Por Mário Matos
O Edil de S. Vicente, em declarações públicas, considera haver necessidade de fazer render mais o potencial de Baía das Gatas, pela multiplicação de festivais de música. Mais precisamente, passar a realizar três em vez do Festival tradicional da primeira Lua Cheia de Agosto. É uma opção, fundamentada, parece, no rendimento que os festivais proporcionam aos cofres municipais e pela dinamização da economia da ilha que o Edil Augusto Neves tem feito questão de realçar.
Não restam dúvidas de que o Festival de Baía das Gatas tem impacto positivo na economia da ilha. Já é um facto que se constata pela simples observação a olho nu: o novo fôlego que ganham no período do Festival os negócios dos diversos operadores económicos, dos graúdos aos informais. Aliás, o mesmo se passa com o Carnaval, o “Festival da Kavala Fresk”, as Festas Juninas, a “Quadra Festiva Natalícia e de Fin d’One”, “Mindelact” e “Março Mês de Teatro”, o “Mindel Summer Jazz”, citando de memória.
Mas, vale perguntar se não há melhores opções para explorar o potencial global de Baía das Gatas e não apenas pela multiplicação de festivais. A praia e a sua envolvente paisagística e humana (a magia dos botes dos pescadores de Salamansa quando regressam da faina ao pôr-do-sol), continua a ser um dos atractivos turísticos, de fruição pelos locais e visitantes nacionais. Por isso, em nossa opinião, que respeita a de outros, nomeadamente a da Câmara Municipal que é quem compete planificar e gerir esse território, o primeiro investimento a ser feito deveria ser na própria praia, para além da planificação condicente com a dimensão e as novas funções que o núcleo urbano adquiriu.
Ou seja, a praia, como atractivo turístico, para nacionais e visitantes do exterior, deveria ter: i) instalações sanitárias permanentemente operacionais, em termos de comodidade e higiene; ii) guarda-sóis e as chamadas espreguiçadeiras de praia; iii) bar de qualidade servindo directamente os utentes da praia; iv) salva-vidas; v) contentores de lixo apropriados e recolha de resíduos; vi) interdição de comportamentos que não se coadunam com a sã e cívica convivência numa praia, por exemplo, a circulação de cães, o uso de aparelhos que infringem as normas respeitantes ao ruído, as beatas no areal; entre outras valências de uma praia que pretende ser explorada como activo turístico.
Certamente ainda muitos de nós temos presente o turista australiano que nos arrasou, criticando com severidade as lacunas e erros crassos da oferta turística da ilha, tendo incidido a sua crítica justamente no que (não) encontrou na Baía das Gatas: um simples “cub” e um “on-the-rocks” ou um delicioso cocktail de praia, bem servidos numa espreguiçadeira debaixo de um guarda-sol… Alguns ficaram ofendidíssimos mas, como na altura tive oportunidade de exprimir, devíamos tê-lo agradecido por nos ter alertado sobre o que não fazer e o que fazer para melhor a nossa oferta turística. Mas não apenas isso. Não me canso de afirmar: fazemos coisas boas para nós e os turistas hão-de gostar, ainda que para eles tenhamos de nos apurar mais.
Se o Festival de Baía das Gatas rende bem aos cofres da autarquia, não se deveria usar esse crédito nessas melhorias indispensáveis? Tudo isso pode ser feito por concessão a um privado, mediante concurso transparente como, aliás, julgo terá ocorrido em relação à Lajinha.
Por outro lado, não se pode optar por outro tipo de eventos que igualmente impactem a economia da ilha, mas que tragam novas e pertinentes valências? Não deveria a CMSV auscultar os promotores de eventos e agentes culturais individuais e colectivos, existentes da ilha, para o delineamento de um outro tipo de programa cultural e de entretenimento?
Não sou contra Festivais musicais como posição de princípio. Sou contra a proliferação de festivais, ademais tendo como fito principal o lucro que dão! De facto os que chamam a atenção para a (eventual) relação entre festivais musicais e o aumento do consumo de álcool e outras substâncias que estimulam comportamentos aditivos, poderão estar carregados de razão.
