Por: Nelson Faria
São Vicente é, naturalmente, um lugar lindo e maravilhoso para se viver e ser feliz. É a “terra ki Deus derrama sê alegria”. Dos prazeres e orgulhos da minha vida é ser MIM (Made in Mindelo) e poder viver nela, desfrutando de tudo o que me proporciona. Ela me dá tudo o que eu quero e preciso para viver. Não é o que é por decreto presidencial e nem por conveniências. “Soncent ê assim…”, decretado por divindades que desconheço e agradeço.
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Na minha humilde utopia e ignorância sempre pensei que os ditos “democratas” entendessem o que era o conceito, os princípios e os valores deste sistema político, mormente num país que foi governado por um regime fascista Português na era colonial e um regime de partido único, em seguida, entre 1975 e 1990. Enganei-me! Há gente sensata e realmente democrata entre os “democratas” e conheço muitos, felizmente, que me alimentam a esperança que não estamos, de todo, perdidos, mas, não são todos.
Por outro lado, perturba-me a ideia de ver outros ditos “democratas” que desvirtuam os conceitos, defendem autocracias e o “regime de homem único”, não respeitando os eleitos e nem os eleitores. Não respeitando o resultado das urnas que, no caso, significou apenas ter a maior parte dos votos entre os proponentes e não a maioria dos votos. Logo, obrigaria a negociação, diálogo, consensos, entendimentos, partilha, liderança (não confundir com chefia e autoritarismo), inclusão de todos a bem da ilha e da sua gente.
É passado a ideia que é tempo “de guerra” e valem os “generais” e seus soldados quando na ilha de “sabura” onde somos “brodas” esta linguagem bélica, na minha perspetiva, é totalmente desenquadrada. Não estamos no Brasil do Bolsonaro, apesar de sermos um “Brasilim”. Devíamos saber entender-nos independentemente das sensibilidades políticas. Há um bem maior a ser salvaguardado acima dos personagens e partidos: Soncent!
Obviamente, se o “regime do homem único” prevalece é porque é suportado pelo seu partido e acólitos, uns por paixão, outros por ego e umbigo ou mera fidelidade partidária… É visível também que parte do partido não converge com os posicionamentos e forma de atuação, é visível que incomoda o bom senso, a paz social e a imagem da ilha. Elucidativo é o caso da PED ou NÃO, PEDONAL.
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Quanto a obra da Pedonal, repetindo o que já havia colocado num post há dias no Facebook:
1. A ideia merece a minha simpatia e atenção, pois São Vicente precisa de espaços do tipo na cidade. Se a localização é melhor, ou não, que digam os especialistas. O que espero é que esta ideia já tenha sido estudada tecnicamente em todas as vertentes… Quando apresentado na página de Facebook da CMSV, a ideia de criar pedonal na rua Sena Barcelos, toda ela, com ligação ao parkim, mereceu a minha concordância porque a ilha precisa destes espaços mormente onde brincam crianças, no centro da cidade, em zona privilegiada, convívio, cultura, restauração, eventos, com o espetáculo da Marginal e da Baía do Mindelo, combinam;
2. Sem nenhum pronunciamento da CMSV e nem discussão na Câmara porque, alegadamente, foi discutido no Fórum São Vicente 2035 numa vasta plateia, como se fosse esse o local de tomada de decisões da CMSV (quanto mais na configuração saída das urnas) e não havia mais nenhuma explicação a ser dada aos demais vereadores e munícipes além do que foi lançado na página do Facebook da CMSV até a execução, sabendo-se agora à posteriori do “pô – trá – pô”. Não concebo como normal um assunto relevante para a ilha, uma ideia com impactos estruturantes não ser discutida em sessão da Câmara, nem que fosse como informação aos demais eleitos.
3. Para apressar as coisas, segundo o Presidente, os comerciantes avançaram com meia pedonal, colocação de canteiros e sinalização… Depois do lançamento da ideia, os comerciantes interessados foram ” adiantando o trabalho” fazendo a meia pedonal sem que a CMSV interviesse?! (Palavras do PCMSV) Foi isso? A ser isso, é preocupante.
4. Cabendo crítica de vários quadrantes até de quem concordou com a ideia inicial da pedonal em toda a rua, eu inclusive, por ser meia pedonal com benefícios essencialmente para os operadores do espaço e prejuízos de vária ordem para pedestres e circulação automóvel, dizia, depois das críticas, a maioria dos vereadores decide pela remoção dos canteiros e remoção da sinalização ali colocada. Não sendo também apologista da atuação radical dos vereadores, a pergunta a ser feita seria: o que fazer enquanto vereador quando se depara com uma situação destas se o Presidente não dialoga e não partilha informação relevante? Acho que somente estando no papel e na circunstância para saber responder.
5. No período de tarde, o PCMSV classificou de “terroristas e arruaceiros” os vereadores que mandaram retirar os canteiros e a sinalização, faz ameaças e manda repor a “pedonal”, toda a rua, trazendo uma explicação muito esperada no momento. Porque não a deu antes, porque não o fez na sessão ordinária da Câmara? Poderia ou não ter evitado o ponto a que a situação chegou?
Além disso, também tenho as seguintes questões:
a) Mesmo sendo um projeto municipal, mexendo com o trânsito, foi merecedor de parecer da Direção de Transportes Rodoviários?
b) Podem operadores económicos “darem o seu expediente” adiantando serviço a seu favor, inclusive colocar sinais de trânsito sem consentimento escrito das autoridades fechando meia rua e dizendo que a ideia é meia pedonal? Afinal, com quem consertaram o trabalho adiantado? Onde e como foi formalizado essa concordância?
c) Podem as decisões da CMSV serem tomadas num fórum e não terem o crivo na reunião ordinária da CMSV? Já agora, as outras ideias lançadas no Fórum São Vicente 2035 vão ser implementadas quando? E outras tantas lançadas em outros fóruns e na campanha eleitoral serão implementadas? Quando? Aguardo o Campo da Bela Vista.
d) Pode, arbitrariamente, o PCMSV, com o autoritarismo que lhe caracteriza, agir desta forma? Não comunicando ou explicando aos vereadores e aos munícipes decisões que impactam com todos? Pode impor decisões porque sim? Porque é o dono das decisões e denota pouca capacidade para o diálogo e consensos conforme ditaram as urnas?
Uma coisa, para mim, é certa, São Vicente não merece esse “pô-trá-pô” e nem merece o tratamento que tem tido dos seus representantes, mormente o seu PCMSV.
Das questões jurídicas à volta desta encruzilhada que nos encontramos na CMSV não emito opinião por não dominar, mas, enquanto cidadão e eleitor, cá estarei para comentar as que impactam a minha vida neste pedaço de paraíso. Aguardo cenas do próximo episódio de uma novela que já vai longa e sem fim à vista.