Foram algumas dezenas de pessoas que responderam ao chamado do grupo de cidadãos mindelenses para uma concentração e fazer um minuto de silencio em solidariedade para com o povo da Ucrânia e também para os russos que não querem a guerra. Formaram uma espécie de uma roda de diálogo, talvez para ficar mais perto dos oradores-convidados. Mas nada que desmotivasse os presentes. Aliás, como fez questão de dizer o Bispo do Mindelo, podia ser apenas uma pessoa em súplica que já valia a pena.
Don Ildo falou da coincidência da concentração hoje, 02 de março, com o convite feito pelo Papa Francisco, enquanto irmão universal e instrumento de paz, para se fazer uma jornada de jejum e oração esta quarta-feira. “Pode parecer nada. E, como ouvimos o nosso irmão Muller dizer, a nossa voz se calhar não vai chegar perto de Putin e nem tão perto. Mas não interessa. O que contam são as atitudes e, neste sentido, na nossa sociedade muitas vezes faltam gestos de solidariedade”, afirmou, deixando claro que é preciso dar a cara porque há muitos lugares no mundo com gente a sofrer, a ser explorada e violentada.
Descreveu ainda do sofrimento da população da Ucrânia, mas também da Rússia, especialmente daqueles repudiam esta guerra, e lembrou as guerras em África e na América Latina, para concluir que o amor é mais forte e deixou claro que Deus triunfará. “Isto é bom para nos animar e nos estimular a continuar a acreditar, de crescer em solidariedade e confiança em Deus”, disse, realçando mais adiante que as guerras com dimensões cósmicas começam dentro de cada um, à nossa volta e da nossa família porque o mundo está muito preocupado com os seus interesses. “Este é um mundo egoísta.”
O Bispo do Mindelo terminou convidando todos os presentes a rezar o “Pai Nosso”. Antes, o professor Muller, que é presidente da Manthamo – Universidade da Vida, também já tinha apelado à oração, diante da impotência e da ausência de palavras. Este lembrou ainda uma concentração similar, realizada há mais de 20 anos no mesmo local em que participou, por altura do genocídio que se verificava em Timor-Leste e que, coincidentemente, terminou logo no dia seguinte. “Estamos aqui pela paz e para prestar solidariedade aos povos que sofrem com as decisões egoístas deste mundo. A guerra, de qualquer natureza, é sempre estúpida”, afirmou, realçando que a guerra só acontece quando alguém quer humilhar ou oprimir.
“A guerra é um atestado, sinônimo de incompetência humana para resolver os seus conflitos de forma pacifica” prosseguiu, reconhecendo que, dificilmente o gesto dos mindelenses pode afectar ou fazer a diferença na Ucrânia. Aliás, admitiu o professor J. Muller, é possível que ninguém nunca venha a saber que um grupo de cabo-verdianos um dia estiveram reunidos na cidade do Mindelo a pedir paz para a Ucrânia e que Putin parasse as agressões.
Antónia Mosso, que fez parte do grupo que organizou a concentração, explicou que a acção foi em solidariedade para com a Ucrânia e ao povo daquele país que está a sofrer. Mas foi também para com a população russa que está contra esta guerra. Igualmente, chamar a atenção das pessoas porque Cabo Verde pertence a uma comunidade humana, tem de estar sempre atento e se posicionar, independentemente da sua situação geográfica. “Há valores que estão em cheque: a democracia, a justiça e a liberdade. Não podemos aceitar que um país seja invadido e esmagado, com uma desproporção de meios e ficar indiferentes. Estamos aqui para mostrar a nossa indignação e repúdio a tudo o que seja abuso, injustiça e violência.”
Mas o pontapé de saída foi dado por Carlos Araújo, que falou do amor que gera liberdade, lembrou que o homem está constantemente a procura de liberdade e afirmou que tudo o que pode tolher o homem é um erro grave. Enquanto mentor da concentração, Araújo também referiu ao outro lado do amor, ou seja, a raiva e ao ódio que, na sua ótica, gera incompreensão e guerras fratricidas, como este da Ucrânia. “Estamos aqui em nome da paz e do amor, que gera liberdade, mas também para condenar qualquer acto capaz de tolher a liberdade do homem. Somos contra esta guerra e queremos que as hostilidades parem imediatamente.”