O taxista Mian Tavares vai fazer uma “passeata” no dia 4 de fevereiro, acompanhado dos dois filhos menores, para assinalar um ano do falecimento da esposa Cátia Cristina, vítima de um acidente de viação junto a rotunda da Enacol na zona de Fonte Meio, em S. Vicente. Mian, como é tratado, vai entregar uma carta à Câmara de S. Vicente para a autarquia cancelar a pensão de mil e 800 escudos atribuída aos filhos dessa falecida funcionária municipal, com contrato assinado em 2007. Logo de seguida irá entregar outra missiva ao Comando da Polícia Nacional a pedir uma fiscalização mais rigorosa do departamento de trânsito das viaturas da CMSV que, na sua opinião, continuam a transitar em claro desrespeito pelas regras de segurança.
“Vamos pedir à CMSV para cancelar a pensão de 1.800 escudos porque os meus filhos não são mendigos. Quanto à PN, sabemos que os agentes de trânsito já tinham chamado a atenção da CMSV sobre o risco do transporte de pessoas na caixa da viatura afecta aos Espaços Verde, mas vamos pedir à Polícia para ser mais firme porque a Câmara continua a cometer essa mesma infração”, especifica Mian Tavares.
O taxista fez questão de contactar o Mindelinsite para lembrar que hoje, dia 28 de janeiro, completou um ano sobre o acidente de viação que vitimou a esposa, após cair da caixa do camião usado pelos funcionários dos Espaços Verdes. Porém, diz Mian Tavares, ainda aguarda pelo cumprimento de promessas feitas alegadamente pelo presidente da autarquia mindelense à sua pessoa e aos seus filhos. Segundo esta fonte, Augusto Neves chegou a prometer na comunicação social que ia dar “todo” o apoio à família da ex-funcionária, que deixou 3 filhos, e disse-lhe pessoalmente que iria empregar-lhe como condutor da CMSV.
“O presidente veio à minha casa dar-me os pêsames e disse-me à frente dos meus filhos que alguns condutores da CMSV iriam para a reforma e que iria arranjar-me um emprego. Pediu-me inclusivamente para ir entregar-lhe os meus documentos à sua casa, o que eu fiz”, revela Mian. O marido da vítima adianta que Neves lhe disponibilizou o seu número de telemóvel para estabelecerem contacto e que isso aconteceu por algumas vezes. “Só que depois ele parou de atender as minhas chamadas e as minhas mensagens”, prossegue Mian.
Para ele, ficou claro que Augusto Neves estava apenas a tentar evitar que o caso do acidente fosse explorado politicamente nas campanhas. Passado esse período e confirmada a vitória do MpD, diz, o edil cortou os contactos, visto que, na verdade, ele não pretendia cumprir os compromissos. “Quero por isso expor a forma como o presidente agiu com uma família que perdeu alguém da forma trágica como aconteceu com a minha esposa”, frisa Mian, que decidiu acionar judicialmente a CMSV em meados de Outubro, ao se aperceber que a autarquia não iria cumprir as supostas promessas do autarca. O taxista adianta que apenas a filha mais velha de Cátia foi empregada pela CMSV.
Condutor profissional, Mian Tavares mostra-se indignado com as infrações cometidas pela CMSV no transporte de funcionários e que levaram à queda fatal da esposa. Este recorda que a própria PN chegou a parar o camião do serviço dos Espaços Verde algumas vezes e a exigir o cumprimento das regras de segurança à CMSV.
O Mindelinsite teve acesso ao relatório do inquérito ao acidente e nesse documento fica claro que a funcionária estava de pé na carroçaria porque a caixa estava suja. A mesma acabou por perder o equilíbrio e cair junto ao passeio da residência da dentista Madalena, logo após o camião contornar a rotunda e preparar-se para apanhar a subida em direção à zona de Cruz João Évora.
Cátia Crisina, 38 anos, foi perdendo o equilíbrio e caiu em “câmara lenta”, conforme depoimento de um dos colegas. Os funcionários desconfiam que, após embater no chão, ela foi atingida na zona do abdómen pela roda traseira do camião.
Pelo menos dois colegas saltaram do carro ainda em movimento para a socorrer, enquanto que outros bateram no tejadilho e pediram ao condutor para parar a viatura. Cátia perdeu os sentidos, mas foi acordada por um colega. Ao abrir os olhos disse que estava com dores de cabeça e pelo corpo e quis levantar-se do chão. Foi, no entanto, impedida e mais tarde transportada para o hospital pelos Bombeiros Municipais. A vítima viria a falecer cinco dias depois devido aos traumatismos sofridos na queda.
Ficou claro no inquérito que o transporte do pessoal na caixa do camião era ilegal, mas, segundo a inquiridora, os serviços municipais chegaram a emitir uma ordem obrigando os funcionários a circularem sentados na caixa da viatura. Porém, colegas da malograda asseguraram que o camião estava sujo nesse dia e que Cátia preferiu ir de pé para não sujar a roupa e proteger a sua saúde.
A relatora conclui que, o facto de a carroçaria estar suja não justificava o risco corrido pela funcionária de viajar de pé. A seu ver, bastava-lhe limpar o local onde queria sentar-se, mesmo que fosse com a ajuda dos colegas.
“A ordem de serviço mostra-se insuficiente por ser real o risco de incumprimento por parte dos trabalhadores”, diz a inquiridora, lembrando que havia sempre a possibilidade de o carro ficar sujo devido a sua utilização. Conclui ainda que existe o risco real de acidentes do tipo voltarem a acontecer e com eventuais desfechos fatais. Deste modo entende que essa situação pode ser evitada com uma fiscalização mais apertada da parte das entidades competentes e que sejam aplicadas multas aos infractores.
Para se evitar esse tipo de acidente, recomenda que seja proibido de imediato o transporte de trabalhadores em viaturas de caixa aberta. E que, enquanto a CMSV esteja a criar as condições seguras de transporte dos funcionários, sejam criadas condições nos carros existentes, nomeadamente através da instalação de assentos.