Mulher acusa agente da PN de agressão gratuita, prisão ilegal e de introduzir mão no seu sexo à procura de droga
Jocileide Silva, uma mulher de 34 anos, acusa um agente da Polícia Nacional de a ter agredido à bastonada e introduzir a mão no seu corpo genital supostamente à procura de droga. A moça, que estava menstruada na altura, afirma que o policial limpou depois o sangue na sua blusa, antes de a meter numa cela. O caso aconteceu na Esquadra de Fonte Inês na passada semana e a moça já entregou o assunto a um advogado. Abordado por este jornal, Alírio Correia, Comandante da PN em S. Vicente, mostrou-se surpreso com a ocorrência que, assegura, nunca lhe foi comunicado.
Na sua versão dos factos, Jocy, como é conhecida, conta que estava na rua triste e a chorar devido ao falecimento do seu pai. Nesse meio tempo surgiu uma rapariga que lhe pediu cigarro e isqueiro e ficaram a conversar um pouco. “Ela me dizia para não chorar, etc. e tal. Entretanto, estava com a minha bolsa ao lado – com telemóvel, cartão24, chaves, etc. – e, quando me dei conta ,ela a havia roubado. Como estava perto da Esquadra de Fonte Inês fui fazer uma denúncia na esperança que os agentes a conhecessem e a capturassem”, conta.
Segundo Jocy, abordou um agente da PN na secretaria, contou-lhe o sucedido e pediu ajuda. “Ele ficou impávido, como se eu não estivesse a falar com ele”, comenta a moça, que terá perguntado ao policial da PN duas vezes se não iam procurar a suspeita do furto. Ao ver que não estava a merecer a devida atenção, conta, decidiu sair. Já na porta da Esquadra resolve, entretanto, perguntar ao agente o seu nome.
“Ao ouvir isso, ele levantou-se bruscamente, veio ter comigo e desferiu-me uma paulada no lado esquerdo da coxa, ao mesmo tempo que me empurrava para a rua. Acabei por cair numa rampa, bater com os joelhos no chão, enquanto ele me desferia uma segunda bastonada”, revela a jovem, que nos mostrou ferimentos no joelho e hematomas na coxa, provocados supostamente pela acção do polícia.
Nesse interim, prossegue, encontrou um amigo na rua e foi chamar outro colega em casa para a ajudar. Quando os três iam descendo em direção ao centro paroquial Bom Pastor surgiu uma viatura da PN, que os abordou. Segundo Jocy, para seu espanto, prenderam o jovem que foi buscar em casa “como se fosse um bandido” quando, diz, ele não estava presente e sequer passou perto da Esquadra.
Embora preocupada com a “sorte” que estava reservada ao jovem, decidiu seguir para o hospital Baptista de Sousa acompanhada do outro amigo. “Cheguei transtornada com o que se passou comigo e porque um inocente foi preso. Após fazerem o curativo, pedi um registo de ocorrência porque, disse em bom som, fui agredida por um polícia. Negaram passar-me esse guia”, conta Jocy, que depois terá sido informada que só o suposto agressor é que podia emitir esse documento. Algo que ela considera estranho.
Deste modo, regressou para a Esquadra de Fonte Inês, mas, conta, antes de subir o segundo degrau da escada de entrada, foi recebida pelo referido agente. “Ele agarrou-me, chamou um colega, que me grampeou por trás. Perguntei-lhes o que estavam fazendo, mas não me responderam. Meteram-me à força na Esquadra”, prossegue.
Já dentro da Esquadra, diz, viu o mencionado policial a calçar luvas e pressentiu logo que a ia “revistar”. “Eu disse-lhe que sou mulher e que ele não pode tocar no meu corpo. Mas ele não me ligou: aproximou-se e introduziu uma mão no meu sexo, alegadamente à procura de droga”, conta a jovem. Segundo Jocy, como estava menstruada, a luva ficou suja de sangue, tendo o agente a limpada na sua blusa. “E ainda me chamou de porca.”
Sem entender o que se passava, Jocy foi fechada na cela onde estava o amigo detido. Esta garante que não lhe permitiram contactar ninguém e que sequer lhe deram voz de prisão. Assim, acabou por passar a noite na Esquadra e levada para o Tribunal com o amigo no dia seguinte por volta das 11 horas. “Eu exalava um cheiro nauseabundo por causa da menstruação. Se eu estava sentindo o cheiro imagina outras pessoas presentes no Tribunal. Senti-me mesmo mal”, desabafa a moça. No Tribunal, diz, uma magistrada mandou que fossem soltos e fosse aberta uma averiguação do caso. Entretanto tentou saber junto da Procuradora da República o motivo da sua detenção mas recebeu apenas como resposta que devia falar melhor com os policiais. Ao ouvir esta resposta, Jocy ficou ainda mais indignada porque, diz, sequer lhe deram oportunidade de explicar o ocorrido.
“Comprar” briga com a PN
Jocy afirma que decidiu revelar este caso por si e por tantas outras vítimas que terão passado por uma situação similar, ciente de que está a comprar uma briga com a Polícia Nacional e com o próprio Estado de Cabo Verde. Ela garante que apresentou queixa do furto e que entregou o seu caso à responsabilidade de um advogado, que vai formalizar uma queixa-crime contra o tal agente da PN.
Esta manhã, a reportagem do Mindelinsite procurou contactar o suposto agente agressor na Esquadra de Fonte d’Inês. Fomos informados que ele só entrava de serviço à meia noite. Fomos recebidos pelo chefe da Esquadra, que nos informou que apenas o Comandante Regional poderia falar do assunto. Deste modo, fizemos um contacto com Alírio Correia no seu gabinete. Este, após ouvir a versão da vítima, mostrou-se preocupado e surpreso.
Segundo o Comandante, em nenhum momento foi informado dessa ocorrência, pelo que iria apurar o caso e abrir uma investigação. “Se isso for verdade é muito grave”, reconhece o oficial.