Glória Eterna a Lalaxe. A inteira comunidade cabo-verdiana e sobretudo da ilha de S. Nicolau está enlutada. Acabei de falar com a sua sobrinha nos Estados Unidos (Alecia) que me confirmou que Lalaxe dja viaja pa se Nova Morada.
Por: Maria de Lourdes de Jesus
Incrível mesmo. Domingo, 26 de março, foi dia de homenagem às pioneiras que abriram as portas da emigração para Itália. Lalaxe era a figura mais importante dessa geração que chegou de S. Nicolau em 1963. Ano em que foi instituída a imigração para a Itália.
Era só ver no domingo a reação da nossa comunidade quando foram projectadas as fotografias de Lalaxe. Uma chuva de palmas incessante a coroar a Rainha da casa Tra-Noi. O primeiro abrigo e casa da comunidade cabo-verdiana em Itália desde o início dos anos ’70. Não existem cabo-verdianos que não conheçam o Instituto Tra-Noi. A alegria e satisfação ao ver as fotos de Lalaxe era também uma forma de manifestar o grande respeito, consideração, amor e gratidão perante uma das figuras mais importantes da nossa comunidade e com uma história muito especial. Com o apoio de padre Ottavio e sobretudo de Don. Plutino inscreve-se na Faculdade de Letras, onde se licenciou em “Lingue e Letterature Straniere Moderne ” com o máximo dos votos: 110 Lode.
Termina o curso volta para Cabo Verde em 1982 onde foi trabalhar no MNE. Era chamada a acompanhar o Presidente da República nos vários encontros internacionais. Depois de alguns anos, a exigência de formar a própria família, leva Lalaxe a seguir o marido nos Estados Unidos, onde começou a trabalhar como intérprete no Tribunal em Bridge Port, onde viveu até na manhã de segunda-feira, 27 de Março. Não podia ser um dia qualquer. Tinha que ser um dia muito especial para todas as Mulheres Cabo-verdianas, como Lalaxe. Ela já faz parte da história e não só. Estou certa que pessoas de estatura assim tão elevada como Lalaxe nunca morrem. Ela continua a viver connosco através do legado, do patrimônio cultural que nos deixou. É só ler a mensagem que ela enviou no dia da Homenagem às pioneiras da nossa emigração para Itália:
“Teria muito gosto em estar convosco a homenagear as duas datas que marcaram também o meu percurso pessoal e profissional em Itália, sendo eu uma das primeiras que chegou na cidade Eterna.
Peço imensas desculpas por não poder estar presente, por motivo de saúde. Quero aqui agradecer principalmente os padres que organizaram a nossa emigração para Itália (padre Gesualdo em S. Nicolau e padre Iginio na Itália). Graças a eles muitas famílias em Cabo Verde, conseguiram enfrentar e com sucesso, a pobreza em que a maioria da população vivia. Itália naquela altura foi a salvação para muitas famílias.
Fiquei muito triste de não poder estar convosco para essa importante celebração. Tra-Noi foi um centro religioso onde os nossos patrícios se encontravam para convívios, festas como carnaval, festas religiosas, celebração da missa todos os domingos, actividades culturais, formação, informação. Foi nesta casa que nasceu a ideia da escola portuguesa onde eu e muitas outras estudaram e conseguiram atingir curso profissional e universitário como aconteceu comigo. Tra-Noi, foi a minha casa durante todo o tempo que estive em Roma e continua a ser. Foi nessa casa que as cabo-verdianas “kumça ta abri odjo”
Muito obrigada a Tra-Noi e especialmente a Sinhorina Leia, Don Plutino, Antonella, Maggiolina e toda a comunidade cabo-verdiana. Quero aqui deixar uma saudação ao Embaixador de Cabo Verde, Jorge Figueiredo Gonçalves, filho de família bem conhecida em S. Nicolau é vizinho de casa. Parabéns aos organizadores dessa grande homenagem.”
Cabo-verdianamente, Maria do Rosário Spencer – Lalaxe