A directora do Banco de Sangue do HBS elogiou ontem a postura da população de S. Vicente, que, nas suas palavras, tem demonstrado um elevado nível de sensibilidade e entrega à dádiva desse líquido fundamental à vida. Segundo a hematologista Conceição Pinto, o hospital conta neste momento com uma lista de aproximadamente 10 mil doadores voluntários activos, que garantem a manutenção dos stocks de sangue para as ilhas de S. Vicente, Santo Antão e S. Nicolau, que estão sob a responsabilidade desse hospital central.
“Além de dispormos de um número considerável de doadores activos neste momento, tem aparecido cada vez mais pessoas disponíveis. Há quem doe sangue com regularidade de 2, 3 e até homens que fazem isso 4 vezes por ano”, revela a hematologista, acentuando que os próprios voluntários têm tomado a iniciativa de mobilizar familiares e amigos para a causa.
Além disso, segundo Conceição Pinto, os voluntários contactam por iniciativa própria o HBS quando sabem da ocorrência de acidentes, para saber se o hospital está a precisar de sangue. Esta atitude, conforme a directora desse departamento hospitalar, é contrária à situação que o HBS vivia nos anos ’90, quando passava o dia inteiro fazendo apelos pela rádio para a recolha de sangue, em casos de urgência. “Agora, se tivermos falta, os dadores aparecem logo”, revela a médica, acrescentando que os próprios dadores chegam ao ponto de convocar outros colegas do mesmo grupo sanguíneo.
Graças a essa atitude, o centro está a conseguir manter um stock importante de sangue. Além de S. Vicente, onde tem uma lista de cerca de 10 mil voluntários, faz colheira regulares em Santo Antão, ilha onde, segundo essa fonte, estão registados mil dadores activos.
“Há um tipo de sangue que precisamos ter sempre em stock, que é o 0 negativo porque serve para toda a gente. Numa situação de emergência, se um doente está a sangrar, por exemplo, podemos dar-lhe esse tipo de sangue sem a necessidade de apurarmos o seu grupo sanguíneo”, elucida. Segundo a mesma, o banco de sangue tem de dispor sempre de uma boa reserva desse grupo sanguíneo para poder tratar pacientes que precisam urgentemente de 9 ou até 10 unidades. Como explica, além dos casos de acidentes, podem ocorrer situações complicadas durante um parto, embora nessas ocasiões o hospital já tenha na sua posse o grupo sanguíneo da parturiente.
Junho, o “mês vermelho”
Conceição Pinto fez estas observações no âmbito do dia 14 de junho, consagrado há vinte anos ao doador voluntário de sangue. Sublinha que, desde a instituição desta data pela OMS que a situação do banco de sangue do HBS começou a melhorar, pois possibilitou o lançamento de campanhas mais eficazes de sensibilização. Hoje, diz, Junho é conhecido como “Mês Vermelho” por ser a cor do sangue e devido as doenças relacionadas com este líquido vital. “Há pessoas, nomeadamente crianças, que vivem dependentes da transfusão sanguínea. Pacientes com drepanocitose, uma anemia que exige a reposição de sangue”, revela Conceição Pinto, acentuando que estes são grandes consumidores de sangue e o primeiro grupo de risco quando há ruptura.
O trabalho do Centro de Sangue não se resume a recolher o líquido, mas sim, segundo a hematologista, a garantir segurança e uma gestão de qualidade do produto, como mandam as regras e a lei. Como explica, o sangue colhido é fracionado em quatro componentes: Glóbulos vermelhos (para tratar pacientes com anemia), Plasma (usado em casos de sangramento e queimados), Plaquetas (quando há falta de plaquetas no paciente) e Crioprecipitados (para hemofílicos). “Com base nisto vemos que numa única dádiva pode-se salvar 4 vidas e numa uma, como se costuma dizer”, enfatiza Conceição Pinto, para quem os dadores precisam ter o reconhecimento merecido, o que, diz, não acontece ainda.
Segundo esta especialista, há quem receba sangue e não agradece. Pessoas que, diz, consideram isso “natural”, quando, sublinha, receberam a prenda mais valiosa de todas: a vida. No entanto, frisa, há quem tenha o cuidado de agradecer e até reconhecer o dador através de cartas.
Neste momento, o banco funciona com 6 técnicos permanentes e 3 contratados e passou de dois para três hematologistas. Mesmo assim, segundo a directora, há insuficiência de recursos humanos. Refere que tem havido saída de profissionais, sem a devida reposição. Apesar disto, o banco prima o seu trabalho pela segurança e qualidade para, quando houver uma transfusão, a operação seja feita para salvar uma vida. Lembra a hematologista, o sangue pode também trazer complicações se não for convenientemente tratado e usado.
Quem também reconheceu o impacto dessa postura dos doadores foi a presidente do Conselho de Administração do HBS. Para Helena Rodrigues é uma conquista digna de registo saber que o hospital atingiu a sua necessidade de reserva de sangue e que tem vindo a manter este patamar graças a doadores voluntários. Frisa que o HBS organizou um encontro para reconhecer a generosidade dos mesmos e revelou que já se fala na criação da associação dos doadores de sangue de S. Vicente.