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Carnaval

Crónica: Mindelenses revivem outros carnavais para preencher vazio

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Este ano continua a surpreender pela negativa por causa da pandemia da Covid-19. Hoje, terça-feira de Carnaval, as ruas da cidade do Mindelo estão desertas, com exceção de algumas viaturas e poucas pessoas nos afazeres quotidianos. O coração da cidade não bate ao ritmo da batucada, o brilho das plumas e purpurina foi substituído por um friozinho irritante que acentua a tristeza dos sanvicentinos. A magia típica do Carnaval quase que desapareceu. Quase porque por estes dias alguns criativos resolveram suplantar as limitações impostas pela Covid-19.

Para tentar driblar esta tristeza e apatia algumas pessoas estão por estes dias a reviver momentos marcantes de outros carnavais nesta ilha que vive a festa do Rei Momo com paixão e entrega, como se não houvesse um amanhã. É assim que, desde sexta-feira, dia que começam os desfiles das escolas e jardins de infância, as redes sociais estão inundadas de fotografias e vídeos para não deixar passar em branco esta marca cultural mindelense que, em tempos de pandemia da Covid-19, fez S. Vicente perder a sua alegria.

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São os poucos sinais do Carnaval nesta terça-feira gorda em que, por esta altura, as ruas de Morada estariam cortadas ao trânsito, as bancadas do sambódromo montadas e, nos estaleiros, os grupos estariam a dar os retoques finais nos andores e adereços das figuras de destaque. “É uma forma singela de reviver esta festa grandiosa. Este ano, infelizmente, não temos Carnaval nas ruas, mas vamos partilhando as fotos para lembrar, na esperança de, no próximo ano, voltarmos em força”, diz Sílvia Delgado.

Albertina Ferreira, que também normalmente vive o Carnaval intensamente, segue a mesma lógica. No seu caso, tem vindo a divulgar imagens dos desfiles desde muito jovem até agora, destacando, paralelamente, grandes nomes do Carnaval de S. Vicente, caso por exemplo de Nho Goy e Moacyr Rodrigues. “É triste porque não temos Carnaval mas, com a divulgação destas fotos, revivemos e recordamos os muitos carnavais que participamos”.

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Quem não quis deixar os seus créditos por mãos alheias foi o grupo Vindos do Oriente. Desde sábado, as montras das lojas no trajeto onde acontecem os desfiles exibem alguns trajes carnavalescos das suas figuras de destaque para sinalizar a data e permitir as pessoas apreciarem “estas obras de arte”. Ciente de que o momento é especial, a direcçao do grupo apela as pessoas para não se aglomerarem nas montras.

Ontem, segunda-feira, a Escola de Samba Tropical promoveu um live com testemunhos de integrantes de o grupo sobre os seus “monumentais desfiles”.

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Em Fonte Felipe, numa iniciativa inédita, os jovens Paulo Silva Almeida e Niss Aguiar, também eles conhecidos por sua paixão pela festa do Rei Momo, promoveram um “Carnaval de Bonecas”. Um trabalho muito criativo e que despertou a atenção dos mindelenses e não só que tem vindo a partilhar as fotografias da exposição nas redes sociais com rasgados elogios. Até a próxima quarta-feira este trabalho vai estar exposto no CCM.

Já nos bairros periféricos são as músicas de outros épocas que animam as pessoas em casas ou com caixas de ons giTudo para que esta festa, que envolve milhares de sanvicentinos, desde artistas, tocadores, costureiras e figurantes, não fique totalmente refém da Covid-19.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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