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Descaradamente falsificado o processo contra Amadeu Oliveira

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Por: Grupo de Apoio à Defesa de Amadeu Oliveira

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Depois de ter sido suspenso no dia 10 de Março passado, prevê-se um ambiente de alta tensão esta segunda-feira, próximo dia 15, quando for retomado o mediático julgamento de Amadeu Oliveira, acusado de ter cometido 14 crimes contra a honra e o bom nome de alguns juizes do Supremo Tribunal de Justiça. O arguido já fez saber que não aceita outros defensores oficiosos impostos pela juiza Ivanilda Mascarenhas Varela em substituição da sua equipa de defesa – que saiu do processo na última quarta-feira, 10 de Março. O novo Defensor nomeado pelo Tribunal, Edmilson Semedo Silva, advogado estagiário indicado pela Ordem dos Advogados também recusara assumir o processo, alegando ser de grande complexidade, mormente por conter mais de 1400 páginas.

A juiza Ivanilda Varela, pela forma como obrigou o jovem advogado a ficar com o caso – mesmo após a recusa deste -, deverá, para já, mostrar coerência e manter a sua posição.

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Mas, mais do que esse confronto referente à nomeação de defensor oficioso, é de se prever também que Amadeu Oliveira vá insistir no requerimento inicial onde denuncou fortes indícios de fraude no seu processo de julgamento, relacionado com a escolha do Juiz Natural da causa, uma surpreendente bomba que lançou na audiência de quarta-feira, 10, e que causou alvoroço em sede do julgamento, resultando, em catadupa, a detenção do arguido, a saída da sua equipa de defesa e a nomeação de um novo defensor oficioso, contra a vontade do próprio jovem advogado e do arguido.

A descarada fraude

De facto, da consulta do livro de distribuição de processos na secretaria do Tribunal da Comarca da Praia, a defesa de Amadeu Oliveira descobriu que há fortes indícios de ter havido fraude e manipulação no processo.

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Na imagem em baixo, por exemplo, o leitor pode reparar que, pelo carimbo da Secretaria Central do Tribunal da Praia, o processo, vindo da Procuradoria da República, deu entrada no Tribunal da Praia no dia 22 de Novembro de 2018. Tendo em conta que no Tribunal da Praia existem 3 Juízos com competência para julgar processos ordinários, como é o caso, a escolho de qual Juiz que deve fazer a tramitação do processo tem de ser feita através de sorteio entre o 1º, 2º e 3º Juízos-Crime.

Inicialmente, feita a distribuição por sorteio, o processo caiu no 2º juizo-crime, mas, ao que tudo indica, posteriormente terá sido adulterado à mão, de forma visível e tosca, o númerio 2 referente ao 2º juizo crime para um confuso número 3 de 3º juizo-crime, o que constitui uma violação do Direito Fundamental do arguido a ser julgado pelo Juiz Natural da Causa, conforme disposto no nº10 do Artigo 35º da Constituição da República.

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Esta presumível fraude atinge novo patamar de ilegalidade quando se constata que no Livro de Distribuição de Processos as inscrições iniciais foram adulteradas (ver imagem em baixo), com recurso a corrector de tinta branca para camuflar o resultado inicial do sorteio.

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O caricato nesta estória é que Amadeu Oliveira está a ser julgado por afirmar que há juizes que inserem falsidades nos processos, manipulam provas etc. e o seu próprio processo terá sido elaborado com base em fraudes e ilegalidades.

Gato escondido com rabo de fora

As imagens  que agora são publicadas evidenciam não só adulterações toscas no livro de distribuição de processos como demonstram também a adulteração do 2º juizo-crime para 3º juizo-crime, além do extemporâneo e ilegal despacho proferido pelo anterior juiz, Alcides Andrade, datado um mês antes (28 de Outubro de 2018) de o dossier lhe chegar às mãos, no 3º juizo, o que só viria a acontecer no dia 23 de Novembro de 2018.

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A questão que se coloca é como explicar que tenha havido um despacho judicial um mês antes do processo ser remetido da Procuradoria da República para o Tribunal.

Inicialmente, a Defesa de Oliveira supunha que se tratou de um mero lapso de escrita em que o Juiz foi colocar uma determinada data e terá colocado outro mês, porém, com as novas imagens, comprovando adulterações no processo e no livro de destribuição, Oliveira passou a denunciar este incidente como mais um exemplo de fraude processual, em que os agentes do Sistema Judicial escolhem a dedo um determinado juiz que lhes interessa para entregar um deteriminado processo, conforme forem os interesses ou conveniências de cada qual.

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Colocados perante essa situação, e estando já instalada a dúvida sobre a transparência e regularidade da distribuição do processo, outra alternativa não restará a não ser anular todo o processado até ao presente momento e fazer uma nova distribuição do processo, devendo ser reiniciado o julgamento perante o Juiz Natural que sair do sorteio. Daí que Oliveira não aceita continuar a ser julgado nem pelo 3º Juízo-Crime, nem pela Juiza do 4º Juízo-Crime, em regime de susbtituição daquele, para não se correr o risco de se perder tempo e energia num julgamento que pode vir a ser declarado nulo mais à frente, em sede de eventuais recursos que se vier a interpor da sentença proferida pela Juiza Ivanilda Varela.

