Por Nelson Faria
Quando vi o nível dos carros alegóricos do Estrelas-do-mar e Monte Sossego, assim como vários outros pormenores dos foliões e figuras de destaque que estavam espectaculares, não pensei que o Cruzeiros do Norte ganhasse com tanto estrondo. Mas felizmente ganhou, sem desprimor por nenhum outro concorrente que também pudesse merecer. O júri é sim soberano e fez o seu trabalho. Foram vinte e sete pessoas, vinte e sete elementos, que, acredito, têm conhecimento e experiência suficiente para se colocarem nesse papel e decidir com a justiça que acharem caber a cada um. Por isso, tud é bada e tud ê tmada pe Cruz.
Sobre decisões tomadas e prémios entregues não resta outra alternativa que não seja o respeito e fair-play para aceitar as decisões que não coincidem com as nossas opiniões. Embora acho que há consenso generalizado sobre a justeza do primeiro lugar e de outros prémios individuais atribuídos. Que o público pudesse participar como parte da decisão? Não discordo. Repito, como parte, há formas possíveis de o fazer. Fica o repto para a LIGOC considerar esta possibilidade.
No que deveras tinha dado como certo a vitória do Cruzeiros do Norte, pelo feedback do público e pela maravilha da composição, era sim na música, na batucada, ou bateria, e na nossa rainha de bateria que estava e foi espectacular. Destaque para a música onde o prémio é justo e merecido pela forma como foi assimilada, aceite, interpretada e acarinhada por todos. Da rainha de bateria, embora com concorrente à altura, ela fez por merecer. A beleza, a dedicação, a simpatia e o “samba no pé” estiveram lá. Embora saiba que o quesito batucada seja avaliado como um dos critérios na globalidade para atribuição do primeiro prémio, penso que seria de todo justo um reconhecimento individual, um prémio, mesmo que simbólico para as baterias.
O trabalho dos maestros, junto com demais músicos, no arranjo musical para ser interpretado pelos ritmistas deve ser reconhecido. Somente quem percebe de música e de batucada é capaz de fazer um arranjo de batucada com mestria e sintonizado com as composições. Fernando Gomes, Nando, é top. Da mesma forma o trabalho desenvolvido pelos ritmistas, no aprimorar de técnicas, na leitura e interpretação da música, no esforço feito para estarem nos ensaios e, sobretudo, na dura e prazerosa volta nas ruas de morada, merece outro destaque, merece outro reconhecimento. Mindelsamba tem sido exemplo. A bateria é o coração de qualquer grupo de carnaval e em São Vicente já adquiriu características próprias, tem valor e merece ser valorizada. Sendo suspeito, digo que o Cruzeiros do Norte junto com a batucada do Mindelsamba foram perfeitos neste quesito, e até em outros pormenores nomeadamente na organização, alinhamento, vibe e até coreografia. Havendo um prémio, sem sombra de dúvidas, este ano seria merecidíssimo para a batucada do MindelSamba do Cruzeiros do Norte. Para a LIGOC mais um repto: a valorização das batucadas, atribuindo um prémio individual ou simplesmente o reconhecimento público da melhor batucada durante o desfile.
Não me sai da cabeça a nossa entrada na Rua de Lisboa com a plateia ao rubro, o corpo cheio de adrenalina e o pessoal da batucada carregado de emoção. Não foi cumprir com o nosso papel, foi tocar com o coração e tocar o coração da plateia que cantou, pulou e vibrou connosco. Foi um contágio de alegria e empatia. A reciprocidade da sabura foi, sem dúvidas, sem fronteira. Será das memórias que ficarão comigo para a vida. Quero mais.
Uma última nota para um Carnaval, no seu todo, excelente, mas que pode ser melhorado. Registo importante para o sistema de som que melhorou consideravelmente a qualidade dos desfiles e uns parabéns para a LIGOC que soube conduzir as controvérsias e contrariedades de uma nova fase do Carnaval de São Vicente. Pode melhorar? Com certeza. Este é o caminho e vai-se fazer no que correu menos bem, acredito. Agora é enterra-lo domingo, fazer a missa de sete na próxima semana e aguardar para o ano 2020.
Subscrevo tudo o que escreveu Nelson Faria.