Familiares da falecida Maria da Luz Neves estão revoltados com a Delegacia de Saúde e o Hospital Baptista de Sousa devido a decisões supostamente contraditórias tomadas por esses dois serviços e que acabaram por impedir-lhes de realizar um funeral condigno a essa ente querida. Conforme relatam a filha Lucialina da Cruz, a sobrinha Jacira Mota e a neta Nélida Soares, ficaram confusas com a forma como o HBS e a DS comunicaram com a família da malograda sobre a causa da morte e os procedimentos para o enterro, o que gerou um clima de tensão. O problema é que Maria da Luz sofreu um ataque cardíaco fulminante e acabou por testar positivo à Covid-19, mas esse aspecto não ficou claro desde o início, o que alimentou toda a polémica.
Explicam Lucialina, Jacira e Nélida que Maria da Luz, 63 anos, foi para uma festa e sentiu-se mal. Levada de urgência para o hospital chegou praticamente morta. “Tentaram reanimá-la no hospital, mas já era tarde”, diz a filha Lucialina da Cruz, assegurando que a mãe tinha problemas cardíacos e estava relativamente fraca.
Quando a causa da morte parecia claro para a família, eis que recebem um telefonema do hospital a dizer que Maria da Luz faleceu de Covid-19. Assim sendo, o corpo seria dado à terra de imediato. “Entretanto, minutos depois de recebermos esta chamada, um carro funerário trouxe-nos o corpo. O pessoal da funerária abriu o caixão para termos a oportunidade de ver a nossa mãe”, conta a filha.
À noite, quando tudo parecia estar a decorrer de forma normal, os familiares da malograda recebem outro telefonema, dizendo que Maria da Luz faleceu de Covid-19 e que o corpo seria recolhido por uma ambulância. Porém, prossegue Lucialina da Cruz, no dia seguinte de manhã recebem outro telefonema do hospital a dizer que, afinal, foi outra mulher que morreu de Covid-19, pelo que pediam desculpas pelos transtornos.
“Ficamos à espera da hora do enterro, mas, por volta do meio-dia, a Delegacia de Saúde telefona-nos a dizer que vinham buscar o corpo, para fecharmos a casa porque a minha mãe deu positivo para Covid”, prossegue Lucialina da Cruz. Segundo esta fonte, a DSSV explicou que, afinal, a pessoa faleceu de um ataque cardíaco, mas que estava infectada com o vírus da Covid-19.
Esta informação, acrescenta, foi-lhes confirmada por uma médica, ou seja, que a malograda sofreu um enfarto, mas testou positivo para Covid. “Isto provocou uma grande discussão com o pessoal aqui presente, partiram e deixaram o corpo”, assegura a citada fonte.
Entretanto, a agência funerária pediu aos familiares para arranjarem um carro para acompanhar o cortejo. Quando já estavam dentro da viatura foram informados que, afinal, poderiam seguir o funeral a pé. “Saímos da zona de Espia e fomos para o cemitério pelo caminho mais curto, sem passar pela igreja. Aliás, aquilo não foi um funeral, mas sim um autêntico cross”, comenta Jacira Mota, sobrinha da falecida.
Chegados ao cemitério, prossegue esta jovem, os familiares foram impedidos de entrar. Isto aconteceu só depois de os coveiros terem dado o corpo à terra. “Estamos indignadas porque não nos permitiram dar um enterro condigno à minha tia. Na igreja anularam a missa de corpo presente e agora impedem-nos também de fazer a missa do sétimo dia. Dizem que não podemos fazer isso porque vamos ser todos testados”, diz a jovem, que não esconde a sua revolta pelo sucedido. Aliás, para ela, a tia não tinha Covid.
“Para mim, outra pessoa morreu de Covid-19 e, como ficaram em dúvida, colocaram-nos nesta situação”, especula Jacira Mota, que promete manter a porta aberta para receberem os pêsames. A jovem deixa claro que vão fazer isso de qualquer jeito.
Lucialina da Cruz e Nélida Soares têm muitas dúvidas se Maria da Luz tinha Covid-19. Alegam que a malograda não apresentava nenhum sintoma, apesar de estar fraca por causa do problema cardíaco, e sequer uma criança com deficiência física que costumava dormir com ela. “Ninguém aqui em casa tem sintomas”, asseguram.
Morte súbita
Acerca deste caso, o Delegado de Saúde de S. Vicente confirma que a malograda era hipertensa e que foi vítima de uma paragem cardiorrespiratória enquanto estava num convívio. Logo, diz Elísio Silva, tratou-se de uma morte súbita. Só que, prossegue, um teste veio confirmar que a falecida estava também infectada com o vírus Sars-Cov-2, ou seja, Maria da Luz tinha Covid-19. “Mas isso não quer dizer que morreu de Covid-19”, explica Elísio Silva.
Este médico informa que o resultado do teste saiu já depois de o corpo ter sido preparado e enviado para a casa dos familiares. Uma vez na posse do exame laboratorial, prossegue, a Delegacia teve que acionar as medidas sanitárias. Assim sendo, informou os parentes do resultado e deu instruções para que evitassem contacto com outras pessoas e reduzissem a quantidade de presentes no funeral.
Para Elísio Silva, se os familiares resolverem manter a porta aberta e continuarem a receber os pêsames estarão a praticar uma “má conduta”. “É claro que não tenho poderes para fechar-lhes a porta da casa, mas vamos informar as autoridades competentes”, reage o DSSV, que decidiu submeter hoje todos os familiares de Maria da Luz e os contactos destes a testes de Covid-19.
Este caso promete fazer correr mais tinta, pois, segundo Lucialina da Cruz, a aliança de casamento da mãe desapareceu provavelmente no hospital. E ela promete tirar isto a limpo.