Por: Gláucia Nogueira
A Simabô – Associação para a Proteção dos Animais e do Ambiente -, nascida em 2008 por iniciativa do casal Paolo Manzoni e Silvia Punzo, surgiu da surpresa e desagrado de ambos com a situação de fome, doença e abandono que verificaram na população de animais de rua do Mindelo, ao chegarem à cidade pela primeira vez. Gatos e gatas a sobreviverem de restos em decomposição ao redor do mercado de peixe, reproduzindo-se ao sabor das suas hormonas, sem qualquer atenção humana; filhotes encontrados em contentores de lixo; cães numa existência miserável de fome, sarna e vermes; animais atropelados e abandonados em plena rua até que a morte os viesse salvar do sofrimento…
Isso tudo chocou os dois italianos. Então, com base apenas na compaixão e no impulso de proteger quem precisava de proteção, um e outro animal foram levados para casa, onde a partir de certa altura já eram em quantidade excessiva. E também os custos com alimentação, medicamentos, produtos de limpeza e outros materiais passaram a ser bem maiores do que os de uma família sem tantos “hóspedes”. Surgiu então a Simabô, alojando-os inicialmente numa pequena casa no bairro de Alto Solarino, iniciando as suas campanhas de castração e desparasitação, tratando de feridos e doentes, fazendo palestras para sensibilizar as crianças e também os adultos… De lá para cá, foram muitos os desafios, dificuldades, contratempos, mas também vitórias.
Nesses 12 anos, muito se fez pelos animais e pelas pessoas em São Vicente: um censo da população de cães da ilha permitiu saber exatamente, cientificamente, com o que se tinha de lidar; mais de 10 mil cães/cadelas foram esterilizados, assim como cerca de 3000 gatos/gatas; garantiu-se tratamento para milhares de animais doentes ou acidentados que não teriam qualquer cuidado se não fosse a existência da Simabô.
/ Nesses 12 anos, muito se fez pelos animais e pelas pessoas em São Vicente: um censo da população de cães da ilha permitiu saber exatamente, cientificamente, com o que se tinha de lidar; mais de 10 mil cães/cadelas foram esterilizados, assim como cerca de 3000 gatos/gatas…
Um dos principais resultados do trabalho desta associação foi o facto de que deixaram de vir ao mundo, e mais especificamente à cidade do Mindelo e à ilha de São Vicente, milhares de pequenas criaturas que, se nascessem, só iriam conhecer sofrimentos que não mereceriam, debaixo da indiferença de muita gente que os desprezaria, a quem provocariam asco. Pessoas que, apesar do seu desagrado, nunca moveriam um dedo para tentar mudar a situação – nem a situação de sofrimento do animal desamparado, nem a situação precária da higiene pública que a todos afeta. Só por isso, o trabalho da Simabô já é um grande feito.
Mas não é só nessa questão prática, que se pode contabilizar, que a situação mudou desde 2008, quando Silva e Paolo decidiram criar a Simabô. É, também, no que diz respeito ao seu exemplo. O exemplo do amor e da compaixão, e da capacidade e vontade de pôr mãos à obra e agir para concretizar as ideias, os sentimentos. Esse exemplo teve frutos importantes, como o de atrair pessoas que também tinham sentimentos de amor e compaixão e se uniram ao projeto tornando-se militantes dessa causa. Outras aprenderam aí uma profissão, e hoje ocupam 16 postos de trabalho criados para assegurar o funcionamento quotidiano da associação. Alinharam pela filosofia do projeto e garantem o seu desenvolvimento e êxito, o que nunca iria acontecer sem a sua participação.
/ que certo é ter empatia pelos outros seres, sejam eles pessoas ou animais, sobretudo pelos mais vulneráveis; que temos de agir com ética face aos que nos estão próximos.
O trabalho da Simabô teve também um efeito educativo, ao mostrar que certas coisas são inadmissíveis; que a indiferença face ao sofrimento é errada; que certo é ter empatia pelos outros seres, sejam eles pessoas ou animais, sobretudo pelos mais vulneráveis; que temos de agir com ética face aos que nos estão próximos. Até porque, no que diz respeito a prazeres, alegrias, dores e agonias, os animais são sima nos, sima bo. Mostrar que não devemos fazer aos outros o que não queremos que nos façam, e que devemos agir com os outros como esperamos que ajam connosco, é um grande ensinamento.
Dá muito trabalho manter a funcionar uma associação como a Simabô: cuidar, alimentar, limpar, levar, trazer, gerir, conseguir recursos, obter doações, lidar com burocracias, questões legais, financeiras, laborais, etc., etc. E o que tem sido feito tem sido bem feito, com honestidade e eficiência, conquistando o respeito por parte de instituições e de interlocutores nacionais e estrangeiros. Os voluntários sucedem-se continuamente, vindos de vários países, porque os que vieram passaram a palavra sobre o que é dedicar-se a sério a uma causa. Por isso, o trabalho da Simabô merece todo o respeito e apoio.
E por falar em respeito e apoio, lembrando que o momento é de eleições municipais, é hora de refletir: o que propôs o seu candidato preferido para o bem-estar dos animais, das pessoas e do ambiente?
Voluntária da Simabô desde 2010 e membro da direção desde 2016