Não sejamos ingénuos. Não são as mensagens em cartazes ou outdoors alertando para o abuso do álcool e o sexo sem protecção e mesmo a distribuição massiva de preservativos, que vão produzir alterações substanciais no comportamento humano!
Ante a proliferação de festivais, vozes discordantes referem os efeitos perversos da relação festivais-álcool-outras drogas versus desemprego-pobreza. Para lá dos habituais discursos moralistas, muitas vezes farisaicos, o excesso de “sabe ka ta matá”, até hoje, tem sido uma forma de se esvaziar ou diminuir tensões sociais resultantes ou de regimes autoritários ou de fracturas sociais cada vez mais em agravamento. É a célebre solução dos tempos da Roma Imperial, “pão & circo”, com a agravante de que, aos pobres e desempregados da ilha muitas vezes lhes falta o pão…
Por isso, que se realizem festivais, mas com peso e medida, como se usa dizer, e melhorando cada ano a qualidade do evento, não apenas do ponto de vista musical mas acompanhadas de outras manifestações culturais paralelas, como já se fez em anos anteriores.
Vamos a tempo de arrepiar caminho?
No ka krê bá devagar! Sô se for devagar purkê no ten présa pa pensá amdjor y grása de txegá!
Óh Mário!
Como mindelense, é muito duro ter de ter esta sensação mas infelizmente, tenho de te pedir para veres a realidade.
“Sei que pretendeste dialogar com o presidente mas, Augusto Neves nao vai entender nada, absolutamente nada do que escreveste aqui”.
O teu esforço vai ser como ” ága na balói fróde”.
É estranho, quase inesplicável mas, as limitacoes culturais do presidente da camara de S.Vicente, arrepiam qualquer um.
Nao tenho qualquer tipo de esperancas com ele.
Ele é nulo, nulo, nulo!
Tiste, triste, triste.
Populista, populista, polulista, porque não tem outra saída.
Muito pertinente. Mas fazer tudo isso exige trabalho e massa encefálica que é coisa estranha pelos lados da pracinha d’igreja. Reza a preguiça, a incompetência e o populismo que o melhor é usar o dinheiro dos munícipes em futilidades e chungarias.Só um povo consciente e esclarecido poderá travar essa obsessão por festivais. 40 mil contos no último festival já voaram, mas parece que dinheiro é o que não falta.VERGONHA.
Eu acho que o Augusto Neves nunca parou para sequer colocar a hipotese de que muito provavelmente ele poderá ter um equipamento sobre o pescoço, chamado cabeça.
E que este equipamento poderá ter alguma utilidade.
Muito bom texto.
Só uma coisinha de nada: os pescadores não regressam da faina ao pôr-do-sol! 🙂
O que me choca sobremaneira, é a proliferação dos cães na Lajinha, pois em termos da saúde publica trata-se de um assunto muito sério, a responsabilidade das autoridades que gerem as zonas balneares, deviam seguir as dicas do meu amigo Marzinho pois são pertinentes, melhorando a imagem da cidade/ilha que gostaríamos de ver galgar alguns degraus na retina dos turistas que nos procuram, de modo a voltar de novo ou transmitir aos outros uma experiência positiva.
Em suma, devemos imitar os melhores em termos de serviço e imagem, de modo a tornarmos competitivos perante a actual conjuntura que não se compadece com mediocridade.
Boa análise e sugestões do grande mindelense Marzim.
Um cidadão que tem sempre um posicionamento de grande correção, sempre que intervém publicamente.
Vale a pena os representantes do poder local
e os operadores económicos darem atenção.
Uma opinião baseada em factos reais e bastante equilibrada.
Uma análise que merece ser lida, pela edilidade camarária, esperando que a mesma não passará de apenas “dar pérolas aos porcos”.
Para o autor desta opinião, um observador bastante atento, os meus parabéns.