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Jovem agredido com uma facada no pescoço no ‘enterro’ do Carnaval de São Vicente 2020

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Um jovem de 21 anos, residente na Ilha da Madeira, foi agredido com uma facada no pescoço no término do desfile de mandingas que marcou o enterro do Carnaval de S. Vicente 2020 e que juntou uma multidão impressionante. Fonte do Hospital Baptista de Sousa abordado por Mindelinsite garante que o jovem está neste momento no bloco operatório do Hospital Baptista de Sousa, contrariando as informações iniciais que apontavam para a morte do jovem, pelo que prometemos continuar acompanhar este caso e avançar com mais informações, logo que for possível.

Esta festa começou por volta das 14 horas. Nesta altura, todos os caminhos conduziam ao estaleiro dos mandingas da Ribeira Bote, na Ilha da Madeira, onde um número significativo de pessoas se preparava para o maior desfile do Carnaval de São Vicente. Espremiam entre as ruelas estreitas da zona para se aproximar o máximo possível do estaleiro. Lá alguns artistas de ocasião davam retoques no “caixão” feito de papelão, que seria descartado no mar no final do desfile, simbolizando o enterro da festa do Rei Momo, enquanto os tambores se aqueciam para a festa, que prometia ser longa. 

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A expectativa era grande. E nem a morte de uma pessoa, a poucos metros dos estaleiro, desanimava os foliões. “Uma pessoa querida para os mandingas faleceu hoje. Fomos falar com os familiares, que não viram qualquer problema em continuar com o nosso desfile. Por isso decidimos prestar-lhe uma homenagem antes da partida”, explicou ao Mindelinsite, “Totone” Monteiro, que neste momento dá a cara pelos Mandigas de Ribeira Bote, em substituição do presidente, ausente por motivo de doença. 

O cortejo partiu de Ilha da Madeira mas, em frente ao Mercado da Ribeirinha, engrossou com os grupos de mandingas oriundos de todas as zonas, mas também com muitos populares. A partir de então o número de pessoas só aumentou até o final do desfile, na “Praia d’ Cachorro”, no lado direito do Floating Studio. Ocupavam ruas, passeios, parapeito, janelas e varandas das casas, sempre com o móvel a registar a movimentação.

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Totone fala em milhares de pessoas. “Temos tido, ao longo de todos os domingos, um grande número de pessoas nos nossos desfiles. Mas hoje a expectativa era enorme porque toda a população da ilha estava a espera do ‘enterro do Carnaval. Vieram pessoas de outras ilhas e da Europa propositadamente para participar deste certame”, celebrava o chefe dos mandingas, que fala em 10 a 12 mil pessoas, sendo arrastados por uma potente bateria e por um trio com grandes nome do Carnaval de São Vicente, entre eles Paulo Bloc, Edson “Sampê” Oliveira e Anisio Rodrigues. 

Balanço positivo 

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Apesar do número de pessoas, Totone fazia, a meio percurso, um balanço positivo, principalmente porque, afirmava, este ano, ao contrário dos anteriores, não receberam nenhum advertência da policia. “Todos os nossos desfiles decorreram sem percalços. As vezes, depois que regressamos ao estaleiro, acontecem escaramuças ou brigas, incluindo com alguns feridos de arma branca, que nada tem a ver com o nosso desfile. Mas as pessoas acabam por associar estes incidentes aos mandingas”, lamentava

Questionado sobre as razões para esta grande adesão das pessoas aos mandingas em S. Vicente, este limita a dizer que paixão não se explica e nem se justifica. “Cada dia recebemos mais gente no nosso estaleiro que querem desfilar com os mandingas. As nossas portas estão abertas. Recebemos pessoas de todas as zonas da cidade, mas também de fora, por exemplo de Salamansa. Vêm gente de outras ilhas e também da diáspora. Muitos estrangeiros que etno de visita ou residente na ilha também querem pintar com carvão e participar no no nosso desfile. É um amor sem limite”

Neusa Rodrigues concordava com Totone. Ao Mindelinsite, esta jovem da Ribeira Bote contava que experimentou vestir de mandinga uma vez e nunca mais parou. Hoje assume-se como uma “mandinga losers”. “Gosto de vestir o personagem, pintar de carvão e fazer a dança dos mandingas. Entro completamente no espirito. Hoje espero ansiosamente por esta altura do ano para mostrar o meu amor pelos mandinga. E não penso parar nunca”.

O mesmo discurso era repetido pela fotografa italiana Natacha que, apesar de não entender e nem falar português correctamente, cantava e dançava todas as músicas dos mandingas. “Vim da Itália para assistir o Carnaval, mas gosto particularmente dos mandingas. É o meu terceiro ano  aqui e penso voltar no próximo ano, se Deus quiser. Faço questão de pintar com carvão, vestir saias de saco e divertir nos desfiles de mandinga”, refere. 

Os mandingas contam com apoio da Câmara Municipal de São Vicente, de varias empresas sediada na ilha e que têm se aproximada espontaneamente destes grupo e da própria população. A prova disso foi a acção de solidariedade realizada no primeiro domingo de desfile dos mandingas e que mobilizou uma grande quantidade de alimentos perecíveis, que foi entregue a família afectada pelo incêndio numa residência na Pedra Rolada, no dia 31 de Dezembro, e que vitimou três crianças.  

Nada previa a noticia do final do desfile, que apontava para a morte do jovem Fabi, de 21 anos, entretanto prontamente desmentida por fonte do hospital. Este confirmou a agressão, mas garantiu que o jovem estava no bloco operatório. Por esta altura, um grande numero de pessoas está concentrado na porta do Banco de Urgência do HBS a espera de informações sobre este jovem. Mas o hospital ainda não emitiu qualquer nota, pelo que prometemos retomar o assunto posteriormente.

Constança de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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