O geofísico Bruno Faria afirmou hoje que ocorreram 2 sismos quase que simultâneos esta madrugada na região sudoeste de Santo Antão e que se trata do tremor de maior magnitude registado em todo o arquipélago de Cabo Verde nos últimos dez anos. Segundo o director do departamento de geofísica do INMG, o sismo foi de 5.1 na escala Ritcher, com epicentro a 20 quilómetros de distância da costa de Monte Trigo e a 10 km de profundidade oceânica.
Estes dados contrariam informações publicadas pelo portal volcanodiscovery.com, que fala numa magnitude de 5.3 e com epicentro a 73 quilómetros da costa de Santo Antão, mas Bruno Faria explica que isso acontece porque os dados foram recolhidos de estações automáticas localizadas a uma grande distância.
“Tendo em conta que na zona do epicentro foi descoberto um campo eruptivo há cerca de 20 anos, é muito provável que este sismo esteja relacionado com o processo vulcânico”, diz o cientista, assegurando que, apesar da intensidade dos sismos, a situação não representa nenhum perigo para a vida das pessoas residentes em Santo Antão e S. Vicente.
A descarga de energia foi de tal monta que o tremor foi sentido na ilha de Santiago. Confrontado com este dado, Faria diz que é natural que isso tenha ocorrido pela quantidade de energia libertada. “Estamos a falar do sismo com maior amplitude registado em Cabo Verde nos últimos dez anos. Isto significa que há mais energia acumulada e que foi agora liberada”, enfatiza o geofísico cabo-verdiano, que também sentiu o fenômeno. Bruno Faria explica que, como foram dois sismos praticamente sobrepostos, as pessoas que vivem em S. Vicente terão sentido primeiro as mobílias a mexer e só depois o estrondo de uma explosão provocado pelo segundo sismo, que foi o de maior magnitude.
“As ondas sísmicas têm vários modos de propagação, mas, neste caso, tendo em conta a profundidade e a magnitude, estamos perante dois modos de propagação: na horizontal ou na vertical, como as ondas do som. A explosão terá sido derivada da passagem das ondas de compressão de um meio sólido para o ar”, informa o especialista. Se não fosse assim, acrescenta, o barulho da explosão seria ouvido em primeiro lugar e depois o estremecer das mobílias, já que as ondas de compressão viajam a maior velocidade do que as horizontais.
Para Bruno Faria, o registo de sismos nas proximidades de Santo Antão é algo corriqueiro. Especifica que no dia 8 de janeiro de 2015 foi produzido um sismo nessa região marítima com 4.5 de magnitude e em 2012 já tinham registado outro evento com 4.1 de potência. No entanto, o geofísico defende o reforço da monitorização da actividade sísmica nessa área, o que, aliás, considera uma prioridade. Este lembra que os equipamentos das quatro estações existentes em Santo Antão estão a funcionar há 13 anos, pelo que precisam ser renovados e os abrigos reabilitados.
“A ilha Brava tem 6 estações a cobrir os seus 64 km2, enquanto Santo Antão tem uma área de 779 km2 e só 4 estações”, compara Faria. Este entende que se deve instalar pelo menos mais 4 estações na ilha das montanhas, mas adverte para as dificuldades de recolha de dados provocados pela própria orografia de Santo Antão. A seu ver, essa medida deveria implementada após um minucioso estudo técnico para facilitar a captação de sinais dos repetidores.
Apesar da intensidade do sismo, que foi percebido por muita gente nas ilhas de Santo Antão e S. Vicente, não foi registado nenhum caso digno de emergência. O presidente da Proteção Civil, Domingos Tavares, afirma que não houve nenhum pedido de socorro até ao momento. “Até agora temos estado em sintonia com os serviços municipais de Santo Antão e não foi acionado nenhum pedido de socoroo. Algumas pessoas relataram tremores em casa, mas nada de grave”, assegura Tavares, para quem o sismo não representou nenhum perigo para as pessoas residentes nas duas ilhas vizinhas.