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Um olhar às aldeias de Santo Antão

Figueiras um encanto por descobrir, sendo uma das belas localidades da Ilha de Santo Antão.

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Figueiras é um dos povoados que pertence a Freguesia de São Pedro Apóstolo, que distância cerca de seis horas dos trilhos da sede, em Chã de Igreja da Garça.

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Por: Daniel Miranda

É a comunidade mais afastada do Concelho da Ribeira Grande, ou seja, da Cidade da Ponta do Sol. Fica entre montanhas, aliás, entre as serras e cordilheiras de Alto Mira, Ribeira Alta e os Lombo. A sua costa é banhada pelo Oceano Atlântico, com uma excelente baía, a das Fundas, a seguir, Figueiras de Baixo.

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É na Baía das Fundas que situa o Porto de João Redondo – fundeador -, que antigamente portavam os barcos de cabotagem, que faziam carga e descarga de pessoas e bens; aliás, esse porto servia de escoamento dos produtos para as outras ilhas, bem como os bens importados, para a satisfação das necessidades dessa comunidade. A população actual rondam 600 almas e cerca de 400 habitações. Mas até à década de 80, a população ultrapassava os 800.

É uma comunidade rural, que vive exclusivamente da agricultura e da pecuária no âmbito familiar; pratica-se também a pesca artesanal, em pequenas embarcações de boca aberta, com todos os perigos a espreita por causa do comportamento as vezes do mar. Contudo, a atividade da pesca se encontra em decadência devido principalmente a diminuição demográfica.

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O acesso a essa localidade, é feita pelos trilhos de Cruzinha ou de Chã de Igreja da Garça, passando pela Boca de Ribeira de Inverno, Ribeira Alta e/ou de Alto Mira de Baixo. Também, pode fazer-se através dos Lombos, onde termina a estrada da Lagoa, que faz fronteira com Figueiras de Cima e descer no trilho sinuoso até chegar aos povoados.

Aliás, os trilhos ou vias pedestres são constituídas por subidas e descidas, devido a orografia ser de acentuadas, que caracteriza toda a ilha; se for de noite na prestação de algum socorro ou por outras razões, é muito complicado.

O transporte dos bens essenciais é feito pelos animais (mulas, burros), no colo ou na cabeça das pessoas. Outro meio transporte mais comum é feito por via marítima, (um pouco honroso dado as distancias) em embarcações (botes a remo ou à motor), cuja a duração são cerca de 60 a 80 minutos do porto de João

Redondo à Cruzinha da Garça, e, se for para Ponta do Sol necessita de mais horas consoante o estado do mar, cuja travessia é feita quando há bom tempo, sem falar dos custos; se o mar tiver muito agitado não é aconselhável fazer-se, porquanto a insistência torna-se muita arriscada.

Produção agrícola

Figueiras é um vale muito produtivo, nomeadamente fruta pão, cana de açúcar, mandioca, banana, batata doce, entre outros; e, quando há abundância na produção deparam-se com dificuldades de escoamento desses mesmos produtos, aliás ter produtos sem a colocação no mercado desincentiva investimento, porquanto, acarretam prejuízos aos produtores agrícolas. E, devido à essa situação, não estimula o aumento da produção, logo provoca o desemprego e consequentemente a mobilidade de pessoas para outras paragem e que mais tarde irá refletir na escassez de mão de obra.

E, para inverter esta situação ou mitigar as dificuldades, os agricultores esperam das autoridades locais e da tutela apoios em promover o escoamento do excedente dos produtos agrícolas e a sua colocação nos mercados nacionais, (outras Ilhas), nomeadamente as do Sal e Boa Vista, principalmente para as infraestruturas hoteleiras, afim de estimular a produção, o emprego e proporcionar a economia da ilha de Santo Antão e do país, bem como a diminuição da dependência externa desses mesmos produtos. É de realçar que nessa região não existe e felizmente a “praga dos mil pés”.

A vida dos habitantes é mais difícil quando se verifica ausência das chuvas com períodos de seca subsequentes, provocando-se a subida do custo de vida constantemente.

Para os Figueirenses céticos, sentam-se esquecidos por falta de vontade política e acrescentam-se “ninguém já quer viver em condições isoladas ( remotas) em pleno séc. XXI, todas as pessoas têm direito a ter uma vida digna que é um direito universal, realça um figueirense”. E acrescenta, porquanto, sem nenhuma resolução à vista e a título de exemplo a não melhoramento das vias pedonais e de segurança na Boca da Ribeira de Inverne, e, para superar essa dificuldade, poderia ter uma ponte pedonal para servir as duas comunidades a da vizinha Ribeira Alta, pois, são as periféricas mais afastadas do concelho, porque não há trilhos em condições transitáveis, nem arrastador de botes, enfim, sentem-se esquecidos da ilha e quiçá do país.

A população, clama de infraestrutura da rede viária (um trilho para carrinhas) para satisfação de qualquer emergência, tendo em conta as longas distâncias tanto para hospital da Cidade Ribeira Grande ou para Cidade do Mindelo, pois, trata-se de uma reivindicação muito antiga, segundo os entrevistados.

A Associação Local, A.D.I.F. (Associação para o Desenvolvimento Integrado das Figueiras), tem tido um papel determinante na promoção e na defesa incansável e extraordinária para essa comunidade, tanto para o seu desenvolvimento económico, social e cultural, entre outras, no âmbito do concelho e do país, um reconhecimento dos entrevistados.

Infraestrutura social

As Figueiras possui poucas infraestruturas. Entre outras, Posto de Ensino Básico com duas salas para docentes e três salas para alunos e um jardim infantil. E, de ano para ano, verifica-se a diminuição de alunos dado a perda da população.

Existe um Posto Sanitário e, em caso de emergência para o hospital Central da Ribeira Grande que é muito distante e ou para S. Vicente, traz sempre complicações; e perante esses factos os figueirenses gostariam que fosse elevado o posto sanitário a um posto de saúde com mais meios humanos, como forma de proporcionando uma melhor cobertura de saúde à essa população.

O isolamento é agravado pela ausência frequente de sinal de televisão e da rede móvel. Há também falta de espaço para ocupação dos tempos livres, principalmente para jovens.

Face a esses fatores, a fixação das pessoas nas localidades torna-se difícil de ano para ano, porquanto as habitações estão a ser fechadas, dando assim lugar a alguma degradação e em muitos casos pelo facto de abandono. A saída dos jovens é uma constante, e na camada feminina é mais acentuada. Esse abandono, tem haver com pouca atração e perspetiva de futuro, forçando assim a saída a procura uma vida melhor.

Contudo, mesmo com essas dificuldades é uma população resiliente, agarrado a terra, é um povo alegre, solidário, humilde, simples e hospitaleiro, onde os visitantes podem desfrutar de uma boa gastronomia variável e uma degustação agradável e saudável, baseada nos produtos locais biológicos e apimentados dos frutos do mar, e se é vegan, esta no local certo, bem como a cultura, as danças tradicionais e em especial a mazurca a paz e o sossego.

Para pernoitar, os visitantes, podem desfrutar do aconchego das famílias, ajudando de alguma forma o seu rendimento.

Para além dessas vicissitudes de acessibilidade e de mobilidade, Figueiras é das localidades muita procurada por turistas, principalmente os do Norte da Europa, em virtude do clima e a beleza da paisagem natural, que constitui uma grande atração bem como afabilidade e simpatia das pessoas.

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S. Vicente 25-05-2021

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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