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Lee, um turista apaixonado pela Lajinha, praia onde quase morreu afogado

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Quando entrou no mar da Lajinha, o turista Manuel Lee Rocha deu pouca atenção à bandeira vermelha e na ondulação que se formava principalmente na zona mais a sul. Foi um erro que quase lhe custou a vida. Apanhado por uma correnteza, passou quase vinte minutos a lutar pela sobrevivência. Hoje, passados dois anos, assume ser apaixonado por essa praia e pela cidade do Mindelo, urbe que visita com frequência.

“Nesse instante estavam dois turistas na praia, acenei com os braços, mas não ligaram. Certamente pensaram que eu estava a cumprimenta-los ou a brincar. Mas estava muito aflito”, conta.

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Lee estava no limiar das forças, a engolir golpes de água, e continuava a fazer sinais de socorro. Até que um jovem cabo-verdiano, que estava a falar com duas francesas, viu a cena. Tirou a camisa e caiu logo à água. Minutos depois, Lee estava são e salvo na areia. “Obviamente que fiquei todo grato e, entretanto, aconteceu algo insólito. Perguntei ao rapaz como é que podia recompensá-lo por ter salvo a minha vida. Sabe o que ele respondeu? Pediu-me um litro de leite”, conta.

Lee confessa ter ficado “pasmo” com esse modesto pedido. Em resposta, levou o jovem para o hotel onde estava hospedado, apanhou dinheiro e foram para um minimercado. “Disse-lhe: podes apanhar o que quiseres que eu pago. Faça de conta que não estou cá. Mas, sempre me perguntava se podia pegar isto ou aquilo. Gostei muito da sua generosidade e simplicidade”, assume o turista com nacionalidade portuguesa e inglesa, que estabeleceu uma relação de franca amizade com o cabo-verdiano.

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Apesar do incidente, Lee ficou apaixonado pela praia da Lajinha. Assume que a culpa foi sua por ter desrespeitado a bandeira vermelha içada. “O risco foi meu!” Aliás, esta estância balnear é um dos principais motivos que o leva a visitar Mindelo duas a três vezes ao ano desde 2022. “Quando venho a S. Vicente vou todos os dias à praia”, relata.

Lee desembarcou este ano em S. Vicente no dia 1 de setembro, 22 dias após a tempestade Erin. Mesmo assim não perdeu um dia de relaxamento na praia. “E olha que alguns amigos meus tentaram me dissuadir da viagem por causa da tempestade. Falei com a gestora do hotel e ela me disse que poderia vir, sem problemas. E cá estou”, conta.

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A admiração pela Lajinha surgiu no primeiro instante que viu a praia. Nesse dia ficou fascinado pela cor azul-turqueza da água. Conta que fez algumas fotos e enviou para os amigos em Londres e perguntaram-lhe se estava nas Caraíbas. “Qual Caraíbas, estou em Cabo Verde, na ilha de S. Vicente”, respondeu-lhes.

Acontece, segundo Lee, que os colegas e a própria sobrinha só tinham ouvido falar da ilha do Sal. Para eles, turismo em C. Verde resumia-se às praias e belíssimos hotéis no Sal. “Ao contrário das outras pessoas, confesso que não gostei do Sal. Se era para ficar nos hotéis continuaria na minha residência em Londres. Queria algo mais especial, por isso decidi visitar S. Vicente”, explica.

Comprou, assim, uma passagem e desembarcou no aeroporto internacional Cesária Évora, mas sem conhecer nada sobre S. Vicente. Segundo Lee, o aeroporto estava repleto de pessoas e ficou atordoado. “Perguntei a um segurança se a cidade era perto e ele disse-me logo para apanhar um táxi”, assim fez e pediu ao motorista que o levasse directamente a um banco.

Ao tentar trocar dinheiro, perguntaram-lhe onde estava hospedado. “Respondi que ainda não tinha hotel reservado e o front-office disse-me logo de cara que, nesse caso, não iria fazer a operação. Fiquei pasmo. Mesmo assim olhei à minha volta e vi uma mulher vestida de forma elegante. Fui logo ter com ela e disse-lhe para me indicar o hotel mais sofisticado da cidade, sem se importar com o preço”, relata. Recebeu a indicação do estabelecimento e decidiu que iria lá ficar.

Repassou a informação ao atendedor que, agora sim, lhe trocou 500 libras por escudos cabo-verdianos. Só depois foi para o hotel, onde, confessa, foi “maravilhosamente” recebido. Gostou tanto, que elegeu esse estabelecimento como o seu local de estadia definitivo sempre que viaja para S. Vicente.

Além da Lajinha, Lee ficou fascinado com a liberdade que sentiu de andar pela ilha e conversar com as pessoas. Este ano viu e adorou o desfile do Carnaval e já marcou nova presença na festa do Rei Momo em 2026, com ou sem concurso oficial. “A cada oportunidade que tenho viajo para S. Vicente. Até hoje me pergunto o que esta ilha tem para me fascinar tanto. Sei, no entanto, que adoro a praia da Lajinha, apesar de quase ter perdido a minha vida na sua água”, sublinha este filho de pai português e mãe chinesa nascido na Inglaterra.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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