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Heidi Ganeto desapontado com fraca adesão de (ex)trabalhadores da Frescomar à manifestação realizada hoje em S. Vicente

Três ex-funcionárias acusam o director dos RH da Frescomar de ameaça e pressão para assinarem a rescisão do contrato.

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Pouco mais de vinte (ex)trabalhadores da fábrica Frescomar, na sua maioria mulheres, participaram na manifestação realizada hoje de manhã na Cidade do Mindelo, nível de adesão que desapontou o sindicalista Heidi Ganeto. O delegado do Siacsa contava com uma presença mínima de 100 manifestantes, pelo que acabou por criticar a postura das pessoas que preferiram ficar em casa em vez de ir lutar pelos seus direitos laborais. Isto depois de a mobilização ter sido amplamente divulgada na imprensa e nas redes sociais.

Segundo Ganeto, todas as pessoas têm direito à diversão, mas é gritante a diferença do comportamento social quando se coloca na balança uma festa e um protesto público em S. Vicente. “Já realizamos outras manifestações que tiveram também uma fraca adesão. Nesta manifestação apareceram 23 pessoas e decidimos mesmo assim sair com este número”, informou Heidi Ganeto, que ponderou cancelar o protesto, mas mudou de ideia após escutar a opinião dos trabalhadores presentes.

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A manifestação, que envolveu pessoal que se encontra em casa e outros já despedidos, foi uma chamada de atenção para o Governo. Confrontado, entretanto, com a posição do ministro do Mar, para quem a situação laboral tem a ver com a falta de matéria-prima para o trabalho da fábrica, Ganeto manteve a bateria apontada para o Executivo. Confirma a escassez de pescado para enlatado, mas lembra que isto não estaria a acontecer se o Estado de Cabo Verde tivesse apoiado convenientemente os armadores nacionais durante estes anos. “Reparem que os armadores internacionais vêm capturar o pescado nas nossas águas e depois preferem fazer a descarga nos portos dos países da costa ocidental africana. Fazem isso devido ao custo das taxas portuárias e da mão-de-obra em Cabo Verde”, comenta Ganeto.

Voltando o foco para os trabalhadores da Frescomar, sublinha que cerca de 200 foram enviados para casa e podem ser despedidos a qualquer momento. Acrescenta que a situação laboral na fábrica Atunlo é também preocupante, com forte possibilidade de essa unidade industrial instalada no Porto Grande ser encerrada, tal como já aconteceu com outras duas fábricas em Espanha. Pelas contas de Ganeto, em seis meses cerca de 800 trabalhadores do sector pesqueiro foram para casa. Conclui, deste modo, que a situação laboral neste segmento está muito difícil.  

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“Pressão” do director dos RH da Frescomar

Na manifestação estiveram presentes três ex-funcionárias da Frescomar, que engrossaram a lista do desemprego em S. Vicente logo no início deste ano. Os casos de Risiane Matias e Lindsay Pires ganham um contorno particular. Isto porque a primeira deu à luz recentemente e a segunda está grávida. E, por aquilo que relatam, o director dos Recursos Humanos da Frescomar não se dignou respeitar os direitos que lhes assistem.

Ambas fazem parte de um grupo que estava em casa e revelam que foram chamadas de urgência para uma reunião com José Carvalho, o director dos Recursos Humanos da fábrica. Afirma que durante o encontro foram pressionadas a assinar a rescisão do contrato, sem estarem à espera. “Assinei sem saber o que estava a passar. E, quando vim para casa, soube que não podia ser despedida durante a licença de maternidade. Fui chamada no dia 3 de janeiro e a licença terminava no dia 13”, frisa Risiane Matias, que compareceu na manifestação com o seu bebé. A jovem acrescenta que foi para casa sem receber o dinheiro de quinze dias de férias.

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Grávida, Lindsay Pires foi convocada a comparecer num encontro na empresa, quando estava na maternidade do Hospital Baptista de Sousa. Foi para a fábrica convencida que se tratava de uma reunião colectiva, mas, para seu espanto, foi recebida sozinha pelo director dos Recursos Humanos. Tal como a colega, diz que foi pressionada por José Carvalho a assinar a rescisão do contrato. E, pelas contas deste responsável, iria receber 56 contos de indemnização pelos seis anos de serviço prestado. “Quando pediu-me para assinar o documento respondi que não podia fazer isso porque estou grávida e a fazer o tratamento médico numa perna devido a um acidente que sofri na fábrica”, revela. E, segundo esta fonte, nunca a empresa se dignou saber como estava e como estava a enfrentar as mazelas resultantes do acidente.

Lindsay Pires mostra-se revoltada com a forma como foi alegadamente tratada pelo director dos Recursos Humanos da Frescomar. “É inadmissivel o tom da conversa que manteve comigo, com pressão e ameaças pelo meio. Quando disse que não assinava a rescisão do contrato – porque iria perder 6 meses de licença de parto, mais 3 meses de subsídio de maternidade e ainda 6 meses de subsídio de trabalho – ele disse-me que, se negasse assinar, iria para casa com base no despedimento colectivo”, relata Lindsay, cujo contrato deveria terminar no dia 13 de março.

Alícia Lopes faz um relato muito parecido. Afirma que foi chamada para uma reunião de urgência no dia 9 de janeiro e voltou para casa despedida. Esta funcionária critica também a forma como o referido director dos RH agiu. Revela que foi pressionada por José Carvalho a assinar o término do contrato, que lhe assegurou que iria para casa e nesse caso com um bónus de 11 contos sobre os 56 mil escudos de compensação pelos cinco anos de serviço.

“Fiquei indignada, respondi-lhe como posso receber esse valor por cinco anos de trabalho, a levantar-me de madrugada quase todos os dias, com o risco de vida…”, conta Alícia Lopes, mãe de cinco filhos, que acusa o referido responsável dos RH de tentar humilhar os funcionários neste processo de despedimento.

Mesmo com pouca adesão, o protesto foi realizado pelos trabalhadores presentes, que percorrreram as artérias do centro da Cidade do Mindelo com palavras de ordem e cartazes.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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