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Franceses denunciam alegado “esquema de roubo” nos Correios de Cabo Verde

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Dois cidadãos de nacionalidade francesa, ambos residentes na ilha de Santo Antão, denunciam aquilo que consideram ser um esquema para, alegadamente, promover a prática de roubo nos Correios de Cabo Verde. Dizem que recebem encomendas do estrangeiro com regularidade, sobretudo da França, através da empresa de despacho ColisExpat, mas recentemente encontraram embalagens vazias de smartphones e computadores portáteis dentro dos seus pacotes, provavelmente para esconder provas de roubos. O PCA dos Correios, Isidoro Gomes, promete instaurar um inquérito, visando apurar evidências e responsabilidades.

Jacques Ducellier explica que recebe encomendas com  alguma regularidade e, normalmente, a empresa responsável por recolher e enviar as encomendas para Cabo Verde, a ColisExpat, utiliza embalagens grandes, deixando espaços vazios. Em fevereiro deste ano, prossegue, estava na casa de um amigo no Paul, também ele cidadão de nacionalidade francesa, quando este recebeu uma encomenda despachada pela mesma empresa. “O meu amigo abriu o seu pacote e, para além dos seus pertences, encontrou uma embalagem vazia de um computador da marca Apple. Na altura, não percebi porque alguém se deu ao trabalho de colocar uma caixa vazia dentro da sua encomenda”, relata. 

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Entretanto, agora no mês de maio, foi notificado pelos Correios no Porto Novo para levantar dois pacotes, um expedido no dia 15 de março e outro no dia 30. “Uma despachante avaliou as encomendas e informou-me o valor que deveria pagar. Ao fazer o inventário daquilo que me tinha sido enviado, para a minha surpresa encontrei um pequeno pacote vazio, enviado dos Estados Unidos, com a etiqueta do destinatário rasurado. Este tinha o tamanho de um smartphone. Já na encomenda maior encontrei uma embalagem vazia de um computador portátil da marca Apple. Percebi então que se trata de uma prática para se desfazer das embalagens dos produtos, sem deixar vestígios”, conjectura. 

É que, afirma, sem as caixas fica difícil provar um roubo. Por outro lado, acrescenta, qualquer funcionário pode sair dos Correios com um telemóvel no bolso ou com uma computador dentro de uma pasta sem levantar suspeitas. “De imediato, apresentei uma queixa ao funcionário dos Correios no Porto Novo. Mas, pelo que me foi informado, as encomendas são abertas no Centro de Tratamento dos Correios (CTC) de Achada Grande Frente, na Praia, conforme mensagem que me foi enviado. Penso que é quando vão fechar os pacotes que aproveitam para introduzir as embalagens vazias dentro das nossas caixas”, detalha, deixando claro que, felizmente, as suas encomendas estavam intactas. “Não fui vítima de roubo, mas acredito que as nossas encomendas serviram para ajudar a descartar provas de crimes praticados por funcionários da Alfândega ou do CCV”, clarifica Jacques Ducellier. 

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Estas informações são confirmadas pelo conterrâneo Sandro Lacerenza, que também encontrou uma caixa vazia de um computador dentro da sua encomenda. Segundo conta, recebeu uma caixa proveniente da França, despachada pela empresa ColisExpat. Levantou a encomenda e, ao certificar se estava tudo certo, encontrou a caixa. De imediato, avisou a delegação dos Correios do Paul. “Como não tinha encomendado nenhum computador, comuniquei o facto à delegação dos Correios no Paul. A caixa do computador não tinha nada, nem nome e nem endereço do remetente. Mas quero garantir que os meus pertences não foram violados. Os Correios do Paul sempre fizeram um bom trabalho.”

Ambos fizeram uma denúncia nos Correios, tanto no Paul como em Porto Novo, mas dizem que não tiveram nenhum feedback. Jaques Ducellier ainda tentou ir mais longe, tendo em conta que, afirma, procurou o endereço electrónico da Direção Nacional das Alfândegas (helpdeskgdnere.gov.cv) para enviar as fotografias das caixas, mas não conseguiu. “Foi por isso que decidi fazer esta denúncia para que os Correios, sobretudo no controle na Praia, estejam atentos porque os funcionários podem retirar os produtos e esconder as embalagens em encomendas de outras pessoas. Um smartphone ou um portátil, sem as embalagens, podem ser levados para casa, sem despertar suspeitas.”

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Confrontado, o Presidente do Conselho de Administração dos Correios de Cabo Verde diz lamentar os factos relatados por estes dois cidadão. “Infelizmente, a Administração não tem conhecimento dos mesmos. Mas, atendendo a gravidade da denúncia, vou mandar instaurar um inquérito interno, visando apurar as evidências e as eventuais responsabilidades”, prometeu Isidoro Gomes. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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