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Cabo Verde merece mais: A perversidade institucional de um sistema que destrói a confiança e o mercado!

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Américo Medina

Mais uma vez, os passageiros do navio “Dona Tututa” foram deixados à mercê da incerteza. A eventual “sabotagem” mencionada pelo próprio Presidente do Conselho de Administração (PCA) da CVI, Sr. Jorge Maurício, em Maio de 2023, volta a atacar, resultando no cancelamento de viagens, afetando passageiros com destino ao Sal, São Nicolau e São Vicente. Mais uma vez, não houve assistência mínima nem informações adequadas.

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Desde que a CVI iniciou operações no mercado cabo-verdiano, sob a liderança de um PCA que chegou ao cargo através da prática eticamente condenável das “Portas Giratórias ” — transitando de um cargo público relevante para a chefia de uma empresa privada no mesmo setor que antes liderava via uma empresa pública — a imprensa tem reportado sucessivos problemas. Avarias constantes, disrupções e cancelamentos tornaram-se a norma, gerando indignação entre passageiros, operadores econômicos e até figuras públicas, incluindo líderes religiosos como o Prelado de Mindelo, Don Ildo Fortes.

A CVI tornou-se sinónimo e símbolo de ineficiência e precariedade. Seu serviço de transporte de cargas e passageiros é marcado por baixíssima qualidade, um rácio alarmante de avarias e um impacto devastador na confiança e reputação do setor. A empresa, em vez de impulsionar o desenvolvimento econômico, tornou-se um obstáculo ao bom funcionamento do mercado e um entrave ao crescimento sustentável do país.

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O que torna essa situação ainda mais grave e inadmissível é o fato de que o PCA da CVI é simultaneamente o Presidente da Câmara de Comércio de Barlavento. Essa sobreposição de funções representa, no caso concreto, conflito de interesses gritante, com consequências desastrosas para os operadores econômicos, comerciantes e prestadores de serviço que, ironicamente, deveriam estar protegidos pela instituição que os representa.

A missão da Câmara de Comércio de Barlavento é defender os interesses dos seus associados, promover a transparência e garantir um ambiente de negócios justo e competitivo. Mas como pode cumprir esse papel quando seu próprio presidente dirige uma empresa cuja atuação prejudica sistemática e diretamente os empresários e comerciantes que deveria representar? Esse é um paradoxo insustentável, uma perversidade institucional que corrói a confiança no sistema e agrava a crise do setor.

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A ética e as boas práticas de governança corporativa condenam, de forma inequívoca, esse tipo de promiscuidade. Em qualquer sistema transparente e funcional, seria impensável que o gestor de uma empresa que prejudica sistematicamente o mercado ocupasse, ao mesmo tempo, um cargo de liderança numa instituição que deveria lutar contra essa ineficiência. Como pode alguém zelar pelos interesses dos empresários quando é ele próprio quem os prejudica?

Esse conflito de interesses mina a credibilidade da Câmara de Comércio de Barlavento, desmoraliza seus associados e esvazia o propósito da sua existência. Além disso, prejudica a competitividade do mercado, afasta investimentos e impõe custos desnecessários aos agentes econômicos que dependem de um sistema de transporte marítimo confiável e eficiente.

A manutenção desse “modelo” anacrónico e disfuncional é incompatível com as ambições de Cabo Verde. Se queremos um país moderno, sustentável e competitivo, não podemos tolerar a continuidade de práticas retrógradas que servem apenas a interesses privados em detrimento do bem comum. Já passou da hora de separarmos a promiscuidade e o conflito de interesses nos negócios!

Consumidores, passageiros frequentes, comerciantes, empresários e todos aqueles que acreditam num mercado transparente e competitivo merecem mais.

As perguntas que se impõem:

  • Até quando essa contradição será tolerada(?);
  • Até quando um transporte marítimo ineficiente e imprevisível será aceite enquanto a Câmara de Comércio de Barlavento se mantém em silêncio?

Cabo Verde não pode mais ser refém de serviços em sectores vitais da nossa economia, desalinhados com as nossas necessidades e suportados por acordos leoninos, abusivos, que lesam os interesses das populações, travestidos de “parcerias estratégicas”. O país merece transparência, eficiência e compromisso com o bem-estar coletivo.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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