O assassinato do presidente Jovenel Moïse na quarta-feria por um grupo de mercenários deixou as haitianas Tashima e Stephany em estado de choque e a temer pela vida dos familiares e o futuro do país. A trabalhar no campus de verão da Aminga na cidade do Mindelo, as jovens têm tentado entrar em contacto com parentes, mas dizem que isso é praticamente impossível. “Fecharam a fronteira e não há comunicação nem energia”, relata Tashima, que agradeceu o suporte emocional recebido das colegas para enfrentar essa notícia.
Para ela, esse acontecimento vai aprofundar a crise política instalada no Haiti, considerado um dos países mais instáveis e pobres do mundo.
Segundo Tashima, as pessoas estão retidas em casa, com receio de novos incidentes. “Têm até medo de sair para comprar comida”, enfatiza essa jovem, que nasceu nos Estados Unidos, mas que se sente 100% haitiana. “Nascer na América foi um puro aspecto geográfico, o meu coração e o meu sangue são haitianos”, faz questão de dizer.
Tashima lembra que Jovenel Moïse já tinha sofrido um atentado antes. Porém, diz, não esperava que isso voltasse a acontecer e resultasse na sua morte e ferimento da esposa do Chefe de Estado.
Nascida nessa ilha do Caribe, Shephany também não se mostra propriamente surpresa com o assassinato do presidente, devido a crise política instalada no pais. A jovem, que emigrou para os Estados Unidos aos sete anos, mostra-se no entanto preocupada com a segurança dos haitianos, em particular dos elementos da sua família. Até agora conseguiu falar apenas com um tio que reside fora da cidade, mas não obteve grandes informações sobre a situação dos outros membros da família.
“Isto é terrível. Assim que soube do assassinato, o meu primeiro pensamento foi para a minha família. Espero que consigam abandonar a cidade e ir para as aldeias mais longínquas. Sinceramente tenho receio que as pessoas comecem a morrer de fome se esta instabilidade perdurar”, confessa Stephany.
Jovenel Moïse foi atacado por um esquadrão da morte composto por 26 colombianos, identificados pelo passaporte, e dois americanos de origem haitiana, segundo o chefe de polícia Léon Charles. Segundo Charles, 15 colombianos foram capturados, além dos dois haitianos americanos.
Vinte e quatro horas depois do assassinato brutal do presidente do Haiti o Primeiro-ministro interino Claude Joseph assumiu o poder. No entanto, a transição ocorre com pouca legitimidade. Joseph estava há três meses no cargo e não foi confirmado pelo voto do Parlamento, invalidado desde janeiro devido ao adiamento das eleições legislativas. A primeira medida do Primeiro-ministro foi decretar estado de sítio em todo o território nacional, o que reforça os poderes do executivo para realizar buscas para esclarecer a morte do presidente e os objetivos do assassinato.