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Professores acusam diretor da EICM de arrogância e perseguição: Gestor responde que apenas adaptou regras para “bom funcionamento”

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Professores da escola industrial e comercial Guilherme Dias Chantre acusam o director deste estabelecimento de desrespeito, despotismo, falta de capacidade de gestão e de perseguir docentes e funcionários de apoio. Mostram-se ainda magoados com as suspeições levantadas pelo gestor que, dizem, de forma indirecta e sem referir nomes e nem apresentar provas, os terá acusado de subtraírem computadores da escola. Para Donaciano Oliveira, o descontentamento dos docentes deve-se exclusivamente a implementação de novas regras para o bom funcionamento da ex-Escola Técnica do Mindelo, que não caíram no agrado da classe. 

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É enorme o rol de queixas que dez professores desta escola detalharam ao Mindelinsite. Falam em completo desrespeito, despotismo, perseguição e demagogia por parte do director da EICM, nomeadamente para com os docentes e funcionários de apoio, razão para esta denúncia. “O director não possui os requisitos básicos de liderança. É incapaz de escutar e de dialogar. É um agente promotor de conflito ao invés de os evitar e tem grande apetência para julgar situações de forma precipitada, sem ouvir todos os intervenientes nas situações de conflitos”, afirma um docente, que se mostra revoltado. 

A mesma fonte cita, em jeito de exemplo, os conflitos entre pais/encarregados de educação, alunos e docentes em que, diz, na maioria das vezes, o director furta-se às responsabilidades, preferindo julgar e acusar sem averiguar. “Quase sempre, perante acusações ou reclamações dos pais/encarregados de educação e dos alunos, o director acusa os docentes, sem aferir da sua veracidade ou legitimidade. Não há solidariedade, ao contrário do que se verifica em outras instituições. Pelo menos deveria ter consideração ou respeito pelo direito à presunção da inocência. O mais grave é que a escola possui um órgão para instruir processos de averiguação ou disciplinares, mas este é desprezado.”

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Para um outro docente, a verdadeira razão por trás destes comportamentos é a incapacidade do director para solucionar problemas e a necessidade de apresentar bom desempenho. “Por causa disso está a sacrificar o bom ambiente que deve existir no local de trabalho, promovendo a pressão, o conflito e as ameaças como forma de levar os seus colaboradores a agirem conforme a sua vontade e necessidade”, refere. Critica ainda a “falta de comunicação” de Donaciano Oliveira em certas ocasiões e acusa-o de agir sem pensar. “Ele quer se arrogar em dono da verdade e aparenta ter as costas quentes, tanto que em uma reunião geral disse ter conhecimento de médicos a oferecer baixas aos docentes, sem que estes estejam efectivamente incapacitados de trabalhar. Também acusou sem provas os docentes de forma indirecta, e sem referir nomes, de subtraírem computadores portáteis da escola.”

Um terceiro docente justifica a alegada arrogância do gestor com a sua “pouca idade”. Para ele, o problema é até mais abrangente, com escolha de técnicos com pouca experiência para estarem a gerir instituições e que acabam por usar a prepotência. “Para se ter uma ideia, o director chegou a fazer uma publicação no Facebook e, quando advertido, alegou que é um jovem ‘swag’. Há dias encontrei um colega estupefacto porque foi por três vezes impedido de entrar na direcção pedagógica para fazer a marcação de testes. Exigiram que, primeiro, ele terá de fazer a sua inscrição na secretaria. É o cumulo. No meu caso, com os meus muitos anos de trabalho, não vou aceitar esta humilhação. Se assim for, neste trimestre os meus alunos vão ficar sem prova escrita”, ilustra. 

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Esta fonte relata um outro “caso de desrespeito” para com um docente com problemas de saúde, que foi falar com o director e foi desacatado. “Ele insultou este colega perguntando-lhe se os seus problemas são mentais. É muito complicado.  Por isso, nos últimos tempos tenho optado por permanecer na escola apenas o tempo necessário das aulas. O clima está demasiado pesado, há muita fricção e muito mal-estar entre os docentes e a direcção de uma escola, que já teve Rolando Martins e Marina Ramos como responsáveis. Estamos a falar de pessoas de fino trato que procuravam o diálogo.” 

