Pub.
Escolha do EditorSocial

Josiane Lopes decepcionada com “fraca” adesão à Marcha da Esperança: “Mostram indignação só nas redes sociais”

Pub.

Quinze pessoas, catorze das quais mulheres, participaram ontem à tarde na “Marcha da Esperança”, convocada para levar a sociedade mindelense a dar um basta à violência contra as mulheres e as crianças. Essa presença deixou Josiane Lopes decepcionada, apesar de valorizar e respeitar quem deu a cara.

“Somos poucos, mas poucos contam, por isso agradeço quem apareceu. Mas confesso que estava à espera de muito mais gente tendo em conta os tantos comentários de apoio a esta iniciativa nas redes sociais”, admite essa jovem.

Publicidade

Para Josiane Lopes, ficou definitivamente provada que as pessoas, em particular os jovens, não estão dispostas a lutar pelas verdadeiras causas sociais. “Mostram indignação só de boca para fora”, critica.

Mais contundente, Dilva Rocha afirma que as pessoas só querem estar no Facebook dando opiniões e palpites pensando que andam a contribuir para alguma coisa. Quando é preciso lutar, diz, a coisa muda de figura. “Só gente canhambra. Se estivesse cá um artista famoso animando o lugar isto estaria cheio. Mas, como não há…”, critica Dilva Rocha, mãe de Rosiane Monteiro, jovem que foi atingida com oito facadas pelo corpo supostamente pelo ex-namorado. Inconformada com a violência que grassa em S. Vicente, Dilva deixou claro que jamais vai permitir que as suas cinco filhas sejam molestadas por ninguém. “Enquanto estiver viva e tiver força ninguém encosta uma mão nas minhas filhas”, assegurou.

Publicidade

Palavras escutadas por Rosiane Monteiro, 23 anos, que fez um esforço para participar da marcha. Ainda com dores devido aos ferimentos, a jovem confessou à imprensa que ainda se sente emocionalmente abalada. “A coisa não está sendo fácil”, sublinha.

Apesar da fraca adesão de manifestantes, Rosiane mostrou-se satisfeita com a iniciativa. Porém, confessou que estava à espera de mais gente porque, diz, tem estado a acontecer vários casos violentos, que precisam ser travados. E as principais vítimas, realça, têm sido as mulheres e as crianças.

Publicidade

Talvez por isso só mulheres tenham comparecido à marcha. O único homem presente foi um elemento do movimento Sokols, que fez a transmissão em directo do acontecimento pelo Facebook.

Para Rosiane Monteiro, a violência grassa e as autoridades agem quando alguém grita bem alto a sua dor. No seu caso, lembra, foi preciso relatar o ataque que sofreu na TCV para o autor ser preso.

A marcha, segundo Josiane Lopes, teve por principal objectivo expor as práticas violentas contra as crianças, vítimas de violação sexual. A intenção é levar o Governo a endurecer a lei contra os pedófilos e a intensificar as ações contra os criminosos. “Se a pena fosse mais pesada certamente que não estariam a violar as nossas crianças”, considera Josiane Lopes. Segundo esta jovem, quando uma criança é abusada ou uma mulher é atacada as mulheres acabam também por sentir essa dor. Enfatiza, no entanto, que os casos de VBG provocam vítimas por todos os lados.

Na perspectiva de Josiane Lopes, as autoridades têm de desempenhar o seu papel, mas adverte que as famílias precisam também colaborar, visto que boa parte dos crimes de abuso sexual acontece dentro dos lares.

Como programado, o grupo partiu da praça Dom Luiz, passou pela Câmara de S. Vicente, o Palácio da Justiça, o Palácio do Povo e a Polícia Nacional e regressou ao ponto de partida. Os participantes foram proferindo mensagens, porém a essa hora a cidade do Mindelo estava literalmente morta.

Mostrar mais

Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo