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“Tarifa Zero”: Promessa ou ilusão

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Sónia Almeida

A proposta de “tarifa zero” para a eletricidade e a água”, até um limite máximo ainda por definir, levanta sérias dúvidas sobre a sua viabilidade económica e orçamental. A Electra, empresa pública responsável pelo fornecimento, acumula défices estruturais, resultado de incumprimentos de pagamento, roubos de energia e ineficiências operacionais.

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Cabo Verde depende totalmente da importação de combustíveis fósseis para gerar eletricidade e dessalinizar água, tornando-se vulnerável a flutuações internacionais de preços. Do ponto de vista macroeconómico, o país enfrenta desafios significativos:

  • Dívida pública acima de 110 % do PIB;
  • Défice da balança comercial de 11,4 % do PIB;
  • Exportações cobrem apenas 17 % das importações (1,77 mil milhões USD), resultando num défice comercial de 1,46 mil milhões USD. Além disso, o custo da eletricidade e da água está entre os mais altos do mundo, com a eletricidade residencial a cerca de USD 0,335/kWh, 190 % da média global e 248 % da média africana. Este contexto económico torna a promessa socialmente apelativa, mas financeiramente insustentável.

Sugestões populistas de reduzir estudos de viabilidade – inter alia, suponho – para financiar a
medida ignoram que estes são instrumentos essenciais de planeamento económico -se não
forem engavetadas, claro. Antes de anunciar algo desta magnitude, seria prudente realizar um
último estudo de viabilidade, o mais necessário de todos. É certo que os cabo-verdianos ficariam genuinamente satisfeitos se fosse possível, já que os preços das utilidades pesam fortemente no orçamento familiar. No entanto, isso permanece um desejo irrealista.

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Tudo indica que esta promessa parece um artifício de campanha eleitoral, pensado para seduzir um eleitorado cansado, sem qualquer base económica real. A afirmação levanta inevitavelmente questões sobre a seriedade e competência técnica de quem a propõe, pois qualquer futuro líder deve demonstrar capacidade de avaliar riscos macroeconómicos antes de anunciar medidas de grande impacto fiscal.

O povo cabo-verdiano já se encontra cansado e desiludido com promessas superficiais, e a política séria exige credibilidade, transparência e competência técnica. Num quadro de endividamento elevado, vulnerabilidade energética e défice externo crónico, qualquer política de alívio tarifário deve ser precedida de análise rigorosa, sustentada em critérios de sustentabilidade e responsabilidade pública, e não em slogans de ocasião.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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