Esilda Inocêncio, 74 anos, reclama junto da Câmara de São Vicente o título de um terreno contiguo a sua casa, localizado Trás do Cemitério. A idosa alega que comprou o lote, pagou 56 mil escudos, mas nunca conseguiu ter acesso aos documentos comprovativos. O assunto já passou por pelo menos três presidentes da CMSV, sem um desfecho, pelo que ameaça recorrer ao tribunal porque, afirma, o dinheiro foi ganho com “muito esforço”.
Magoada, Esilda afirmou ao Mindelinsite que há anos tenta obter a certidão matricial dos três metros de terreno ao lado da sua residência, sem sucesso. “Comprei o lote, que vai da minha casa até a parede de um prédio vizinho, e nunca recebi a documentação. Fui a primeira moradora de Trás de Cemitério. Construiu a casa onde ainda resido em 1984. Mas quando decidi levantar as paredes do terreno extra, que tinha adquirido para construir mais alguns quartos porque a minha casa é pequena e sempre acolhi meninos de rua, os pedreiros decidiram erguer uma parede torta. Quando regressei do trabalho, questionei o pedreiro e este alegou que o terreno era diagonal”, explica.
De imediato, pedi para suspender as obras para poder esclarecer o assunto junto da CMSV. Desde então, conta, já esteve na Câmara por diversas vezes, mas nunca consegui uma decisão clara sobre a titularidade do terreno. “Tenho todos os documentos que atestam que comprei o terreno, mas acabaram por cortar um pedaço. Então fui reclamar e alegaram que não tinha pago o outro pedaço. Desembolsei mais 56 mil escudos. O presidente na altura era o João Faria. Enviaram uma equipa técnica, que fez as medições da forma que lhes apeteceu. Fiquei com um ´cotche` com 43,20 metros2. Não tenho direito a parte traseira. Em 2016 pedi a divisão do lote em dois, mas a CMSV deferiu o meu pedido”.
Analfabeta, Esilda Inocêncio diz que foi enganada porque pagou duas vezes, sendo que a última em 2001. Infelizmente, não recebeu o comprovativo de pagamento. Desde então, já reuniu com os presidentes João Faria, Isaura Gomes e Augusto Neves, mas não consegue uma resposta. “Sempre que vou falar com os presidentes, os arquitetos não me deixam falar. Sinto que estão a roubar o meu direito e a minha reação é sempre o choro porque sinto-me impotente. Da última vez, o presidente Neves pediu-me para não chorar e respondi que o choro era porque não estavam a me deixar expressar e reclamar o meu direito”, pontua, que apela à intervenção das autoridades.
A idosa mostra-se inconformada porque, afirma, trabalhou muito para ser “roubada”, sem nada poder fazer. “Não estou a pedir esmola. Trabalhei como cuidadora autónoma de côvados no cemitério por anos. Tenho a cabeça ´careca` de tanto transportar latas de baldes de água. Queria construir mais alguns quartos para acolher meninos de rua, mas acabaram com o meu sonho. Mas mesmo na minha casa pequena, recebi e ajudei a criar muitos, que hoje são adultos, a par dos cinco filhos que hoje já são responsáveis por sua vida”, lamenta, que ameaça recorrer aos tribunal.
Segundo Esilda, chegou a falar com um advogado, que a aconselhou a aguardar. Mas cansou de esperar por uma definição. Sem documentos e sem um projecto de arquitetura, esta conta que recentemente procurou a CMSV para pedir apoio porque o teto da sua casa estava a cair. Em resposta ao seu pedido, diz, Neves autorizou o arquiteto Miranda a elaborar um projecto, mas até ainda não viu o processo. “Sinto que nunca fui bem recebida na Câmara. Não sei porque, talvez por ser pobre, analfabeta e negra. Mas sou uma mulher trabalhadora e exijo respeito e consideração.”
Questionado, o vereador Rodrigo Rendall diz não recordar os detalhes deste processo em concreto, tendo em conta que já não responde pelo pelouro de Urbanismo. Entretanto, aconselha a idosa a enviar uma nota para à CMSV para que se esclarece em definitivo esta questão que, a acreditar na sua afirmação, arrasta-se há muitos anos.