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Homem com queimaduras incapacitantes nas mãos e pescoço aguarda evacuação há dois anos e pede apoio para sobreviver

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Martin da Cruz Fortes, 44 anos, sofreu queimaduras incapacitantes há dois anos – perdeu os movimentos das mãos, pescoço e peito – e, desde então, aguarda por uma evacuação para Portugal. Gostaria de recuperar, pelo menos, os movimentos das mãos para poder trabalhar e recuperar a sua vida e dignidade. Sem fonte de rendimento, sobrevive com uma cesta básica que recebe da Câmara Municipal de São Vicente e de alguma ajuda de pessoas. Pede, por isso, a solidariedade dos mindelenses porque, diz, é muito difícil e humilhante mendingar por um pedaço de pão nas ruas. 

Ao Mindelinsite, Martin Fortes revela que as queimaduras resultam da explosão de um campim de gás em sua casa de tambor, no dia 01 de março de 2021. Perdeu os poucos bens que tinha, mas conseguiu sobreviver. “Estava sozinho em minha casa, em Lombo Tanque. O campim estava com uma fuga de gás, mas não percebi. Fui acender o fogo e este explodiu, consumindo tudo rapidamente. Trajava uma camisola de futebol náilon e este grudou no meu corpo. Tentei retirar a camisa e foi assim que queimei as minhas mãos”, conta em voz baixa, num sussurro angustiante.

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Dada a dimensão da queimadura, refere, ficou com sequelas no peito, pescoço e nas mãos. “Não consigo movimentar a cabeça, perdi todos os movimentos da mão direita e boa parte da esquerda. Tenho cicatrizes no peito e nas pernas. Perdi tudo o que tinha, excepto a minha vida. Estive cerca de três meses internado na unidade de cirurgia do Hospital Baptista de Sousa”, conta Martin, que antes da tragédia trabalhava na construção civil e tinha uma vida estável.

“Infelizmente, não consigo trabalhar. As minhas mãos não ajudam porque o fogo comeu-me todas as articulações. Na altura, fizeram-me uma Junta Médica porque disseram que precisava ser evacuado para Portugal para receber um melhor tratamento. Mas ainda estou a aguardar pela marcação das consultas para poder viajar. Tenho insistido junto do médico e da Junta, mas pedem para ter paciência. É difícil para uma pessoa que não tem recursos conseguir agilizar um processo de evacuação. Temos é de aguardar até o dia que Deus quiser porque não temos cunha e nem sobrenome…”

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Martim Fortes

O sonho de Martin é viajar para Portugal para continuar os tratamentos, na expectativa de recuperar algum movimento, sobretudo nas mãos. Mas, diz, neste momento está em causa a sua própria sobrevivência. “Vivo da caridade e do favor das pessoas, que me oferecem um bocado de comida ou uma peça de roupa. Às vezes passo fome. É muito difícil e muitas vezes humilhante. Tenho alguns familiares em São Vicente, mas cada um está preocupado com a sua vida”, revela. Martim diz que consegue andar com alguma dificuldade, mas não pode preparar um peixe para comer porque as mãos não lhe permitem. “Quando consigo algum peixe ou alguma verdura, peço ao meu vizinho para ajudar.”

Neste momento, Martim diz-se desgostoso com a sua vida de mendicidade, mas não vê nenhuma outra alternativa para conseguir pelo menos um pedaço de pão. “É complicado. Às vezes chega à porta de algumas casas e sou expulso. Outras vezes sou obrigado a ouvir algumas conversas que eu nunca diria a ninguém. Mas tenho que engolir o meu orgulho e permanecer com a cara levantada. Felizmente, ainda tem boa gente que me oferece alguma coisa.” 

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Com apoio de algumas pessoas, afirma, conseguiu ajeitar a sua casa de tambor, onde ainda hoje reside. “Tenho um colchão onde durmo e um campim de gás para cozinhar alguma coisa para comer, com ajuda do meu vizinho que já tem os seus 70 anos. De resto, entrego tudo nas mãos de Deus.”

Das autoridades, prossegue, não recebe nenhuma ajuda, excepto uma cesta básica mensal da CMSV, com 1 litro de óleo, 2 kg de arroz, uma bolsa de massa, manteiga, 1kg de açúcar, 1kg de farinha e sumos de panela. Dá para tapar o buraco. Às vezes a cesta é reforçada com uma ou duas latas de peixe da Frescomar. “Gostaria de receber uma pensão de sobrevivência para poder reforçar esta cesta básica, adquirindo alguns temperos e outros. Já bati em muitas portas, mas nunca consegui. Não sei bem aonde ir para tratar da questão da pensão porque nunca antes tinha necessitado desta forma de ajuda. A resposta que recebo sempre é que estão à espera da minha evolução.”

Em suma, desde o incidente vive uma vida de dificuldades e também de humilhação. “Passo mesmo fome por vergonha de chegar nas pessoas. Sem nada para comer, prefiro ficar na minha casa e sofrer calado. Mas, quando a fome aperta muito, sinto-me obrigado a sair de casa e, devagar, tentar pedir algum pedaço de pão ou de bolacha para enganar a fome. Somos muitos nesta situação neste momento em São Vicente. A minha reclamação é a de muitas pessoas”, desabafa.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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