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Amadeu Oliveira, um preso (político) incómodo

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David Leite

1. Delinquentes na rua, Amadeu na cadeia!

Ontem, 18 de julho, recordamos a injusta prisão de Amadeu Oliveira. Quatro anos volvidos, muita água correu debaixo da ponte, mas o advogado sem medo continua atrás das grades como um vulgar recluso de delito comum. Os que o votaram ao cativeiro batem palmas à sua desgraça, enquanto a impunidade faz escola: ladrões comprovados continuam nas ruas, suas vítimas vivendo atrás de grades; narcotraficantes são soltos por “vício de forma”; presumíveis homicidas não são investigados; ninguém diz nada sobre misteriosos desaparecimentos de pessoas, inclusivé crianças!

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Como não se espantar perante um relatório internacional apontando o dedo à “justiça” cabo-verdiana, alegando haver magistrados implicados com o crime organizado?! Isto, sim, é uma afronta e deveria envergonhar um “Estado de direito democrático”! É um estigma gravíssimo, tão grave quanto esta resposta surpreendente e lapidar do PGR a um jornalista: – “Não tenho conhecimento!” Mais nada – nenhuma averiguação, que se saiba, para se apurar se era verdade ou mentira!

2. Porque não houve graça presidencial?

É tradição, pelo Natal, o PR decretar graça presidencial para presos escolhidos em razão da lei. Menos no último Natal! Para surpresa geral, o actual PR preferiu adiar os indultos para as celebrações dos 50 anos da independência, mas passou a festa e o PR fez-se mudo e calado! Não me lembro se algum seu predecessor fez tábua rasa dessa tradição de clemência. E, se este o fez, lá sabe porquê.

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3. Que Amadeu vai sair da Ribeirinha?

Há poucos meses, circularam umas fotos furtivas do Amadeu numa clínica. Era só ver o seu estado para entender que o Sistema não só condenou como se encarniçou contra o advogado contestatário. E agora, um dilema atormenta o Sistema: Amadeu na cadeia é um mártir, fora da cadeia é um perigo! Em ambos os casos é incómodo.

Vale ao Amadeu que nem os seus piores inimigos desejam vê-lo sair cadáver da Ribeirinha. Não por lhe desejarem bem, mas porque isso faria dele um mártir e deixaria os seus algozes em péssimos lençóis que lhes serviriam de mortalha política!

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Mas, uma coisa é certa, Amadeu não será o mesmo quando voltar a ver o sol redondo. Ninguém sabe até que ponto pode incomodar o Sistema (talvez nem constitua perigo algum), mas, pelo sim pelo não, há quem prefira ver o Amadeu sair da cadeia todo alquebrado, física e moralmente abalado. Um Amadeu sem alento, quietinho no seu lugar, desanimado com a política, sem forças para fazer campanha. Com vida, mas sem saúde. Em suma, um Amadeu que não incomoda politicamente, aliás tiveram o cuidado de lhe aplicar mais quatro anos de inelegibilidade para o manter afastado da política!

4. Cálculos e contra-cálculos

Parece que l’enfant terrible do nosso sistema judicial viu-se apanhado num turbilhão de cálculos politico-eleitoralistas que os nossos ilustres comentadores de serviço não enxergam. Os mandões da política, coligados com a “justiça”, fazem os seus cálculos; nós fazemos os nossos. Claro que eles ou nós podemos estar errados. Esta é a minha análise, porém espero estar errado e ver o Amadeu em liberdade quanto antes, com vida e – também – com saúde. Porquê? Porque sou um fanático da justiça, e a maldade dos potentados às vezes ultrapassa o meu entendimento.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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