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Mulheres destas ilhas

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Por: Ronice Évora

“A partilha entre nós há muito que está feita.
Ele ficou com os bens, eu… com os filhos”
(Autora: Mulher Cabo-Verdiana)

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Queridas
Donas Marias,
Donas Tanhas,
Donas Filomenas
Donas Isauras, … Mulheres cabo-verdianas!

Hoje, 27 de março, comemora-se o vosso dia. Penso que nada evoca mais a data que lembrar e fazer presente o percurso de vida e as escolhas, muitas vezes difíceis, de cada uma de vós.

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Lembra-se, querida Maria, dos muitos “filhos de pai incógnito” a quem fez Homens honrados? Filomena, conte-nos quantas vezes, munida simplesmente de coragem, fez jornadas de dez horas, trabalhando arduamente “na quintal de gente”, muitas vezes com fome, para levar aos filhos, no final do dia, o que restou do almoço dos patrões.

Conte-nos, Tanha, as estórias que aconteceram das vezes que, tendo de deixar o Djosa, de nove anos, a cuidar da Inês de cinco, chegou à casa e os encontrou com fome, aguardando nem que fosse o “chá de caneca” para poder ninar o sono.

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Por onde andeis Benvindas, que anos sem fios calcorreastes as ruas desta Morada e de outras Moradas a vender bolsinhas ou fresquinhas para completar a renda da família? Ou tu, Joaquina, gestora do teu lar e lar de muitas cabeças?

O que têm a nos dizer as Xandinhas, Bitinas e Cesárias destas ilhas, que se viram obrigadas a
receber nas suas camas e corpos gente dos mais variados cantos do mundo, para poderem
garantir o sustento delas e dos filhos, em tempos de fome?

Onde estão neste dia de comemoração e festa, as muitas e muitas crioulas que, por força do
destino, tiveram que assumir sozinhas os filhos que geraram?

Hoje, só nos falam da MULHER, cujos nome e história, não conhecemos. Mas, dizem-nos, é como Ela que devemos querer Ser. IGUAL, supostamente aos muitos homens que fizeram a vossa história, de mulheres crioulas. Os mesmos que quiseram possuir corpos cujas almas não amaram, que procriaram filhos que não conheceram, e marcaram destinos que não reconheceram.

É deles, dizem-nos, que devemos esperar e pedir reconhecimento, respeito pelo nossa condição feminina e empoderamento como ser. Para nos darem vez e voz. Quando, tu, Isaura, Joana, Bernarda, sempre tiveram vez e espaço para optar pelos filhos como investimento no HOMEM e no FUTURO destas ilhas agrestes.

Na verdade, deviam ser vocês, Mulheres, Guerreiras, o espelho e a inspiração das nossas jovens que hoje buscam espaço de afirmação nas redes sociais, desnudando-se, sem critério, no corpo e nos afetos.

Não aqueloutra, que não sabemos bem quem, mas não é, definitivamente, nenhuma de nós.

Bem hajam, Mulheres. Cabo-verdianas. De verdade.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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