Donaciano Oliveira, director da EICM

Regras de bom funcionamento 

Confrontado, o director da EICM afirma que todas estas reclamações surgiram após uma assembleia-geral realizada na Quinta-feira Santa, 6 de abril, em que foram anunciadas algumas regras para o “bom funcionamento” da escola, mas que não foram bem recebidas pelos professores. “Uma das regras tem a ver com a não permanência dos alunos nas salas de aula durante o intervalo porque danificam os materiais, pixam as paredes, riscam as carteiras, entre outras atitudes. Era uma medida para ser adoptada há mais tempo, que demorou devido a necessidade de colocar fechaduras nas portas das salas”

Segundo Donaciano Oliveira, a medida que terá desagrado os professores não é receber as chaves dos contínuos e devolve-las no final das aulas, mas sim a deliberação de se anunciarem antes de entrarem na secretaria e na direcção. “As pessoas, professores e contínuos, querem entrar e sair sem qualquer obstáculo. Temos na escola mais de uma centena de professores e, muitas vezes, estão em número significativo nestes espaços, criando algum caos e dificultando os trabalhos. Precisamos de regras e de alguma paz para trabalhar mas, volta e meia tem alguém batendo aqui na porta da direção”, desabafa, lembrando que tem de lidar com 154 funcionários e 1.400 alunos. “Se não tivermos regras não podemos funcionar. No meu caso, tenho de dar respostas ao serviço central, aos professores e à comunidade. Preciso de sossego para acatar e para responder as deliberações do Ministério.”

Foi com este entendimento que, afirma este nosso interlocutor, impôs a necessidade de se fazer uma triagem na secretaria. Mas, admite, os professores estão a resistir. “A próxima medida desta direcção é montar um sistema de PBX porque eu, enquanto director, não posso ficar a levantar-me constantemente da minha cadeira para comunicar com os meus subdirectores e com a secretaria, e vice-versa. Estas regras não são novidades. Já tinham sido partilhadas no Conselho Pedagógico, que é o órgão de gestão da escola. Na Assembleia-Geral limitei-me a fazer a sua socialização. De imediato, percebi o desagrado de algumas pessoas, mas as medidas são para cumprir”, assegura. 

Comportamentos infantis 

Ainda no decurso da Assembleia-geral, refere Donaciano Oliveira, foi obrigado a ausentar-se porque tinha um encontro com a Direcção do Emprego, estando previsto uma palestra de uma técnica do Centro de Saúde de Chã de Alecrim sobre gestão emocional, mas os docentes simplesmente não deixaram a técnica falar. “Fui informado que foi um caos. Os professores não tiveram sossego para ouvir. Havia muita conversa paralela. Foram chamados à razão e continuaram com o mau comportamento. Foi uma falta de respeito para com esta profissional, que se deslocou do seu serviço para fazer a palestra, que é uma orientação do próprio Ministério da Educação. Chegaram ao cúmulo de ir na folha de presença e, ao lado do meu nome, escrever ausente”, descarrega. 

Apesar de jovem, o director afirma que tem 16 anos de trabalho como professor na EICM e foi aluno desde o 9º de escolaridade nesta instituição. Diz que conhece os docentes, inclusive foi aluno de alguns deles, e conhece a escola como a palma da sua mão, por isso não vai se deixar boicotar. “Quem apostou na minha pessoa percebeu em mim alguma capacidade para gerir esta escola. Não é fácil. Tenho aqui no meu pessoal operacional pessoas com problemas de saúde, alguns com vícios, que querem fazer o que querem. Tenho subdirectores que pediram para sair, muito por culpa da parte recursos humanos”, enumera.

