A recém-criada Associação Humanitária de Doadores de Sangue de S. Vicente foi ontem apresentada ao público na cidade do Mindelo e, segundo o representante, um dos objectivos é contribuir para que 1 a 3% da população passe a ser fornecedor voluntário e regular de sangue em Cabo Verde, tal como estabelece a OMS. A entidade, que ainda não está legalmente formalizada, pretende ainda estabelecer parcerias com as estruturas de saúde e defender a criação do estatuto do doador, como acontece noutras paragens. Desta forma, enfatiza Manuel Fortes, os membros poderão usufruir de um “atendimento mais particular” junto dos serviços de saúde.
Nascida no dia 6 de junho, a associação tem vinte membros constituintes e uma lista de mais de 60 pessoas interessadas em fazer parte. Segundo Fortes, o número de interessados tem estado a aumentar a cada dia.
Dados avançados à imprensa por Manuel Fortes indicam que já foram registados mais de 10 mil doadores em S. Vicente, mas nem todos são activos por diversas razões, como, por exemplo, a idade. Actualmente, acrescenta, tem havido uma média de mil doações voluntárias por ano, o que representa cerca de 500 a 550 doadores activos e regulares. Ressalva que tem estado a aumentar o número de mulheres e na idade jovem.

A criação da referida associação surgiu na sequência de um desafio lançado aos doadores há dois anos pela médica Conceição Pinto, directora do Banco de Sangue do Hospital Baptista de Sousa. No ano passado, revela Manuel Fortes, constituíram um primeiro grupo com a intenção de complementar as campanhas de angariação de novos dadores, visando ajudar a atingir a referida meta da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com o nascimento da associação, as ações de sensibilização deverão ganhar outro impulso.
Graças a sua lista activa de dadores, o HBS tem mantido o stock de sangue fornecido, como acentua a directora do estabelecimento hospitalar. “Assumimos orgulhosamente que temos dádiva de sangue voluntária no HBS desde 2008. Naturalmente que temos dadores regulares ao longo do ano e não temos registado ruptura. Muito pelo contrário, o HBS consegue apoiar várias estruturas de saúde do território nacional”, revela a gestora.
Helena Rodrigues reforça que o HBS tem incentivado os doadores a se organizarem em associação em S. Vicente pelas vantagens que esse passo representa, uma delas o facto de poderem passar a trabalhar de forma institucional com o hospital. Por isso, diz, a direção do estabelecimento regista com grande satisfação o nascimento da associação, que foi divulgada no quadro da celebração do Dia Mundial do Doador de Sangue, na praça Dom Luís. Um evento organizado pelo HBS sob o lema “Doe Sangue, doe esperança: juntos salvamos vidas” e que contou com uma animada roda dos alunos da associação Abadá Capoeira.

Foi igualmente o momento para dar a palavra aos doadores, que, como reconhece o HBS, têm mantido activa uma importante linha de fornecimento de sangue na ilha de S. Vicente. Carlos Vicente, 63 anos, é um dos rostos familiares do Banco de Sangue, ele que já doou esse precioso líquido por 65 vezes. O primeiro momento aconteceu, conforme relata, para ajudar uma sobrinha que tinha acabado de ter o seu filho. E desde essa altura, cuja data não consegue precisar, tornou-se num dador regular. Ele que, diz, gostaria de ver “toda a gente” a doar sangue uma ou duas vezes ao ano e conseguiu convencer os dois filhos a assumir essa consciência.
A primeira vez que Otelma Borges doou sangue tinha apenas 18 anos de idade. Lembra-se que fez parte de um grupo de alunos que efectuou uma visita de estudo ao laboratório da Farmácia Jovem e sentiu-se logo incentivada a ser uma doadora. “Hoje sou Bióloga e tenho maior consciência da importância desse gesto. Com uma única doação, o meu sangue pode ajudar a salvar cinco vidas”, ilustra Otelma Borges, 38 anos, que aceitou o convite para integrar a associação dos doadores de S. Vicente. Sendo mulher, diz, é mais complicado manter uma doação regular. Adianta, no entanto, que já doou sangue em C. Verde, Portugal e Espanha.