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Abuso sexual na Salamansa: Famílias das 3 vítimas decidem recorrer da sentença e marcar manifestação à porta do Tribunal de S. Vicente

Arlindo Matias, 62 anos, foi condenado a 4,8 anos de cadeia por abuso sexual, suspensos por 4 anos sob a condição de pagar uma indemnização de 250 contos a cada uma das três vítimas menores.

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As famílias das 3 crianças vítimas de violação sexual na Salamansa decidiram recorrer da sentença aplicada pelo segundo juízo crime ao acusado e marcar uma manifestação à porta do Tribunal de S. Vicente para o dia 3 de janeiro. A intenção é clara: exigir justiça. É que, para os pais das três meninas violentadas pelo parente Arlindo Matias, conforme determinou o juiz, a sentença lida no dia 27 foi uma autêntica ofensa.

“Esta sentença foi uma ofensa para nós e as nossas filhas. Esperávamos que o juiz fosse ditar uma pena a condizer com os três crimes e saciar a nossa sede de justiça que temos aguentado durantes estes anos. Para nosso espanto, condena o violador a 4,8 anos de prisão e decide suspender a aplicação da pena por 4 anos, se ele aceitar pagar 250 contos a cada uma das vítimas”, revela Ticiana Matias, mãe de uma das vítimas, que se mostra indignada com esta decisão. Isto porque, diz, a sua filha não está à venda e nenhum dinheiro do mundo seria suficiente para amenizar os traumas que esse acto provocou nela, como mãe, e principalmente na sua filha.

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A mesma interpretação tem Jéssica Matias, ela também mãe de uma das três meninas abusadas por Arlindo Matias, pessoa que, segundo esta fonte, as crianças tratavam por “vovô”. “Foi uma sentença que nos surpreendeu. A forma como o juiz começou a falar do caso indicava que iria aplicar uma pena adequada. Para nosso espanto ele sai com essa ‘bomba’. Qual mãe aceitaria 250 contos pela dignidade de uma filha?!”, reage.

Tanto Ticiana como Jéssica asseguram que não vão aceitar nenhum tostão proveniente do condenado. Para elas, a sentença ficou muito aquém da justiça. “Para mim ele deveria ser condenado a 4 anos de cadeia por cada um dos três crimes”, ilustra Ticiana Matias.

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A sentença deixou os familiares das três crianças revoltadas. A pena teve ainda um impacto mais forte numa das vítimas, filha de Ticiana Matias, e que hoje tem 15 anos de idade. Segundo a mãe, a adolescente ficou descontrolada e manifestou toda a sua raiva na rua. Aliás, o ambiente esteve bastante agitado à porta do Tribunal de S. Vicente na manhã do dia 27 de dezembro, onde familiares das vítimas contestaram de forma veemente a decisão.

De regresso à localidade de Salamansa, onde as famílias do acusado e das vítimas residem, o ambiente ficou mais tenso e descambou para uma escaramuça. Sérgio Monteiro, pai de uma das crianças, confirma essa ocorrência, mas diz que esse confronto foi devido ao estado de insatisfação. “O pessoal estava revoltado e houve um confronto, mas nada de grave. Aquilo foi uma reação normal”, considera Sérgio Monteiro, para quem será muito difícil evitar outras incidências devido a pequenez da localidade de Salamansa. Aliás, as duas famílias moram a escassos metros, separadas praticamente por uma rotunda.

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O caso

O caso veio à baila em 2015, quando as três crianças, com idades que iam dos 7 aos 10 anos, resolveram contar a outras pessoas as agressões sexuais perpetradas por Arlindo Matias, homem casado com uma das suas tias e que tratavam por “vovô”. Segundo Jéssica Timas, ficaram a saber do ocorrido por essas fontes porque nenhuma das crianças teve a coragem de conversar com as próprias mães sobre a situação. “Ao serem confrontadas, acabaram por confirmar o ocorrido”, conta essa mãe.

A ocorrência foi comunicada às autoridades, tendo Arlindo Matias aguardado o julgamento em liberdade. Realizada a leitura da sentença, acabou por ser condenado a 4 anos e oito meses de prisão, mas a pena foi suspensa por 4 anos sob a condição de pagar uma indemnização a cada uma das vítimas no prazo de 1 ano.

“O juiz afirmou que as crianças não tinham como inventar uma situação dessas e manterem uma versão coerente. Ele ficou ciente da culpa do agressor, mas, para nós, ele falhou na medida da pena”, considera Ticiana Matias. Esta fonte acrescenta que as crianças foram submetidas a dois exames médicos que confirmaram as suspeitas de crime sexual. Devido ao impacto dessa agressão, prossegue, as três primas passaram a ser acompanhas por uma psicóloga.

Dispostas a continuar a lutar por justiça, os pais das três vítimas decidiram recorrer da sentença do tribunal de primeira instância. Além disso convocaram uma manifestação à porta do Palácio da Justiça no dia 3 de janeiro do meio-dia às 14 horas. Ontem lançaram um apelo no Facebook para envolver o máximo possível de pessoas.

A reportagem do Mindel Insite tentou conversar com Arlindo Matias na sua residência, na Salamansa. O jornalista abordou uma mulher, que foi categórica ao afirmar que Arlindo Matias não iria conceder nenhuma entrevista sobre o caso.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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