazz já atingiu tamanho reconhecimento internacional, que, segundo Xazé Novais, permite à organização contactos directos com managers de artistas do gabarito de Quincy Jones. Por esse palco, lembra o empresário e amante do jazz, já passaram músicos de altíssimo renome internacional – como são os casos de Kenny Gared, considerado o maior saxofonista da sua geração, Paco Séri, um dos melhores bateristas africanos da actualidade, ou Fred Wesley, um ícone do funkyjazz – e que, diz, cobram o caché mínimo para ajudar o evento a continuar a crescer.
“Tudo isso é fruto de um network criado pelo Mindelo Summer Jazz ao longo dos anos e que, devo enaltecer, continua a trabalhar com o seu núcleo inicial. Se trazemos esses e outros artistas para esta cidade, que clama por qualidade, é porque o nosso festival alcançou um elevado nível de reconhecimento internacional. Aqui em Cabo Verde podemos não ter esta percepção, mas a presença de músicos de gabarito mundial neste festival prova o quão somos reconhecidos lá fora”, considera Xazé Novais, que elenca ainda a presença em S. Vicente do maestro cubano Alan Perez, que encerra hoje, dia 5, o festival com o seu quinteto. Novais perspectiva, deste modo, um momento de apoteose neste segundo dia da décima edição do MSJ.
O festival arrancou ontem na Pracinha do Liceu Bedje, no centro da cidade do Mindelo, com abertura a cargo do guitarrista mindelense Vamar Martins, filho do famoso artista Vasco Martins. Uma grande responsabilidade, que Vamar soube corresponder à altura. Para o artista, foi interessante dar o pontapé de saída na décima edição do MSJ, que regressou aos palcos após paragem obrigatória nos últimos dois anos, devido a pandemia da Covid-19. E, por fatalidade, o evento é dedicado à memória da produtora cultural Samira Pereira, uma das vítimas mortais do coronavírus responsável pela doença.
“Foi para mim emotivo ver o público sem máscara facial. E espero que as coisas continuem a melhorar e sigam por este caminho”, augura Vamar, que tocou em 2019 e hoje sente que é um artista mais maduro, que aproveitou esse tempo para conhecer ainda mais o seu instrumento de eleição – a guitarra.
O artista partilhou o palco com a cantora Carmen Silva, que foi desafiada a sair da sua zona de conforto. Carmen confessa que esta é a sua primeira incursão pelo jazz, mais precisamente pelo “estilo Vamar”, um “músico contagiante” que a deixou à vontade no palco.
“Comecei pelo rock, passei um pouco pelo blues, mas este estilo do Vamar é fantástico”, confessa Carmen Medina, que espera continuar a actuar com o amigo e até já acordaram fazer um projecto a dois: Carmen escreve as letras e Vamar faz o arranjo musical.
Coube ao quarteto Prete & Bronk o segundo momento da noite, composto por músicos residentes na cidade da Praia, entre os quais o já conceituado tecladista Kally Angle. A actuação deste grupo, que muito impressionou o público, foi condimentada pela cantora Sandra Horta, que emprestou a sua voz a alguns temas.
Para Kally, porta-voz do quarteto, tocar para uma plateia sentada, focada em apreciar a qualidade dos artistas em palco traz outra sensação e responsabilidade. O artista, que diz já ser montra do MSJ, mostrou a sua disponibilidade em actuar no festival todos os anos. Para ele é uma excelente oportunidade para a sua música ser apreciada pelos chamados “monstros” do jazz. “Nem sei se tocamos jazz, essa malta da pesada é que nos deve dizer isso”, enfatiza Kally, que tem por hábito tocar estilos mais suaves, como Kizomba, e que considera o Mindelo Summer Jazz uma oportunidade para desafiar os músicos a saltar para outro patamar.
E a forma como conseguem isso, diz, é fruto, em certa medida, da capacidade dos músicos cabo-verdianos de assimilar influências vindas da África, América, Europa, Brasil e Cuba.
A primeira noite desta edição do MSJ foi encerrada pelo trio 368º, composto pelo tecladista Cheik Titiane Seck, o baixista Alune Wade e o baterista Paco Séry. Esse encontro musical termina hoje com os shows dos Tonne Afromix Band, Trio Mindelo com Gabriela e Bertânia e, por último, o maestro Alan Perez e Quinteto.