Um jurista ligado ao processo de Alex Saab negou taxativamente que o empresário venezuelano detido em Cabo Verde a pedido dos Estados Unidos tenha despedido os advogados que andam a trabalhar na sua defesa. A informação foi relatada pelo canal televisivo venezuelano Social News, segundo o qual Saab teve um ataque de ira e frustração e chamou de ineptos aos advogados, antes de os despedir. “São uns ineptos”, gritou Saab, conforme a “Social News”, que cita uma fonte “familiarizada” com a cena. O mesmo órgão ironiza que talvez Alex Saab tenha sofrido um ataque de nervos devido aos mosquitos e formigas na sua cela na cadeia do Sal ou então se sentiu frustrado por não poder corromper nem o Governo nem a Justiça cabo-verdiana com a sua fortuna.
Segundo o jurista, a informação é tão falsa que ontem essa mesma equipa de advogados, que passou a integrar três especialistas de um gabinete estabelecido na Inglaterra, meteu no Tribunal da Relação de Barlavento a contestação à medida administrativa de extradição de Alex Saab, determinada pela ministra da Justiça Janine Lélis. “Esta medida é apenas administrativa, não vincula a Justiça”, salienta esse advogado de Alex Saab, que fez questão de frisar que o empresário venezuelano-colombiano está claramente satisfeito com o desempenho da defesa. Isto apesar das dificuldades que os juristas têm enfrentado para manter encontros com ele na cadeia do Sal, para onde foi transferido – depois de ter sido enviado para a penitenciária da Ribeirinha, em S. Vicente – por alegadas razões de segurança.
Essa operação levantou, no entanto, uma nuvem de suspeição. A própria defesa viu essa manobra como sinal de que os estados Unidos estavam a se adiantar ao processo de extradição desse empresário visto como testa-de-ferro do presidente venezuelano Nicolás Maduro e suposto autor de crimes de corrupção e lavagem de dinheiro na América. Uma suspeita que acabou por ganhar mais força com a decisão administrativa da ministra Janine Lélis de dar o aval ao pedido de extradição de Alex Saab, para ser julgado nos Estados Unidos. A medida, que era aguardada, teve suporte num parecer da Procuradoria-Geral da República sobre o caso e conclui a fase administrativa. A próxima etapa é a judicial.
Segundo o jurista abordado pelo Mindelinsite, a defesa de Saab tinha até ontem para apresentar a sua contestação ao Tribunal de Relação do Barlavento e conseguiu cumprir o prazo. Para o feito, os advogados cabo-verdianos contaram com o apoio de três colegas de profissão ligados a um gabinete de advocacia na Inglaterra e que ainda se encontram em S. Vicente. “A defesa está a fazer o seu trabalho e, como é sabido, o caso será enviado a instâncias internacionais, como o Tribunal Internacional de Justiça”, refere esse jurista, que solicitou o anonimato, ao mesmo tempo que confirmou a contratação do ex-juiz espanhol Baltasar Garzón para reforçar a defesa de Saab, agora a trabalhar na advocacia, o que revela a amplitude desse caso, que coloca em confronto directo a Venezuela e os Estados Unidos, com Cabo Verde pelo meio.
Em termos políticos, Cabo Verde já revelou a sua posição ao aceitar prender Alex Saab no aeroporto do Sal no dia 12 de Junho e autorizar a extradição do suspeito. Aliás, a decisão assinada por Janine Lélis levou o referido canal televisivo a emitir uma peça na qual apresenta a ministra cabo-verdiana como uma mulher que administra o sector da Justiça com pulso de ferro, em Cabo Verde.
Apesar disso, a defesa de Alex Saab mostra-se confiante na independência do sistema judicial cabo-verdiano. A expectativa é que os juízes tenham em conta as razões por trás da prisão de Alex Saab, que consideram ser ilegal.