Relativamente a acusação de levantar suspeitas de roubo sem provas, Oliveira alega que levou o assunto para a AG, limitando a informar o desaparecimento de equipamentos, devido a falta de controlo. “Estou a exigir um maior controlo. Para isso, impus a requisição dos equipamentos na secretaria, com um funcionário a entregar e receber os mesmos na hora da devolução, fazendo a certificação antes de voltar a colocá-los nos armários. Infelizmente, por causa do horário, não temos um funcionário exclusivo para fazer este serviço.”

Ambiente tenso 

Este responsável contesta, por outro lado, a afirmação de ambiente tenso reinante na escola. Admite, no entanto, que têm surgido alguns conflitos, sobretudo nas salas de aula entre professores e alunos. Sobre este particular, revela que emitiu uma outra deliberação que impede os pais/encarregados de educação de procurarem os docentes nas salas como medida de prevenção. Paralelamente, diz, tem apelado aos professores para evitarem embates com os alunos porque afecta a todos e são cansativos para a direção. Isto porque, enfatiza, criam os conflitos, mas não conseguem geri-los. Passam depois para os directores de turma, sub-direção pedagógica, Conselho de Disciplina que é constituído por alunos e docentes, e, por último, para a mesa do director. 

Tenho outras responsabilidade, entretanto, tenho que interromper o meu trabalho para resolver os conflitos criados nas salas de aula e que poderiam ser evitados. Estes ganham uma dimensão como uma bola de neve e tenho de encontrar solução. Sempre tento recorrer ao diálogo, mas nem sempre é possível. Às vezes os pais/encarregados de educação colocam pressão. Já tive em mãos um caso em que um aluno acusava um professor de perseguição. O encarregado de educação veio aqui na escola, enviou uma série de cartas e estava inclusive disposto a recorrer ao ME. Mas, quando chamei o professor na direcção, este disse que ia accionar o seu advogado e recusou dialogar.”

Donaciano Oliveira cita ainda um caso em que houve 100% de negativas em uma turma na disciplina de Matemática e que, quando tentou falar com o docente, este se defendeu dizendo que está cientifica e tecnicamente preparado para ensinar, para falar comigo e/ou com quem for. “Alguns professores têm um ego enorme. Será que, num caso como este, a culpa é exclusivamente dos alunos? Os professores esquecem que a sua matéria-prima são os alunos”, indica, realçando que sempre que há conflitos tenta ouvir todas as partes envolvidas, trabalho feito também pelos sub-directores, e cruzam as informações.

O citado director traz à baila um outro caso em que um professor queria resolver um conflito por seus próprios meios, quando um encarregado de educação, também ele docente, reclamou da correção de um teste. Segundo as suas palavras, o pai entrou em contacto directo com o professor e os dois entraram em choque, somente depois este procurou a direcção da EICM. “Fui ver o teste e, em uma questão, o professor pedia aos alunos para transcreverem uma frase mas, possivelmente por falta de tempo, o aluno, preencheu os espaços em branco apenas com as palavras-chave. Em quatro, acertou três, mas o professor considerou a resposta errada. O docente alegou que declarou dentro da sala frases complexas e que os alunos precisam conhecer as regras, mas esta exigência não constava da grelha de correção. Estamos na escola para ensinar, mas temos de ser flexíveis”, frisa. 

Com este entendimento, o director afirma que pediu ao professor para rever a correção, até porque o aluno teve oito valores e, se a resposta fosse considerada, teria positiva. Mas este recusou e assunto ainda está pendente na direcção. Tudo isso para mostrar os desafios com que se depara no dia-a-dia. 

Agora que a corda foi esticada em demasia, tudo indica que será muito difícil os docentes da Escola Técnica e a direção entrarem em acordo, pelo que se adivinha um arrastar da situação, com prejuízo sobretudo para os discentes. 

A Escola Técnica do Mindelo tem uma comunidade constituída por 155 docentes, incluindo o director, e 1.400 alunos – 600 na via técnica – , distribuídos por sete áreas: Artes Gráficas, Construção Civil, Mecanotecnia, Eletrotécnica e Eletrónica, Contabilidade e Administração, Informática de Gestão e Administração de Sistemas Informáticos e de Sistemas de Bases de Dados. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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