O músico norte-americano Teddy Riley, co-produtor do álbum Dangerous de Michael Jackson, é uma das figuras de proa que estará presente na inauguração do Floating Music Hub, na cidade do Mindelo, daqui a aproximadamente três meses. Segundo o empresário Samba Bathily, o famoso artista chegará dias antes para analisar projectos de formação de jovens artistas e produtores africanos. Nesta entrevista, Bathily nega rumores sobre a vinda da cantora Beyoncé para a cerimónia de lançamento do estúdio de gravação, mas realça que o envolvimento de Teddy Riley será o elo do estúdio flutuante com um vasto leque de artistas de renome mundial. “Podemos trazer cá quem quisermos”, enfatiza o empresário.
Mindel Insite – Qual o ponto de situação dos projectos que tem em S. Vicente?
Samba Bathily – Como sabe, o primeiro projecto que me engajei foi o Floating Music Hub. Já terminamos 90 por cento da obra, falta a chegada dos equipamentos dos EUA daqui a dois meses e penso que daqui a 3 meses vamos inaugurar o estúdio. Esta estrutura já começa a despertar a atenção internacional, tendo sido considerada uma das obras transformadoras definidas para moldar o mundo em 2021, segundo reportagem da CNN Style.
MI – Quem serão as personalidades que estarão presentes na cerimónia?
SB – Estarão cá produtores de vários países africanos, dos EUA, da Europa…
MI – Soubemos que há a possibilidade de Byoncé vir para a inauguração. Confirma?
SB – Byoncé não será agora, mas teremos cá Teddy Riley, um grande produtor norte-americano que já trabalhou com Michael Jackson. Ele chegará antes da inauguração e vamos discutir ideias de projectos de formação para jovens artistas e produtores africanos. Haverá parcerias com artistas locais e internacionais. Repare que a ideia do estúdio flutuante é servir de ponte entre a África, a diáspora africana e o resto do mundo. Para mim é um ponto de encontro.
MI – Gostaria que nos esclarecesse se houve algum contacto para a vinda de Byoncé.
SB – Ainda não foi fizemos nenhum contacto com ela, mas tenho acesso a pessoas que podem fazer isso, se for preciso. Podemos trazer cá quem quisermos. O envolvimento de Riley será o elo entre o estúdio e um vasto leque de artistas de renome mundial. Estamos a falar de um músico que já produziu álbuns com Michael Jackson e Bobby Brown, enfim trabalha com grandes artistas. Ter alguém do seu gabarito aqui em S. Vicente é a porta de acesso a um vasto mundo porque ele é um excelente profissional.
MI – Daqui a três meses pode acontecer a inaguração do estúdio. E o que vem a seguir?
SB – A cada mês o estúdio vai acolher um artista, que vai produzir e fazer intercâmbio com locais. Ele terá de encerrar o seu programa com um concerto no nosso espaço. Além disso, uma vez lançado o seu trabalho discográfico, Mindelo será o primeiro palco onde vai actuar. Teremos também todos os meses uma exposição de um artística africano. Pretendemos, no entanto, trazer cá talentos de todo o globo.
MI – O que o levou a apostar em Cabo Verde?
SB – Quando cheguei a este país pela primeira em 2016, fui conhecer a Cidade Velha e, estando lá, vi que era o ponto de não retorno. Mas, ao visitar a cidade do Mindelo vi logo que era o espaço mais indicado para os projectos que tinha em mente pelas suas características, a sua localização, a presença desta baía extraordinária, considerada uma das mais belas do mundo, da riqueza cultural do seu povo, e decidi fazer o estúdio aqui. Este empreendimento será um “hub” para ligar toda a gente. Por isso em 2019 trouxe cá 170 personalidades, como criadores de moda africana, artistas do mundo da músia e do cinema. Trazer esse grupo custou 800 mil dólares. Pagamos todos os bilhetes e a estadia. E esse evento permitiu-me discutir ideias com Kunlê, o produtor do filme Citation, que hoje está na plataforma da Netflix. Nessa altura decidi trazer o filme, que fala de Cabo Verde, do Senegal, da Nigéria, enfim mostra um lado multicultural de vários países.
MI – Os seus projectos dão um enfoque muito particular à cultura. Aonde pretende chegar com esta aposta?
