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“Tá d’Quiosque”, uma das primeiras comerciantes da Praça Estrela: “Tenho orgulho e amo ser vendedeira”

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É uma das mais antigas vendedoras de roupas, sapatos e bolsas da Praça Estrela em S. Vicente. Está no espaço deste 28 outubro de 1998. Maria de Lurdes Colito, mais conhecida por “Tá d’ Quiosque” ou “Tá Colito”, é mãe de duas filhas e avó de cinco netas. Iniciou a sua vida como comerciante desde os 15 anos de idade, juntamente com a sua bisavó no Quiosque atrás da Câmara Municipal.

Ainda hoje, aos 52 anos e com 36 de trabalho, continua activa e dinâmica. É uma mulher de luta, dinâmica, uma voz entre os colegas e um dos rostos mais conhecidos da Praça Estrela. “Tenho orgulho e amo ser vendedeira”.

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Ao Mindelinsite, Tá conta que engravidou cedo da sua primeira filha e teve de se virar. Começou a trabalhar porque não gosta de depender dos outros. Inicialmente teve uma banquinha pequena onde vendia bijuterias. Depois de algum tempo acrescentou mais “algumas coisinhas” como bibelô, postais, brinquedos e outros produtos que traziam de Dacar. “Juntava o ganho numa bolsinha e começei a comprar meia dúzia de calcinhas e cuecas masculinas em alguns estabelecimentos comerciais, como Casa Fortunato, Casa Benfica e Casa Benvindo. A minha banca era formada por quatro caixinha de malta Heineken, com duas tábuas em cima, coberto com um papelão onde arrumava os meus produtos para venda”, relata. 

Depois do incêndio que destruiu por completo o Quiosque, diz, o então Presidente da Câmara Municipal de São Vicente, Onésimo Silveira, mandou construir os espaços de venda na Praça Estrela com mais dignidade – o Quiosque era feito de madeira e papelão – para colocar as vendedeiras para não ficarem a deriva. As novas barracas, segundo Tá Colito, foram entregues aos comerciantes a 28 de outubro de 1998, ou seja, há 22 anos.

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“Foram os tempos áureos da venda em S. Vicente. Estávamos bem colocados e conseguíamos escoar os nossos produtos. Hoje em dia não está fácil porque enfrentamos uma concorrência feroz dos chineses. Costumo dizer que  antes queixávamos de barriga cheia, brigávamos por causa dos africanos, mas quem veio a bloquear a nossa vida foram os chineses. Deram muita abertura aos chineses na nossa terra, que capturaram os nossos clientes com produtos de baixa qualidade. Ano após ano sentimos nosso negócio a encolher”

É com nostalgia que lembra como tudo começou. “Um belo dia veio uma minha tia que vivia em Portugal passar férias. Estava com a minha primeira filha, hoje com 36 anos, nos braços. Ela ainda não tinha um ano. Trazia produtos para a minha bisavó vender. Um sábado à tarde ela chamou-me à sua casa e deu-me um dúzia de cada artigo – calção de homem, saiotes de mulher, combinação, cuecas de homem e calcinha de mulher – para vender. Foi então que alarguei a minha banca. Vendi todos os produtos e fui entregar o dinheiro, mas ela recusou. Ela me desafiou a continuar a caminhar agora com os meus próprios pés, antes de liquidar a conta desses artigos. Depois ela continuou a enviar-me mais produtos para negocio. É uma vida de stress, mas conseguimos vender e viver. Foi nesta vida que criei meus filhos”.

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Tá realça que hoje as dificuldades para escoar os produtos são maiores e, a agravar a situação, sente que não têm apoio da Câmara Municipal. Isto porque, diz, as barracas estão degradadas e todo espaço precisa de manutenção.

Há espaços a cair aos pedaços e as portas de ferro estão enferrujadas. “O antigo presidente, Onésimo Silveira, visitava a Praça Estrela todos os sábados à tarde. Cuidava da sua obra e verificava se os comerciantes estavam a cumprir com as regras do contrato. Sempre que solicitavamos nos recebia e ouvia os nossos problemas”, pontua. 

Esta vendedora termina dizendo que os sucessores de Onésimo Silveira numa estiveram na Praça Estrela e nunca se reuniram com os seus locatários. Esses edis, diz, preocupam-se apenas com a cobrança das rendas, mesmo que não haja movimento de venda.

Certo é que Praça Estrela é o principal “mercado livre” de S. Vicente. Está com quase todas as barracas ocupadas por comerciantes, oriundos em boa parte da Costa de África.

Lidiane Sales (Estagiária)

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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