Dezenas de passageiros com destino a S. Vicente estão retidos na Cidade da Praia devido a uma avaria num dos dois aviões da TACV das rotas domésticas. Além de cabo-verdianos, o grupo é composto por vários turistas que pretendiam ir visitar a Cidade do Mindelo.
O voo deveria partir ontem às 18.30, mas os passageiros foram informados já no aeroporto que estava cancelado. A “previsão” era de que a viagem poderia ser realizada hoje de manhã. Colocados no hotel, os clientes ficaram à espera da confirmação do horário do voo, o que não aconteceu até ao meio-dia. Isto apesar das tentativas de alguns passageiros para obter alguma informação junto da companhia aérea.
Resultado: a falta de comunicação começou a provocar stress no seio do grupo e a alimentar críticas sobre a postura da TACV em relação aos seus “estimados” clientes. “Mais do que os constrangimentos provocados pelo cancelamento da viagem é a indignação suscitada pela falta de informação”, desabafa João Almeida, que aponta três situações na sua viagem S. Vicente – Praia em que a comunicação não foi devidamente processada.
A primeira, diz o professor universitário, aconteceu em S. Vicente quando a companhia mudou o horário da viagem e não se dignou informar alguns passageiros dessa medida. Por causa deste detalhe, diz, desperdiçou duas horas do seu tempo sentado no aeroporto Cesária Évora.
O segundo ponto, prossegue, foi o facto de ter sido um cliente, neste caso um cidadão europeu, a assumir a comunicação com os passageiros na Cidade da Praia. “Foi ele que informou os passageiros em que hotel cada um iria ficar, depois de termos estado uma hora dentro de um autocarro com o motor ligado para sermos levados para o hotel”, comenta.
O terceiro momento aconteceu já com os clientes instalados e ansiosamente à espera da confirmação da viagem para hoje de manhã. Só depois das 13 horas chegou a informação de que a viagem ficou agendada para amanhã de manhã. “Estamos a falar de uma companhia que está a retomar as ligações internas no contexto em que todos conhecemos. Começou até bem, mas não pode deixar os mesmos problemas voltarem a se instalar tão cedo. Nós, os cabo-verdianos, temos traumas com os voos inter-ilhas e, quando surgem estes contratempos, eles são instintivamente reactivados”, salienta Almeida, que se mostra também preocupado com o impacto no seio dos turistas. A seu ver, é muito natural que não queiram voltar a Cabo Verde.
Outros dois passageiros cabo-verdianos, um jornalista e um membro de uma igreja, que preferiram falar sob anonimato, apontaram a ausência de comunicação como o ponto crítico. Como dizem, o cancelamento de um voo por razões de segurança é normal, agora usar o silêncio como canal de “comunicação” só gera stress nos passageiros.
Como é natural, a suspensão da viagem teve as suas consequências nos planos dos viajantes. No caso de João Almeida, tinha assumido o compromisso de participar em S. Vicente na abertura de um festival literário e moderar um painel sobre Jornalismo e Literatura e acabou por faltar aos dois eventos. Outro jornalista residente em Santo Antão teve que refazer a sua agenda de trabalho. A esperança dos dois é que a viagem seja realizada, efectivamente, amanhã à hora indicada.
O avião sofreu uma avaria, mas foi impossivel saber de que tipo.
