Pub.
Escolha do EditorSocial

Responsável clarifica filosofia do projecto “Zé Luís Solidário” e entrega donativos em S.Vicente

Pub.

A Associação Zé Luís Solidário reuniu-se ontem com vários parceiros para clarificar a filosofia, mas também para avaliar o seu funcionamento nestes quase dois anos de existência e traçar novas perspectivas. Outro objectivo, de acordo com o seu responsável, José Luís Martins, é tentar alargar a cooperação com a Câmara de São Vicente, instituições religiosas e associações de cariz social para trabalharem juntos e assim conseguirem melhores resultados. Este vai aproveitar ainda para entregar uma televisão ao Centro de Acolhimento de Crianças com Vulnerabilidades Especiais e 200 mochilas escolares à CMSV para, juntos, distribuirem às crianças. 

Ao Mindelinsite, José Luís explicou que o objectivo do encontro foi apresentar o projecto Zé Luís Solidário e fazer as pessoas entenderem verdadeiramente a sua filosofia para, quando virem um familiar ou vizinho a precisar de ajuda, saberem como proceder e a quem dirigir. “Também queremos envolver as instituições que melhor conhecem a realidade da ilha, isto porque constatamos que algumas pessoas recebem várias ajudas e outros nada. Ao trabalhar com a Camara Municipal, por exemplo, poderemos abarcar um maior número de pessoas porque esta sabe quem realmente precisa de apoio porque têm um Cadastro Social”, explicou. 

Publicidade

Em termos de ajudas atribuídas, Zé Luís garante que São Vicente tem sido uma ilha privilegiada, inclusive durante a sua estadia no país continua recebendo pedidos de ajuda, mas como está em Cabo Verde para avaliar os projectos desenvolvidos no ano de 2021, não está a aceitar novos processo. “Pretendemos continuar a ajudar, focando sempre nas áreas que definimos: alimentação, saúde, educação e habitação. Mas a nossa prioridade continua sendo a saúde. Temos recebidos muitos pedidos de ajudar para realizar TACs e para consultas de oftalmologia”.

Os pedidos de ajuda para construção de casas são também mais do que muitas. Mas, de acordo com Zé Luís, o projecto tem por norma apoiar apenas uma ou duas construções por ano e, no ano passado, construíram uma casa na ilha do Fogo e outra em Santo Antão e, este ano, já contemplaram a ilha Brava. “Quem sabe lá para o final deste ano ou inicio do próximo poderemos ajudar alguma família a construir a sua casa em São Vicente”, deixa em aberto, lembrando no entanto que a construção de habitação demanda recursos avultados e o projecto depende de ajudas.  

Publicidade

Desafios 

Prestes a completar dois anos de existência no dia 3 de abril, Zé Luís afirma que o maior desafio com que tem deparado é fazer as pessoas entender a filosofia e o funcionamento do projecto. Mostra-se particularmente desanimado com os muitos pedidos que recebe diariamente através de mensagens e chamadas telefônicas quando, diz, o projecto tem colaboradores nas ilhas. Lamenta ainda o facto das pessoas não querem envolver-se, apontando como exemplo as poucas pessoas que se dignaram a participar do encontro. “Isto não acontece só aqui. As pessoas querem ser ajudadas, mas não querem se educar e nem respeitar”, desabafa, lembrando que o projecto tem por norma ajudar apenas as pessoas que contactam os representam.

Sobre este particular, Zé Luis deixa claro que as pessoas que o contatarem directamente não serão apoiadas pela associação. “Apelo as pessoas as seguirem as normas e que entrem em contacto com os nosso representantes porque só através deles poderão ser ajudadas. Tenho de respeitar os colaboradores que temos nas ilhas e que têm feito um trabalho incansável e responsável. Não posso passar a1 frente destas pessoas, que são quem conhecem a realidade das ilhas melhor do que eu. Então não precisaríamos ter representantes”, diz o entrevistado, para quem esta é uma forma de conferir mais transparência ao projecto e evitar fraudes.  

Publicidade
Apresentação

Outro desafio com que a associação enfrenta é o desalfandegamento dos donativos. Zé Luís garante que, com excepção de São Vicente, enfrentam uma grande burocracia para retirar as cargas. “Acredito que apenas a Alfandega de São Vicente compreendeu a filosofia do nosso projecto. Nas demais ilhas é uma dor de cabeça. E isso acontece, acredito, porque ainda não temos o reconhecimento do Governo, não obstante já estarmos registados oficialmente em Cabo Verde e publicado no Boletim Oficial. Para se ter uma ideia, já evacuamos 20 doentes para o exterior e nunca recebemos um agradecimento por parte do Ministério da Saúde”, assevera. 

Apesar desta ingratidão, Zé Luís diz que o projecto vai continuar, pelo menos enquanto receber a ajuda e a solidariedade dos cabo-verdianos. Este teme, no entanto, que o momento difícil que o mundo atravessa por causa da pandemia e agora com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia as pessoas possam vir a retrair. “O nosso projecto depende de apoios, que poderão diminuir porque tudo vai encarecer, desde o gás, a energia eléctrica, renda de casa, de entre outros. Estamos a viver um momento de incerteza, sobretudo se os EUA vier a envolver directamente. Penso que se uma pessoa tiver alguns dólares no banco, não os vai entregar para o nosso projecto.” 

Entretanto, agora que o projecto já foi oficializado no país, Zé Luís informa que em breve vão abrir uma conta bancaria para receber donativos de cabo-cabo-verdianos residentes. Enquanto isso, já amanhã, segunda-feira, vai entregar uma televisão ao Centro de Acolhimento para Crianças com Vulnerabilidades Especiais e, mais tarde, mais 200 mochilas escolares na CMSV. Juntos farão a sua distribuição nos bairros periféricos de São Vicente. 

De referir que, para além da apresentação do projecto, a associação promoveu uma conversa aberta com participação dos vereadorres Celeste da Paz, que falou dos desafios da Educação focando na tecnologias, e Rodrigo Rendall, que descreveu todo o trabalho da área social da CMSV, ainda do activista Ron Lebrox da Associação Recreativa e Comunitária Crianças de São Vicente, e ainda um testemunho de uma jovem beneficiária de apoios deste projecto. Também a coordenadora do Centro de Acolhimento para Crianças com Vulnerabilidades Especiais, Cibelle do Rosário, fez uma breve apresentação do trabalho desenvolvido por este centro.

Mostrar mais

Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

Artigos relacionados

Botão Voltar ao topo