Um total de 80 chefes de família recebeu ontem diplomas de formações ministradas na Aldeia SOS de S. Vicente nos domínios da competência parental e em áreas económico-financeiras, como produção de sabonete, empreendedorismo, processamento de carne e pescado, higiene e segurança. A iniciativa está associada a um projecto que visa melhorar a situação das crianças na cidade do Mindelo, cujos agregados têm vindo a ser acompanhados pelo referido centro infantojuvenil.
Nalguns casos, os participantes, na sua maioria mulheres, fizeram três cursos. No entanto, a formação sobre competência parental era obrigatória. “Esta formação era obrigatória para todas as famílias porque a nossa centralidade é a criança. Neste sentido, as educadoras devem estar munidas de conhecimentos para saberem lidar com as crianças. No entanto, a parte do provento económico é também essencial”, salienta Graça Gomes, directora do referido centro. A sua expectativa é que haja mudanças substanciais no futuro, mas salienta que as transformações sociais levam o seu tempo.
O psicólogo clínico Kaplan Neves, adverte, aliás, que esse tipo de processo costuma ser moroso e é preciso ter cuidado com as expectativas. “Nalguns casos pode surtir um impacto significativo, mas noutros essas mudanças podem ser mais lentas no início e surtirem efeitos mais impactantes a longo prazo”, prognostica esse formador.
Segundo Kaplan Neves, as competências parentais consistem na obtenção de conhecimentos básicos para um melhor desempenho da parentalidade. Adverte que o simples facto de haver um vínculo biológico e um indivíduo nascer com capacidade reprodutiva não implica que tenha em si um desenvolvimento de capacidades de índole parental. “Em parte, estas competências dependem da forma como fomos educados, ou seja, da própria partentalidade em que fomos sujeitos”, especifica.
Hoje, acrescenta, está claro que as pessoas podem beneficiar de treinos de competências parentais, promover um desenvolvimento adequado e prever determinados problemas, como os casos de abuso. Para Neves, as chefes de família entenderam a mensagem, pois no fundo o foco é ver mudanças positivas na relação entre pais e filhos. O psicólogo adianta que em muitos casos as formandas provêm de famílias numerosas, que vivem em contextos difíceis, com histórias penosas. Em comum, acrescenta, partilham um contexto sociocultural desafiante, mas têm a consciência do papel que devem desempenhar na educação dos filhos. E sabem qual a importância do amor nesse processo.
Na perspectiva do psicólogo, às vezes faltam competências para as educadoras reconhecerem as características próprias das fases de crescimento de uma criança e sentem dificuldades em lidar com essas mudanças. Além disso, tendem a reproduzir práticas, muitas vezes negativas, que herdaram e acabam por condicionar as trajectórias da vida. Assim sendo, a formação, que teve 120 horas de duração, abordou diversas matérias, que permitem às famílias lidarem com as fases do desenvolvimento cognitivo, social, saúde mental e sexual das crianças e adolescentes e saberem como estabelecer canais de comunicação.
Produzir sabão e transformar o alimento
A par desta matéria, os participantes puderam aprender a produzir sabão natural recorrendo a plantas encontradas em S. Vicente e em Santo Antão. O curso foi ministrado pelo bioquímico Admilson Monteiro e envolveu uma turma de 16 pessoas provenientes de vários bairros. Inicialmente os participantes ficaram com um pé atrás devido ao conteúdo, mas logo no segundo dia, segundo o formador, mudaram de atitude. “Foi um curso com base na ciência cosmética porque, tratando-se de um cosmético, impacta a saúde pública”, frisa o formador, que usou plantas medicinais encontradas em Cabo Verde e levou a turma para uma visita de estudo no Monte Verde, onde há várias espécies endémicas. “Souberam assimilar os conhecimentos e já podem produzir os seus sabões num pequeno espaço”, salienta.
A maioria das participantes pretende usar a produção do sabonete a nível comercial, como é o caso de Deolinda Semedo. Confessa que sempre gostou do mundo da estética e que se empenhou bastante para concluir a formação. “Foi complicado porque muitas vezes aparecia algum trabalho justamente na hora do curso. Preferi acompanhar as aulas porque é uma área que adoro e não estou arrependida”, comenta Deolinda Semedo, que agora quer aproveitar o seu conhecimento nesse domínio e estabelecer o seu negócio.
Outra formação concorrida foi a relacionada com transformação de alimentos. Um curso que visou passar conhecimentos para agregar valor aos derivados do pescado e da carne suína, bovina e de frango. Segundo Walter Silva, o grupo tinha pessoal que vende pescado e derivados da carne e que obteve mais conhecimento nessas áreas. Esse técnico de transformação em alimento diz acreditar que ganharam competências importantes para incrementarem e diversificarem os produtos que colocam no mercado.