O sindicalista Nelson Cardoso, secretário regional do Sindep em S. Vicente, considerou muito positiva a adesão dos professores ao primeiro dos dois dias de greve, após ronda aos diversos estabelecimentos de ensino. Segundo Cardoso, houve escolas onde praticamente todos os docentes fizeram greve, à excepção dos que trabalham na gestão e, no caso da secundária Jorge Barbosa, apenas 3 professores deram aulas hoje de manhã, por motivos religiosos. “O que podemos dizer é que a resposta é muito positiva”, concluiu em declaração à imprensa.
A indicação dada, conforme o dirigente sindical, era para os professores fazerem a concentração em frente as escolas consoante o seu período lectivo. Deste modo, acrescenta, é esperada a mobilização no período da tarde de outros docentes. Para amanhã, a greve será realizada nos mesmos moldes de manhã e à tarde para depois todos os docentes se encontrarem numa mobilização geral na praça Don Luiz, no centro do Mindelo.
Mais uma vez, Cardoso fez questão de frisar que a luta dos docentes vai além da questão salarial. Reforçou, no entanto, que uma das razões fundamentais neste momento tem a ver com a imposição abusiva do Governo do Plano de Cargos, Funções e Remunerações (PCFR), que deverá ser aprovado no Parlamento, após sofrer um veto político do Presidente a República. Além disso, frisa o facto de o Ministério da Educação ter assumido que o diploma de remuneração dos subsídios pela não redução da carga horária seria pubicado em julho e não ter acontecido até esta. “Como disse antes, com este Governo é só vendo para crer!”
Em média, o número de professores concentrados à porta das escolas terá atingido os 50 por cento, conforme dados recolhidos pela reportagem do Mindelinsite. Esta é a estimativa apontada por Luís Graça, professor da escola Jorge Barbosa, para quem esse nível de adesão pode ser considerado bastante positivo. “Estamos no momento desta entrevista com uma presença na ordem dos 50%, ou seja, cerca de 40 docentes. Outros, apesar de não terem vindo à concentração, não deram aula”, adianta o docente, para quem a luta pode ser desgastante para alguns colegas de profissão, pelo que, por esta altura, fica difícil saber o que vai na mente de cada um. No caso da ESJB, assegura que o trabalho de mobilização foi feito e que estão firmes e fortes.
No caso da escola Padre Cristiano, em Chã de Alecrim, todas as salas estavam a funcionar normalmente esta manhã. Na “Segunda Companhia”, cinco professores estiveram presentes. A perspectiva do delegado sindical Carlos Santos era que a maioria dos 18 docentes adstritos ao estabelecimento de manhã e à tarde comparecesse.
“Em princípio, era para estarmos todos juntos a esta hora. Fizemos uma mobilização ontem junto dos docentes, mas nem todos vieram hoje. Cada professor tem a sua forma de ver as coisas, mas estamos nesta luta a favor dos direitos de todos”, salientou Santos, que se manifestou desapontado com o nível da adesão, visto que, realça, parece haver neste momento uma forte união dos professores, pelo que, na sua visão, isto deveria ser refletido na greve.
Na escola Aurélio Gonçalves, cinco dos 9 docentes do período da manhã vestiram a camisola preta e foram à luta. A delegada sindical Risoleta Cruz admitiu ao Mindelinsite que esperava a presença de mais colegas. “Cada um tem o seu motivo, mas houve quem tenha alegado que o dinheiro dos dias de greve iria deixar falta no final do mês”, revela a docente. Mesmo assim, afirma que o objectivo dos professores não será fragilizado porque todos estão cientes dos abusos e desrespeito do Governo em relação a classe.
“O Governo tem passado a ideia de que estamos apenas correndo atrás de dinheiro, que temos negado o aumento salarial proposto. Não é bem isso. Na verdade, estamos a lutar pela dignidade e o respeito devido à classe, o que ultrapassa a mera questão salarial”, reforçou, acrescentando que sequer todos os professores vão ser contemplados com o aumento salarial.
A adesão dos professores da secundária José Augusto Pinto ficou aquém da expectativa, para o docente Jorge Cruz. Na sua perspectiva, isto ocorreu porque houve uma estratégia de desmobilização encetada pela escola, que decidiu suspender as aulas e agendar uma palestra sobre saúde mental destinada aos professores. Entende que este facto terá desmotivado alguns colegas, que deixaram de ver o impacto da greve.
“O número de adesão não reflete, no entanto, o descontentamento dos docentes, que é generalizado”, enfatiza o porta-voz. Pelas suas contas, só cerca de 40% dos mais de 100 professores do estabelecimento decidiu comparecer.
Entretanto, para uma professora, o motivo mais plausível da ausência de alguns professores estará relacionado com a perda do salário dos dois dias de greve. Acentua que todos estão insatisfeitos com a forma como o Ministério da Educação anda tratando a classe, mas reconhece que perder dois dias de vencimento acaba por ser custoso.
Confrontado com este ponto, Nelson Cardoso, representante do Sindep, frisa que toda a luta implica sacrifícios. Enfatiza que cabe a cada um analisar se quer continuar a perder para o resto da sua carreira ou perder um dia de salário.
No liceu Ludjero Lima, nenhum grevista se mostrou disponível para falar com a nossa reportagem. Os presentes alegaram que o delegado sindical estava ausente do local nesse momento.
A greve dos professores continua amanhã com nova concentração em frente as escolas, seguida de uma mobilização massiva pelas 17 horas na praça Don Luiz.