Está patente na Alliance Francaise de Mindelo até o dia 11 de março uma exposição de obras artísticas confeccionadas pela ex-emigrante Solange Santos a partir de materiais desperdiçados, conchas e búzios. Intitulada Tesouros do Mar, a mostra reflete a relação da autora com o oceano mas, por outro lado, resulta da falta de comunicação humana, como a própria reconhece. “A tendência para fazer arte advém da falta de contacto humano. Andamos muito fechados em nós mesmos, sem dar carinho ao outro. Em vez de pedir atenção e carinho dos outros convivo e converso com as minhas obras. Elas dão-me tudo”, descreve Solange Santos, mais tratada por Sol.
Residente na aldeia piscatória de S. Pedro, é nessa praia onde recolhe boa parte da matéria-prima: pedaços de madeira transportadas pelas ondas, búzios, conchas e outros objectos decorativos que encontra ao acaso nas suas caminhadas matinais.
“Vivi na Itália e regressei a Cabo Verde no dia 14 de fevereiro do ano passado. Cheguei com o ritmo de vida da região metropolitana onde residia e quis mantê-lo. Assim, comecei a levantar-me às cinco e meia e fazer caminhadas. Ía encontrando coisas pelo caminho e era como se comunicassem comigo. Havia uma energia positiva, apanhava esses objectos e levava para casa”, conta. Uma vez em casa, nascia uma peça de arte. “Era como se me dissessem como os usar.”
Por saberem da sua paixão, crianças da aldeia costumavam levar-lhe objectos que encontravam na rua. Um dia, Solange resolveu abrir a garagem da sua casa e mostrar aos amiguinhos o resultado do seu trabalho. Nascia “Sol ‘art Atelier”, um espaço aberto ao público, mas apenas como montra.
Agora, por incentivo dos amigos Didier, Jaqueline Senna e Milanka, resolveu fazer a sua primeira exposição, que acontece na Alliance Française do Mindelo. Pela primeira vez também está a vender os seus trabalhos. “Não vou vender quadros, mas sim emoções”, faz questão de frisar.
Formada em culinária, Solange Santos, 39 anos, aproveitou a inauguração para promover a degustação de uma série de licores de fabrico artesanal. O curioso é que, como confessa essa antiga proprietária de um bar, chegou a ter uma péssima relação com o álcool. Por conta disso contraiu um quadro depressivo.
“Já tive problemas com o consumo de álcool que me levaram à depressão, mas quero enfatizar que não é o álcool que nos bebe, mas sim o contrário. E quero que os meus licores sejam uma experiência diria alimentar e não que sejam vistos apenas como bebidas alcoólicas. Quero que sejam a companhia para um momento de descontração”, enfatiza Solange Santos, que levou para a exposição licores de nutella, côco, café, baileys caseiro e crema limoncello.
As obras de Solange Santos têm fundamentalmente estilos rústicos. Foram produzidas entre Abril de 2020 e Fevereiro deste ano. A sua intenção é dar uma nova vida a objectos que, de outro modo, seriam descartados na natureza como lixo.