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Mulher residente em S. Vicente aceita pedido de amizade e cai em golpe cibernético praticado supostamente por angolano

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Apenas 15 contos e uma lição aprendida, este foi o preço pago por uma mulher de 51 anos vítima de um crime cibernético em S. Vicente. O prejuízo poderia ser muito superior se não tivesse sido alertada por familiares sobre o golpe, pois ER estava prestes a entregar mais 50 contos solicitados por um indivíduo, que se passou por funcionário da empresa Fedex em Angola. Caso tivesse ido avante, certamente que este montante seria recolhido em Angola, destino do primeiro valor que transferiu via Western Union para supostamente pagar uma taxa de desalfandegamento de uma “rica encomenda” ofertada pelo seu “noivo”. Tudo falso, como ficou óbvio.

A história de ER começou em novembro do ano passado quando recebeu um pedido de amizade de “Rodrigo Otávio“, um “simpático viúvo de cabelos grisalhos” que tem nada menos que três contas no Facebook. Em duas delas nasceu em Portugal, andou na escola America’s Got Talent e na terceira nasceu no México e estudou no Nissan.

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Do Facebook, os contactos passaram para o Whatsapp, onde ER e “Rodrigo” costumavam deitar “conversa fora”. Até que um belo dia, o “amigo” resolveu pedir-lhe em namoro. “Respondi-lhe que isso não seria possível porque moramos muito longe um do outro”, respondeu ER.

Muito “apaixonado”, RO retorquiu que as coisas poderiam dar certo desde que tivessem confiança um no outro. Um argumento que desarmou ER. “Neste caso, disse-lhe que poderíamos tentar e ver como as coisas iriam evoluir”, reformulou a mulher de 51 anos, funcionária de limpeza de um complexo na cidade do Mindelo.

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A partir desse instante, RO passou a tratar ER como “minha futura esposa” e a chamá-la de “mor” nas conversas. Foi num desses contactos que RO quis saber se ER iria receber alguma prenda pelo Natal. Quando soube que ainda não havia nada certo no horizonte, o “futuro esposo” resolveu que iria enviar-lhe uma “pequena e amorosa encomenda”. Mas, foi logo advertindo ER que teria de pagar uma taxa de envio. “Coisa pouca”, que ela saberia no momento certo pela empresa Fedex.

Para mostrar que estava a falar sério, RO enviou fotos das “prendas” que estava a comprar para a “amada”: roupas, sandália, perfume e… um pacote de euros. Muitos euros.

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Contactada por “funcionário” da Fedex

Logo após o Natal, ER foi informada por RO que seria contactada por um “funcionário” da Fedex sobre o valor da taxa para poder receber a encomenda. Dito e feito. Minutos depois recebeu uma chamada telefónica com indicativo de Angola (identificada pelo nome “Empresa”) informando-a da “encomenda”. Ficou a saber que eram 15 pacotes, cada um com um quilo, e que a taxa ficaria por 15 mil escudos cabo-verdianos. No seguimento, ER ficou a saber que deveria enviar o montante via Western Union para “Alfredo Silva”.

Como não dispunha do montante, ER entrou em contacto com RO, que lhe “aconselhou” a pedir um empréstimo, que devolveria sem problemas porque havia um “bom montante em dinheiro na encomenda”. Mas, prosseguiu RO, jamais deveria dizer isso a ninguém, principalmente ao pessoal da Fedex.

De seguida, ER recebeu mais uma chamada da “Fedex”. Do outro lado disseram-lhe que, após passarem os pacotes no scanner, notaram que um deles tinha muito dinheiro e se ela não sabia que isso era proibido. “Respondi que não, tal como fui instruída por Rodrigo Otávio”, conta a nossa entrevistada. Nisso, foi informada que poderia receber essa encomenda desde que enviasse mais 50 contos em contrapartida.

Ao notar que ER não iria continuar a enviar-lhe dinheiro, o “funcionário” telefonou-lhe e disse-lhe que, caso fosse despedido do trabalho na Fedex, ela teria que lhe indemnizar pelos danos. Perante esta ameaça, a mulher tentou entrar em contacto com RO, mas descobriru que estava bloqueada. Entretanto, passou a receber cada vez mais chamadas do número com indicativo de Angola.

Foi nesta fase da história que familiares de ER ficaram a saber dessa novela e resolveram intervir e colocar um ponto final nesse assédio. A vítima está agora a ponderar comunicar o caso à Polícia Judiciária.

Crimes cibernéticos aumentam em Cabo Verde

Numa abordagem feita com um inspector, esta fonte assegurou ao Mindelinsite que está a aumentar o número de queixas de crimes cibernéticos cometidos em C. Verde. Salientou, entretanto, que são casos muito difíceis de serem investigados porque decorrem no mundo virtual e são praticados por pessoas residentes noutros países. Questionado se não será possível chegar à pessoa que recebeu o dinheiro via Western Union, visto que deverá ter apresentado um documento para levantar o montante, respondeu que nem sempre as coisas são tão simples. “Há países onde o levantamento de dinheiro por WU é feito apenas com a apresentação do código, o que dificulta a descoberta do receptor”, frisa o policial, para quem as pessoas devem estar cientes dos riscos presentes na internet.

Após tomar consciência do golpe, ER tentou reaver o dinheiro, mas foi informada que o montante foi levantado de imediato. Confessou à nossa reportagem que se sente triste por saber que foi enganada, mas que deixa tudo nas mãos do destino. Assegura, no entanto, ter aprendido a lição.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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