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Mais uma Proposta Política

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Por: Frei Silvino Benetti* e Dom Ildo Fortes**

Não estamos preocupados apenas com o espalhar-se e o reforçar-se da cultura da mentira, mas também com o facto de que muita gente espera a campanha eleitoral como oportunidade para obter algum beneficio que não conseguiu ao longo dos anos, ou no momento em que se apresentou a sua necessidade, e considera ser agora o momento, na altura da campanha, em troca da sua aproximação ou adesão a uma determinada proposta ou candidatura.”

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O repetir-se, ao longo dos anos, de experiências e comportamentos que interessam a vivência coletiva produz cultura, quer dizer uma forma de pensar e consequentemente uma forma de viver. Cada um de nós tem de ter em conta essa dinâmica que, inconscientemente, envolve e orienta as nossas ações ou reações, individual e no meio social. No entanto, no difícil caminho da vida, beber duma cultura da qual nos sentimos parte é base útil e referência importante que nos permite caminhar até amadurecer melhores comportamentos e  visões mais alargadas. Tudo isso, porém, é possível quando cultivamos um sentido crítico e temos como referência os valores  humanos universais.

Estamos agora em tempo de campanha eleitoral e assistimos, já estamos habituados, ao repetir-se e aperfeiçoar-se de dinâmicas e instrumentos que fragilizam o livre direito de voto. Nessa altura, a procura do consenso eleitoral dos partidos monta estratégias de aproximação à população mais marginalizada, que é de facto a maioria em número eleitoral, prometendo maior interesses e soluções para as  dificuldades deles. Cada candidato mostra a própria e exclusiva solução que, só por esse motivo, mostra à partida a sua ineficácia porque o alcance do bem comum, por natureza própria, exige a união de todos.

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Não estamos preocupados apenas com o espalhar-se e o reforçar-se da cultura da mentira, mas também com o facto de que muita gente espera a campanha eleitoral como oportunidade para obter algum beneficio que não conseguiu ao longo dos anos, ou no momento em que se apresentou a sua necessidade, e considera ser agora o momento, na altura da campanha, em troca da sua aproximação ou adesão a uma determinada proposta ou candidatura.

Esta forma de comportamento por parte dos políticos pode produzir vantagens imediatas e egoístas para os objetivos próprios dos candidatos, candidaturas ou partidos políticos, e de curto prazo, mas, a longo prazo, pode acarretar a degradação ou a própria morte da política. Efetivamente é uma proposta na qual nenhum dos lados acredita, não se vê bondade na mesma; nem quem “compra” nem quem “vende” acredita no dito e proposto, o que interessa é o momento, cada um está interessado num bem pessoal e momentâneo.

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Será que podemos só assistir, sem nada dizer ou fazer? Não estaremos todos a ser cúmplices de uma maneira perversa de se organizar o viver social? Será que temos de permitir que os nossos jovens criem numa cultura de morte dos valores humanos?

São estas as reflexões que partilhamos no âmbito da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Mindelo e que quereríamos alargar a toda  sociedade civil de São Vicente, e se for de Cabo Verde, propondo momentos de encontro onde analisar juntos essa situação e ver quais são as formas mais convenientes  para se inverter um caminho que leva ao abismo o bem precioso e delicado da  convivência humana e social. Essa proposta nasce na altura desst campanha, mas não se limita ao tempo dessa campanha. Poderá ser também  ocasião de voltar a dar força e expressão à sociedade civil para recuperar em cada um o empenho na política, o gosto pelo trabalho e a força da convivência que constrói a sociedade, atual e vindoura.

Todas as associações, os grupos desportivos, culturais, artísticos, empresariais, estudantis, todas as diferentes expressões comunitárias e todos os indivíduos são convidados a reagir a essa carta escrevendo ao “justicaepazmindelocv@gmail.com” propondo o que acham bem. A Comissão Justiça e Paz encarregar-se-á de tratar as diferentes visões e opiniões, as diferentes reações e, a partir daí, avançar com uma proposta de trabalho útil a dar os passos necessários para encaminhar uma cultura digna do ser humano.

* Coordenador da  Justiça e Paz   

 ** Bispo de Mindelo                

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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