O ex-Presidente da República Pedro Pires disse numa carta aberta endereçada aos médicos e enfermeiros cabo-verdianos estar ciente de que vão sair desta “prova de fogo” muito melhores quer do ponto de vista humano, quer profissional. Na missiva publicada no website do Instituto com o seu nome, Pires enfatiza que todos vão conseguir ganhar esta enorme luta sanitária, uma das maiores da vida de Cabo Verde enquanto nação.
“Confesso que nunca pensei que pudesse conhecer uma situação dessas. Estava convencido de que as coisas piores por que passei eram um passado longínquo. Não se repetiriam. Vejo que foi uma esperança crédula e ingénua, porquanto, ao que tudo indica, não existe um percurso de vida perfeito e sem catástrofes, neste nosso mundo contraditório”, começa por escrever Pedro Pires, realçando que as desgraças têm sido e continuarão a ser “nossas companheiras de viagem”. “Temos é de aprender a conviver com elas e encontrar a melhor terapia.”
Mesmo assim, prossegue o ex-Chefe de Estado, não deixa de estar surpreendido e transtornado com o que tem estado a testemunhar. Segundo este combatente da liberdade da pátria, ora fica magoado e desencorajado com os acontecimentos, ora sente-se altamente compensado por atitudes de “grande generosidade e de amor pelo próximo”, vindas de profissionais da Saúde, mas também pela retribuição de gratidão manifestada pelos doentes.
“São factos que me têm tocado, emocionado e feito reflectir. O último desses casos passou-se num hospital de Madrid, quando uma doente curada se despedia com um largo sorriso de gratidão e os profissionais da saúde a saudavam com uma longa salva de palmas. Estavam proibidos de se aproximarem!”, relata Pires, para quem esta convergência e fusão de sentimentos humanos representa o que há de mais bonito na nossa vida.
Pires confessa que ficou tocado por prova de afeição recíproca e essa cena levou-o a pensar nos profissionais de saúde cabo-verdianos, pelo que decidiu endereçar-lhes uma saudação de admiração, simpatia, carinho e solidariedade. Na mensagem realça que a missão desses técnicos, enfermeiros e médicos é “nobre e generosa”. Disso, diz, devem estar orgulhosos, pois fizeram uma “boa” escolha de missão e estão a proteger vidas e contribuir para a felicidade das pessoas. “O vosso trabalho de todos os dias traz alívio a centenas de pessoas que sofrem de transtornos e de doenças de vária natureza. A vossa dedicação é imensa. Isso não se paga com retribuições materiais. Paga-se, sim, com gratidão, solidariedade, afecto e carinho! E com gestos simples de simpatia e reconhecimento!”
Segundo o ex-PR, essa profissão, de natureza pacífica e humanitária, transforma-se por vezes numa actividade de risco, como está a acontecer neste momento de crise sanitária e humanitária mundial e que afecta também Cabo Verde. Como Pedro Pires relembra, a classe médica está a confrontar-se com uma situação nova e complexa, que encerra riscos. E o mais grave é que se trata de uma primeira experiência, o que certamente acaba por criar uma forte perturbação. Mas Pires mostra-se confiante na capacidade desses profissionais de ganhar traquejo e vencer esse desafio.