Kiki Lima expõe “D´Rua d´Praia te Prasa Xtrela” no CCM
Está patente no Centro Cultural do Mindelo desde ontem uma exposição de pinturas do artista plástico Kiki Lima que, através dos seus quadros, leva as pessoas por um passeio desde Rua Praia até a Praça Estrela. Uma mostra instigante, que revela, uma vez mais, o olhar crítico deste artista para as questões sociais.
São 30 quadros colocados de forma estratégica para “guiar” as pessoas durante este passeio artísticos, que marca o regresso deste Kiki Lima à Rua de Praia, em direcção à emblemática Praça Estrela, depois de muitos anos de a ter musicado para memória sonora no seu álbum Chuva, conforme sintetiza. “Esta exposição é uma interpretação que faço desta zona nevrálgica da cidade do Mindelo, da Rua de Praia até Praça Estrela. Esta zona encerra, do meu ponto de vista, uma série de questões sociológicas e eu como artista procurei abordar e converter em cor”, descreve.
Kiki destaca nesta exposição o surgimento de dois elementos novos: carrinho de mão e alguidar. “São dois elementos que, a meu ver, revolucionaram o comércio ambulante em Cabo Verde. Vejo o carrinho de mão muito ligado ao desemprego jovem, portanto tem um alcance sociológico, enquanto que o alguidar vem cimentar o desaparecimento do balaio, que está em vias de extinção”, assevera, realçando o facto de hoje o balaio ser mais um objectivo decorativo.
“A serventia do alguidar vai mais além. Aguenta água, por exemplo, é mais resistente, tem cores. É mais um atrativo, que aparece no alguidar e também no carrinho de mão. Estes dois elementos trouxeram um colorido diferente para a zona da Rua de Praia e quis trazer isso para esta minha exposição”, pormenoriza, destacando ainda o facto desta zona ficar na orla marítima, que alberga ainda o mercado de peixe, daí a homenagem que faz aos pescadores.
Relativamente à Praça Estrela, Kiki Lima caracteriza este espaço como sendo de liberdade e de injustiça. Isto porque, a seu ver, permite a liberdade comercial, com características próprias. Mas, em simultâneo, é onde as pessoas que fazem este comércio enfrentam enormes dificuldades. “Praça Estrela é um lugar de contraste, que retrata toda a complexidade sociológica de São Vicente. Durante o dia tem gente de todas as classes sociais e, à noite, desaparece. É um lugar deserto. Praça Estrela é uma zona de reencontro, de convívio social, mas também, como já disse, de um enorme contraste.”
Outro aspecto focado na exposição é a fiscalização do comercio ambulante que, no entender deste artista, choca com a sobrevivência, mas também com o cumprimento da lei. Kiki Lima justifica a escolha destas temáticas com o papel social dos artistas, enquanto observadores atentos. “Temos uma ´arma`, que é uma linguagem metafórica e que nos permitem dizer muitas coisas, mas cuja interpretação fica sob responsabilidade de cada um.”
Esta exposição vai estar patente ao público até o dia 12 de Novembro.