A Polícia Marítima apreendeu hoje três camiões em plena extração de areia nas dunas de Salgadim, na Salamansa, situação que provocou a indignação dos ajudantes e camionistas. Entretanto, enquanto estavam reunidos em frente ao Porto Grande, o deputado e vereador Antonio Monteiro chegou ao local e, em conversa com o Mindelinsite, admitiu que partiu da sua pessoa a autorização para os camionistas apanharem o inerte nessa área.
“Enquanto vereador, assumi num encontro com os camionistas que, se a Câmara de S. Vicente não colocasse uma máquina no Lazareto, junto ao Morro Branco, para poderem abastecer os seus clientes com areia e, desta forma, permitir a dinâmica da construção civil na ilha, que pessoalmente assumiria a responsabilidade e os autorizaria a apanhar esse inerte em Salgadim”, afirmou Monteiro, adiantando que isso veio mesmo a suceder. Questionado se tem essa autoridade, ainda mais sendo um vereador sem pelouro, este eleito camarário pela lista da UCID respondeu que é um vereador e que não tem relevância o facto de não ter nenhum pelouro.
“Tomei essa decisão exactamente para fazer as coisas acontecerem e serem resolvidas. Eu é que autorizei e assumo isto de forma clara”, declarou o também deputado nacional.
António Monteiro explica que tinha sido informado num encontro com os camionistas realizado na sexta feira das dificuldades que estavam a enfrentar para conseguir areia no Morro Branco. Isto porque, conforme os proprietários, raramente encontram o inerte disponível para recolha, apesar de comprarem senhas na CMSV. E, se forem remover a areia que encontram no chão, são impedidos pelos fiscais.
Ao saber disso, segundo o vereador, telefonou de imediato para o edil Augusto Neves, mas este estava ocupado numa reunião. Deste modo, entrou em contacto com um vereador, colocou-lhe a par do assunto e este prometeu resolver a questão. “E passei a informação aos camionistas”, diz Monteiro, que foi, entretanto, contactado de novo pelos camionistas, no período da tarde de sexta, porque o problema persistia.
Assegura que voltou a abordar o vereador, que lhe explicou que foi houve um engano, por isso não foi possível deslocar uma máquina na sexta-feira para extrair a areia a ser vendida aos camionistas, mas que tudo ficaria resolvido este sábado de manhã. Só que nada aconteceu. Assim sendo, diz Monteiro, acabou por autorizar a extração em Salgadim por sua inteira responsabilidade.
Hoje de manhã, enquanto os camionistas estavam reunidos em frente ao serviço da Polícia Marítima, no Porto Grande, António Monteiro teve um rápido encontro com o Graduado de Serviço e foi informado que a Polícia agiu porque as dunas de Salgadim são uma zona de reserva natural protegida. Assume que desconhecia essa lei e que iria agora se inteirar da mesma para poderem ver como solucionar a questão.

Os proprietários Antão Silva e António Soares confirmam que têm enfrentado grandes dificuldades em conseguir areia no Morro Branco, local indicado pela Câmara de S. Vicente para adquirirem o material. Explicam que, apesar de a autarquia ter assumido a responsabilidade de preparar a areia para carregamento, isto não tem estado a acontecer faz algum tempo. E, prosseguem, se os ajudantes tentarem recolher o inerte no chão com recurso a pás e picaretas são impedidos pelos fiscais por motivo de segurança, devido aos deslizamentos que já soterraram alguns profissionais nessa área.
Antão Silva explica que a sua viatura foi apreendida em Salgadim, uma zona afastada do mar, quando já estava carregado de areia. “Recorremos a essa zona porque no Morro Branco, onde é permitido, não nos fornecem areia. Entendo que a Polícia Marítima fez o seu trabalho, mas alguém tem de resolver esta questão. O mercado da construção civil precisa ser abastecido e estes homens precisam trabalhar para sustentarem as famílias”, reclama, assumindo, entretanto, que tem também a preocupação com os aspectos ambientais.
“Cambalacho”
António Soares reforça que, devido as mortes ocorridas no Morro Branco, ficou acordado que a Câmara de S. Vicente assumiria a responsabilidade de colocar uma máquina para preparar os montes de forma segura, mediante o pagamento de uma senha de dois mil escudos. Só que isso não tem estado a funcionar, alegadamente devido a uma avaria no referido equipamento há cerca de dois anos. Assim sendo, os camionistas, segundo este proprietário, têm usado as dunas de Salgadim, na Salamansa, como alternativa.
Questionado sobre o motivo de a Polícia Marítima ter realizado hoje esta operação, se, como diz, têm estado a recorrer à zona de Salgadim, António Soares responde nos seguintes termos: “Gosto de falar claro e sobre aquilo que posso provar. Isto aconteceu porque está instalado um grande cambalacho nesta ilha de S. Vicente. Por exemplo, temos um colega camionista que nos vende senhas para aquisição de areia no Lazareto e que são aceites. Gostaria de saber como isto é possível e porquê ele”, revela o camionista, que mostrou ao jornalista foto da referida senha como prova.
O curioso, como ele próprio enfatiza, é que a senha, do tamanho dos bilhetes de autocarro, não tem carimbo e tem escrito no topo “Ribeira das Patas – Santo Antão”. Esta senha, prossegue, custa dois contos, o preço aplicado pela CMSV, e é totalmente diferente daquela que compram na autarquia, mas tem sido aceite quando apresentada no Morro Branco. António Soares acha que a Polícia Marítima terá sido alertada por alguém envolvido com o negócio já que os camionistas resolveram parar de comprar a tal senha.
Confrontado com esta questão, o vereador António Monteiro disse que já estava a par, mas que só ontem teve a oportunidade de ver essa tal senha. Assegura que mostrou uma foto da mesma à Polícia Nacional porque, na sua opinião, isto não é normal. Segundo Monteiro, um bem público municipal não pode estar a ser negociado por um privado e sem transparência.
O Mindelinsite tentou entrar em contacto com o Comandante a Polícia Marítima, mas tal não foi ainda possível.