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Transportes em Cabo Verde: O Calcanhar de Aquiles de um Governo em deriva

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Por Américo Medina*

Num país insular como Cabo Verde, com nove ilhas habitadas e enormes desafios logísticos, o setor dos transportes deveria ser tratado como prioridade estratégica de soberania, coesão nacional e viabilidade económica. Contudo, paradoxalmente, a área mais prometida por Ulisses Correia e Silva — a modernização dos transportes aéreos e marítimos — transformou-se no seu mais clamoroso fracasso de governação, o seu calcanhar de Aquiles, um autêntico pesadelo!

O caso da TACV, rebatizada CVA, é o símbolo perfeito deste colapso. Uma companhia renacionalizada sem critério técnico nem modelo de sustentabilidade, operando à margem da lei, com aviões em leasing sem homologação adequada, sem cobertura seguradora digna para os pilotos e com gestão administrativa que ignora convenções internacionais. A empresa deixou de ser um ativo estratégico e passou a ser um buraco orçamental com implicações sérias na reputação internacional de Cabo Verde e na segurança da aviação civil.

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No setor marítimo, a situação é igualmente desoladora. Os navios avariados da CV Interilhas (Kriola e Liberdadi) deixaram a ilha do Maio isolada, sem alternativas eficazes. A população grita por socorro, os operadores económicos acumulam prejuízos e os responsáveis políticos fingem normalidade com discursos histéricos e folhas Excel manipuladas num exercício de estatisculação grotesca.

A denúncia recente do presidente da Câmara Municipal do Maio, Dr. Rely Brito, é um grito de desespero que ressoa como acusação direta à incompetência governativa. Afirmações como “o problema dos transportes interilhas está a tornar-se insuportável” e que o “Governo não pode continuar com a cabeça escondida enquanto o corpo inteiro está exposto para desespero de toda a ilha” ilustram o colapso funcional de um modelo que fracassou. Não se trata apenas de logísticas falhadas, mas de políticas públicas e “estratégias” que falham às pessoas.

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Enquanto pilotos experientes e competentes  abandonam o país e os seus colegas que aqui ficam entram em greve, médicos e quadros jovens emigram, e os comerciantes veem as prateleiras esvaziarem-se e os clientes desaparecerem, o governo responde com promessas vazias e discursos de ocasião. Em vez de soluções, oferece expressões e patoás  típicos de uma “ Estatisticália Triunfalista”,  inseridas em  declarações absurdamente otimistas com base em gráficos coloridos e mediatismo saloio, enquanto as instituições ruem e a confiança pública se dissolve! Em resposta à indignação e desalento gerais a nós todos cidadãos ávidos de mais e melhor serviços são-nos prescritos a fé na  Ulissolatria, conjugada com a tabelopatia governativa para essa patologia oncológica galopante em fase terminal que enferma o sector!

Os transportes, que deveriam unir as ilhas, estão hoje a dividi-las ainda mais, isso já é incontornável! A governação de Ulisses Correia e Silva não apenas falhou: tornou-se cúmplice de uma desconexão geográfica e económica sem precedentes. Não há nenhum  plano de resgate da concessão por inadimplência (como prometido pelo Sr MT há três anos), nem sentido de urgência na solução dos problemas, sendo evidente e chocante a displicência, a altivez e o desmazelo como esse dossier CVI é gerido – Há apenas propaganda e uma espécie de “estatiscomelodia” para os ouvidos dos contribuintes menos avisados!

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É urgente devolver a seriedade à gestão dos transportes em que uma genuína e profunda reestruturação se exige(!) – Uma reforma profunda, liderada por competência técnica e visão estratégica, livre do clientelismo instalado e propaganda. O futuro de Cabo Verde não pode ser construído sobre falácias e folhas Excel & Narratocracia de Coluna e Linha! É  tempo de governar com verdade, justiça territorial e compromisso com a mobilidade como direito fundamental, e não como instrumento de manipulação de consciências em contexto de eleições!

*Aerospace Consultor

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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