Um grupo de 15 serventes do Hospital Dr. Baptista de Sousa, qualificados como Ajudantes de Serviços Gerais, foi despedido durante uma reunião com a administração deste estabelecimento de Saúde, que acreditavam ter sido chamados para regularizar a sua situação contratual e os salários em atraso. “Foi uma facada que nos deram porque todos temos família”, desabafam. A direcção do HBS confirma que “vinha tendo uma situação de possível desvinculação”. Deixa em aberto, no entanto, a possibilidade de reabsorver este pessoal. Quanto aos dois meses de salários por pagar, garante que já se acha em processamento.
Trabalharam nos diferentes sectores do hospital: Medicina, Cirurgia, Pediatria, Diálise, de entre outros. Garantem que, com a sua saída, o hospital ficou com falta de pessoal e está a tentar “tapar” os buracos movimentando os colegas. Em finais de dezembro de 2022 foram dispensados juntos com um grupo de enfermeiros, que denunciou a situação na imprensa e o impacto da notícia obrigou o hospital a recuar. Foram chamados e, como bônus, assinaram um contrato com duração de seis meses.
Na boleia dos enfermeiros, no dia 05 de janeiro deste ano os ajudantes de serviços gerais, incluindo um condutor e uma ajudante de cozinha, também retornaram aos seus postos de trabalho. Infelizmente, desde então estão a trabalhar sem contrato e nunca receberam os salários, ou seja, estão há dois meses sem qualquer remuneração. “Por isso, quando fomos convocados para uma reunião, no dia 28 de fevereiro, todos compareceram porque acreditávamos que iríamos finalmente assinar o contrato e receber os salários em atraso. Mas, para nosso espanto, a administradora e directora limitaram a nos dizer que tinham uma notícia triste para nós: estávamos despedidos.”
Estupefactos, ainda tentaram perceber os motivos para o despedimento, mas a resposta foi que a direcção do HBS enviou emails para o Ministério da Saúde para falar da sua situação e não obteve resposta. “O mais grave é que viemos para casa sem salário e sem perspectiva de retorno. Somos profissionais com dois a três anos e meio de serviço, já tivemos contratos de trabalho com duração de um a três meses de duração, sempre com descontos para o INPS que nunca usufruímos”, desabafam.
Mais detalhista, uma das nossas fontes explica que inicialmente trabalhavam com contratos precários, posteriormente foram informados que o vínculo se transformou durante a pandemia da Covid-19 e, desde setembro, se transformaram em prestadores de serviços. “Penso que era uma estratégia, que culminou agora com a demissão em massa. Foi uma facada que nos deram porque todos aqui têm família. Sabemos que vão nos pagar os salários em atraso mas, o que realmente queremos, é o nosso trabalho”, pontua um outro servente, que diz, no entanto, estranhar a situação de alguns colegas com seis meses a um ano de serviço que tiveram os contratos renovados e o salário pago.
Aliás, épor conta disso que resolveram fazer esta denúncia e uma exposição à Direção-Geral do Trabalho. “Estamos revoltados porque fomos despedidos mas, ainda naquele dia, tivemos de trabalhar, já desempregados. Tivemos de substituir os nossos colegas, sob pena de ficarem muitas horas em serviço. Aguentamos todo o balanço da Covid-19, com risco para a nossa saúde e para os nossos familiares. Agora que a pandemia já amainou, fomos dispensados sem qualquer respeito.”
Mais crítica é a situação da ajudante de cozinha que, não obstante ter prestado concurso, foi incluído neste lote de demitidos do dia 28. Esta conta que prestou concurso que estava a decorrer desde 2019 e foi recrutada para trabalhar. Infelizmente, os resultados do concurso nunca foram publicados no Boletim Oficial. “Em março vai fazer um ano que assinei um contrato de trabalho com o HBS, mas ainda estamos à espera da publicação no BO. Sempre que pergunto para quando a publicação a resposta é sempre a mesma: aguardar. Em dezembro fui chamada à administração e informada de que iria continuar no hospital. Para a minha surpresa, no dia 2 de janeiro fui novamente abordada. Fui informada que o MS recuou e, por isso, seria dispensada. No mesmo dia vim para casa”, revela.
Entretanto, no dia 05 de janeiro, novamente foi contactada para retomar o trabalho de imediato. Como tem dois filhos, pediu para adiar para o dia 06, o que aconteceu. Esperava que tudo estivesse resolvido. No entanto, no dia 28 foi novamente despedida. “Deram-me falsas esperanças para novamente me demitirem. E justificaram dizendo que continuavam à espera do MS. O mais caricato é que os colegas enfermeiros assinaram um contrato de 6 meses”, lamenta esta servente, que se mostra descontente com o comportamento da direção do HBS porquanto, afirma, estavam a par da situação e, mesmo assim, colocaram o pessoal para trabalhar, para depois despedir e, desta vez, sem pagar os salários.
Instada sobre esta denúncia feita por estes profissionais, a direcção do HBS limitou a informar que, efectivamente, vinha tendo uma situação de possível desvinculação. Garantiu, no entanto, que esse cenário deixou de existir porquanto o Ministério da Saúde irá de novo reabsorver o pessoal cujo vínculo se pretendia pôr termo. Quanto aos salários em atraso, disse que já se acha em processamento.