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Bispo Felipe Teixeira mostra-se como Religioso. E é por esse fio que a comunidade cabo-verdiana pode apreciar sua ação*

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Por: Cídio Lopes de Almeida

(Docente e pesquisador no Brasil)

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É claro que ser liberal não é sair fazendo o que se quer. Pode-se notar facilmente que ele não se “passa por romano”. Os nomes e termos que utiliza são claros; e como já sabemos as palavras “bispo, padre e dom” não são patenteadas. E nesse quadro Felipe Teixeira é bem cuidadoso, justamente por ser isso evidente naquele contexto de cultura liberal do Estado de Massachusetts/USA.

Episocopos (επίσκοπος) é uma palavra de origem grega e que em dada altura foi traduzida para o latim como episcopus e noutra momento tornou-se o “bispo”. Em todos os casos significa um supervisor ou coordenador de uma dada coletividade e inicialmente poderia ser noutros domínios, só mais tarde tornou usual no meio eclesiástico. Havendo na atualidade o termo nas Igrejas cristãs, sejam elas Anglicanas, Ortodoxas, protestantes, evangélicas ou Católica Romana. 

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Noutro cenário, no caso dos Estados Unidos da América do Norte, vulgo “américa”, tem-se uma forte cultura protestante, que foi justamente aquele processo pelo qual, no contexto da Europa, pessoas dos mais variados posicionamentos sociais discordaram das proposições do sagrado emanadas por uma instituição. Houve uma ruptura, vulgarmente conhecida por “Protestantes”. Nesse quadro, o sagrado não era da propriedade dessa ou daquela Instituição, mas algo para além das pessoas. 

Para além das palavras, essas disputas ceifaram a vida de milhares. E da religião do “amor” passou-se às guerras fratricidas. Parte da história que devemos sempre retomar com reverência, com respeito e com muita compaixão para nunca recriarmos o mesmo cenário de intolerância. 

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Nesse cenário que aparece o caso da coletividade religiosa coordenada por Felipe Teixeira. Que em todos os momentos se insere na vida pública centrado numa Tradição Religiosa organizada no entorno de um Livro, na verdade um conjunto de livros. Parte-se notadamente do fenômeno antropológico que se articula e sistematiza dinâmicas de sociabilidades no entrono do sagrado. Portanto, para além de algo patenteado na esfera dos produtos e serviços comerciais. Feito totalmente familiar aos cidadãos dos Estados Unidos da América do Norte, habituados com o Protestantismo e com essa ideia filosófica dita “liberal”. 

Aquela roupa, aquele adereço, aquela didática ritualística, não pertencem a essa ou aquela empresa. Cuidadosamente, como podemos ler bem claro, o referido religioso indica de modo claro: Igreja Católica das Américas, suas intervenções públicas em momento algum é no sentido de indicar que é “Romano”, mas que é um “Servo de Cristo”, é um religioso, pois nas Democracias Liberais, pode-se criar seu credo religioso; pode-se vestir-se de variados jeitos.

É claro que ser liberal não é sair fazendo o que se quer. Pode-se notar facilmente que ele não se “passa por romano”. Os nomes e termos que utiliza são claros; e como já sabemos as palavras “bispo, padre e dom” não são patenteadas. E nesse quadro Felipe Teixeira é bem cuidadoso, justamente por ser isso evidente naquele contexto de cultura liberal do Estado de Massachusetts/USA. 

Ser um religioso, portanto, não depende da alcunha Romana. Nas democracias liberais pode-se, dentro de certas regras aparadas no Direito, fundar e cultivar a dimensão pessoal do sagrado. Como usar os pronomes de tratamentos que se desejar, e Dom, Padre, Bispo, Apóstolo, estão nesse cardápio de uso coletivo. 

Por outro lado, os “Romanos” se manifestam dentro de um modelo autoritário habitual. Imperialista diria os colegas da teologia da libertação, teólogo e teólogas das Améfrica Lationoiberica. E pode ser verificado essa mesma postura com as Igrejas Católicas Ortodoxas. Em especial em querelas nas quais padres “celibatários” procuram exercer seus “presbiterio”, (πρεσβύτερος – presbiteros) naquelas tradições que “permitem” padres casados. 

A Igreja Católica Apostólica Romana tem uma longa história na Europa e nas Américas. Uma história que é a história de um “povo com seu Deus” e por isso cheia de coisas ora bonitas, ora motivo de reconhecimento das limitações de todos nós. É preciso nessa altura repensar que os tempos atuais exigem dEla outra postura. Composta por humanos, precisa aprender a dialogar e que sua autoridade advenha dessa capacidade. 

Para finalizar, o fenômeno da fé opera na lógica da convicção, eu mesmo tenho profunda estima por essa tradição.  Contudo, a lógica de Aristóteles (científica) ou mesmo a lógica do gosto (Kant) não são suficientes para justificar o fenômeno religioso. Nesse quadro, retomo uma ideia do teólogo José Maria Castillo (Jesus, humanização de Deus. Petrópolis: Vozes, 2015. 604 p.). O que nos importa no fenômeno religioso cristão é que certas ações por sua natureza nos convença de que ela carrega algo de bom. Nessa estrutura é que eu me fio para sentir-me na presença de algo cristão ou não e é por essa natureza que eu me filio a esse ou aquele coletivo.

Valendo-me disso é que posso rememorar na minha biografia várias ações que foram “cristicas” no sei do Catolicismo Romano. E por esse meio é que também posso dizer que Felipe Teixeira mostra-se como Religioso. E é por esse fio que a comunidade cabo-verdiana pode apreciar sua ação. Que é sempre clara, não é um “prelado” romano, mas um religioso imbuído de Cristo. O foco não é um projeto de “romanização”, mas solidariedade. Façam suas apreciações sob essa chave; dirijam-se a ele sob essa ótica, certamente na sua humidade esse estará sempre a ouvi-los. Sendo que a essa altura o foco de sua visita à Cabo Verde nem mesmo é a figura pessoal dele, mas algo centrado na provocação de um debate democrático e humanitário. 

*Titulo da autoria da redação

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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