Acto de propaganda

Só que a Juiza Ivanilda Varela não aceita que tal denúncia seja lavrada em acta e insiste em levar o julgamento até ao fim. Reagindo a essa posição, Oliveira acusa os operadores do Sistema Judicial de quererem realizar um “Golpe de Propaganda Judicial”, proferindo uma sentença a lhe condenar a uns 5 anos de prisão efectiva, mesmo estando eles conscientes da nulidade de todo o processado, só para poderem produzir manchetes e destaques na comunicação social, numa narrativa de que Amadeu Oliveira é um advogado irresponsável que acusa juízes e depois não consegue fazer prova das suas denúncias”.

“É por isso que estão com muita pressa em proferir uma sentença tão nula como falaciosa, só para enganar o Povo e salvar a face podre do sistema judicial actualmente implantado em Cabo Verde, por obra e desgraça dos dois partidos maioritários, ou seja, MpD e PAICV, que continuam assistindo toda essa podridão sem esboçar um único gesto de defesa do Estado de Direito Democrático”, observa.

É por esse motivo que o ex-deputado, ex-magistrado e actual prémio Camões, Germano Almeida, acompanhado por 70 outras entidades nacionais de reconhecido mérito cívico, já advertiu de que somente uma comissão independente e não os outros Magistrados deveriam averiguar a veracidade ou não das denúncias que vinham sendo feitas pelo falecido advogado Felisberto Vieira Lopes e que agora tem sido ampliadas pelo advogado e arguido Amadeu Oliveira.

Crónica de uma detenção anunciada

Nesse quadro acima descrito, caso Oliveira mantiver insistindo em ditar para a acta as suas denúncias de fraude processual por manipulação na escolha do juiz natural do seu processo, e caso a Juíza Ivanilda Varela insistir em impedir que tal se faça, então, o mais provavel é que Oliveira receba ordens de detenção novamente.

Uma outra questão cabeluda que se coloca é saber como vai agir o novo defensor oficioso, o advogado estagiário Edmilson Semedo Silva, nomeado na sequência da saída das duas outras anteriores defensoras, tendo em conta que o mesmo tinha recusado assumir o processo, mas a Juiza declarou que se tratava de uma decisão judicial que tinha de ser acatada, independentemente da escolha do arguido ou da vontade do defensor nomeado.

Recorde-se que, no dia 09 de Março, em pleno julgamento, ocorreu uma altercação em decorrência de Oliveira querer fazer constar da acta de julgamento que tinha recebido informações dando conta de que o processo-crime instaurado por determinados juizes do Supremo Tribunal de Justiça contra si tinha sido manipulado de modo a ser entregue a um Juiz que, supostamente, mais agrada ao sistema e não ao Juiz Natural do processo, que só poderia ter sido escolhido por sorteio, visto que na Comarca da Praia havia 3 juízes com competência para tramitar o caso – 1º, 2º e 3º Juizos-crime.

Quando é assim, o Juiz Natural do processo é escolhido por sorteio, ficando esse procedimento registado em Livro e nas folhas do próprio processo. No dia 09 de Março, Oliveira entrou no julgamento alegando que tinha acabado de receber informações de um funcionário da justiça, garantindo que o processo de escolha do Juiz tinha sido viciado desde o início, Novembro de 2018, quando o processo caiu no 2º Juízo-Crime, por sorteio, mas que, posteriormente, o número 2 foi adulterado, passando a contar o número 3, ficando visível a olho nú a rasura resultante dessa adulteração e que tinha sido passado tinta correctora no Livro de Distribuição, em tentativa de ocultação dessa presumível fraude.

Só que a Juiza Ivanilda Varela não permitiu que a Defesa de Oliveira fizesse constar da acta de julgamento tal denúncia, remetendo essa possibilidade só para o fim do julgamento, o que esteve na origem de uma forte e feia altercação entre a Juíza e o arguido, posto que este não aceitou continuar a ser julgado, enquanto as suas denúncias não fossem reduzidas a escrito e vertidas em acta, o que não foi permitido pela Juíza que, perante o impasse criado, decretou a detenção do arguido. De repente, 4 agentes policiais do grupo especial de intervenção inromperam adentro da sala de audiências, neutralizaram o arguido, suspenderam-nos pelas pernas e pelos braços e foram depositá-lo na cela prisional existente dentro do edifício do tribunal. Com isso, as duas defensoras oficiosas, Zuleica Cruz e Ema Gomes, abandonaram a sala.

Fiscal da legalidade

A ter de prosseguir, a audiência de julgamento irá começar com a mesma polémica que originou, no fundo, a sua suspensão e adiamenteo para esta segunda-feira: denúncias de fraude no processo de Amadeu Oliveira que o arguido quer fazer constar da Acta logo no imediato e que a juiza rejeitou, propondo que as denuncias fossem apresentadas em separado, como apenso, ou então no final de todo o julgamento.

Resta saber qual vai ser a posição do representante do Ministério Público, o Procurador da República Carlos Gomes que, a esse propósito, não se opôs à proposta do arguido e até sugeriu que Amadeu Oliveira e a sua equipa de defesa apresentassem provas para que essas denúncias sejam investigadas, reconhecendo que, devido a sua gravidade, podem comprometer todo o julgamento.

Agora, com as provas ora disponibilizadas, forçoso se torna uma tomada de posição por parte do Ministério Público, sob pena de deixar dúvidas sobre o seu zelo e integridade na força como tem posicionado no decurso do processo, na sua qualidade de Fiscal da Legalidade.

Tudo isso e muito mais a ser seguido nas cenas dos próximos capítulos.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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