SB – Uma das razões que nos levou a pensar no hub na baía do Porto Grande tem a ver com a dimensão cultural que Mindelo tem em comparação às outras ilhas, assim como a África tem em relação aos outros continentes. A África possui uma cultura tão rica e variada e hoje a cultura já não pode mais ser vista como divertimento. É uma economia. Se reparar, a indústria da cultura na América é mais pujante que a dos transportes; maior que todas as outras indústrias.
MI – Quais são os eventos culturais em S. Vicente que podem atrair a atenção de visitantes e artistas de outras paragens?
SB – Da última vez que dei uma entrevista ao Mindelinsite eu afirmei sem pestanejar que Mindelo pode ser o Mónaco da África, o Miami e Las Vegas da África, a Ibiza da África…, enfim, tudo isso pode ser feito aqui. É preciso que as autoridades locais e nacionais compreendam isso, que tenhamos uma visão clara e consensual. S. Vicente tem, no entanto, uma vantagem comparativa em relação a essas referências. Basta ver que Mónaco e Ibiza não têm uma temperatura estável como a do Mindelo.
Aqui, a media anual é de 25 graus, pelo que podemos fazer turismo ao longo do ano. Outra grande vantagem desta urbe é a segurança. Vi uma reportagem que dizia que Mindelo é das cidades mais seguras do mundo, estando nesse quesito à frente de certas vilas europeias. Vamos então pegar nestas vantagens e devolver a capacidade humana. Se quisermos um turismo de luxo, o segmento que escolhemos, precisamos de serviços de qualidade.
MI – Como estima o impacto económico dos investimentos que tem para S. Vicente?
SB – Este impacto é imensurável, a partir do momento em que trouxermos cá artistas com 5 milhões de seguidores nas redes sociais e jornalistas das grandes cadeias de informação e entretenimento, Cabo Verde vai estar no mapa mundial. Haverá muitos retornos. Precisamos colocar em prática um plano no quadro de um diálogo concertado entre o sector privado, o governo local e o central, as ONG’s, os centros de formação, enfim todas as pessoas e instituições, e fazer um plano de curto, médio e longo termo de desenvolvimento desta ilha e do país. Curto prazo para mim são 3 anos, médio prazo será de 5 anos e longo será de 10 anos. Mónaco chegou onde está com um plano bem delineado. Se trabalharmos num plano de 10 anos podemos transformar esta ilha.
Repare que na África, quando temos dinheiro, os nossos filhos vão estudar na Europa e na América; quando temos dinheiro queremos ir passar férias e gastar o nosso dinheiro nesses destinos…; tudo bem, nada de grave, mas é preciso que uma boa parte dessa riqueza fique na África. Isto é uma questão de segurança nacional.
MI – Fala de um trabalho sistemático, mas como tirar proveito da África?
SB – A África tem uma população estimada em 1 bilião e 300 milhões de indivíduos. Se conquistarmos apenas 1 por cento deste grande mercado, atrair africanos para virem visitar esta terra, será explêndido. Temos de explorar o turismo cá dentro do nosso continente. Cada ação dos africanos deve beneficiar o nosso continente e o nosso povo. Repare que na África, quando temos dinheiro, os nossos filhos vão estudar na Europa e na América; quando temos dinheiro queremos ir passar férias e gastar o nosso dinheiro nesses destinos…; tudo bem, nada de grave, mas é preciso que uma boa parte dessa riqueza fique na África. Isto é uma questão de segurança nacional.
Se continuarmos a agir dessa forma não iremos criar emprego nos nossos países. Sem emprego surgem os descontentamentos sociais e as manifestações e a instabilidade política. Enfim, há muita reflexão a ser feita, no interesse da África e do mundo. A África, é bom estarmos cientes disso, é o continente mais próspero do mundo pela sua geografia e rica história.
MI – Tem estabelecido contacto com a CMSV sobre os projectos?
SB – Sim, já tive encontro com o presidente da CMSV e falamos sobre os projectos que estou desenvolvendo nesta cidade. Eu sou uma pessoa muito aberta, posso falar com gente de toda a proveniência, seja uma pessoa que vive na rua, um representante da municipalidade ou do governo…; venho cá há quatro anos e não tenho protocolo. Será discutindo com toda a gente que vamos adiante. Quem tiver boas ideias vamos falar e ver. Quero colocar em prática um conceito onde todo aquele que tenha uma visão do Mindelo a médio/longo prazo possa falar da sua perspectiva. Podemos fazer encontros a cada seis meses e ver como as coisas vão se engajando porque, volto a dizer, Mindelo será o Mónaco da África daqui a 10 anos.