Por Américo Faria Medina
Hoje sou compulsado a fazer uma “narração” e trazer factos que gostaria que fossem outros camaradas nacionalistas, Combatentes da Liberdade da Pátria a fazerem, com mais legitimidade do que eu ! Morreu a “Mana”, um dos esteios da família Silveira, da geração d´gente que marcou São Vicente como Beleza, Manin Estrela, os irmãos Sena, Nhô Mocho…!
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Filha do nosso histórico Jon Dóia (pai do Onésimo Silveira, desportista multi-disciplinar, excelente em tudo quanto praticava, desde o boxe ao futebol, fundador do glorioso Clube Mindelense) e de Mari Bibi, a “Mamãe”, mulher generosa que chegou a ter em sua casa e mesa 24 protegidos com carácter permanente, camareira distinta dos ingleses que chamaram a si a organização very bristish do seu casamento.
Faleceu a “Mana” (!) mulher de uma beleza fantástica e um charme raro, uma grande nacionalista, correio de confiança de Amilcar Cabral que, em várias ocasiões, lhe confiou panfletos e dinheiro vivo para serem entregues em São Vicente, numa altura em que a famigerada PIDE, supervisionada pelo famígero inspetor Fonseca, estava particularmente agressiva. A rede do PAIGC tinha fixado que, quando a “Mana” desembarcava do navio no Porto Grande, com o seu grande chapéu colorido, fato cor-de-rosa e gravatinha, o charme e a beleza da “Mana” elevavam a temperatura ambiente a níveis tais que até os próprios agentes da PIDE se derretiam e as inspeções corporais eram mais “delicadas”, mais permissíveis, o que facilitava a entrada de financiamento e material para as atividades da rede local do PAIGC.
Faleceu a nossa “Mana”, uma resistente arrojada, nacionalista fantástica, mulher corajosa e inconformada que, aquando da repressão em SV e que conduziu aos confrontos na Ribeira Bote/Zona Libertada, chamou e organizou os insurgentes e foi ali, dentro do seu lar, que foram confecionados os cocktails molotofs que viriam a ser utilizados contra a tropa portuguesa; era a “Mana” quem tinha legitimidade, carisma e autoridade para sair numa porta-a-porta mobilizando os mais maduros e cautelosos (como o seu saudoso primo Luís Morais) pois que os mais jovens não iriam conseguir mobilizar e convencer a todos.
Morreu a “Mana” uma mulher fantástica, uma patriota cuja vida inspira, mas que nunca foi condecorada nem atribuída o estatuto de Combatente de Liberdade da Pátria…, pasmem! Dizem os camaradas que “…ela nunca pediu…”! Só quem a não conhecia seria capaz de pensar que a “Mana” iria um dia pegar numa folha de papel azul e formular um pedido de reconhecimento desse estatuto.
Morreu a “Mana” na mesma semana em que a Pátria por que tanto lutou e fez condecorou um tal de Umaru Sissoko Embalo com o Primeiro Grau da Ordem Amilcar Cabral.
Estou duplamente de luto, espero que um dia alguém com mais legitimidade do que eu contribua para prestarmos a honra e o reconhecimento devida à “Mana”, uma resistente brava, cujo exemplo deve servir para inspirar as gerações vindouras! Deus saberá cuidar de ti melhor do que nós partisana! Eterno descanso, para sempre nos nossos corações!