Klisman Ramalho
O mercado de trabalho é, para muitos jovens, um território desconhecido, repleto de desafios, exigências e, por vezes, frustrações. Não é raro ouvir queixas sobre baixos salários, falta de oportunidades ou exigências consideradas excessivas. Porém, há um fenómeno preocupante: a tendência de se colocar a vitimização no centro da narrativa, como se tudo conspirasse contra o jovem trabalhador.
Mas, será que esta é a melhor forma de encarar a vida profissional? Será que colocar os direitos antes dos deveres conduz ao verdadeiro crescimento? Para responder a estas questões, partilho uma conversa fictícia entre um mentor experiente e o trabalhador. Uma troca simples de palavras que contém uma poderosa lição sobre mentalidade, responsabilidade e protagonismo.
Trabalhador: Mentor, eu sinto que o mercado de trabalho é muito injusto. Parece que ninguém valoriza os jovens. Trabalhamos tanto e recebemos tão pouco…
Mentor: Compreendo o que sentes. Mas deixa-me perguntar-te: acreditas que os direitos vêm antes dos deveres?
Trabalhador: Eu penso que sim… se trabalhamos, temos o direito de ser bem pagos e respeitados, não é?
Mentor: Tens razão quanto à importância do respeito e de uma remuneração justa. Mas é preciso recordar que cada geração, antes de ti, teve de lutar para conquistar as condições que hoje tens. Nada lhes foi dado de mão beijada. Eles dedicaram-se, provaram o seu valor, enfrentaram dificuldades e só depois colheram os frutos.
Trabalhador: Então quer dizer que eu estou a colocar os direitos à frente dos deveres?
Mentor: Exatamente. E o maior perigo disso é cair numa mentalidade de vítima. Quando pensas apenas “não me valorizam”, “não me pagam o que mereço” ou “o chefe exige demais”, estás a colocar o foco no problema. Mas diz-me, o que acontece quando mudas o foco para a solução?
Trabalhador: Eu cresço… aprendo… torno-me melhor.
Mentor: Precisamente! O mercado de trabalho é uma escola. E, como em qualquer escola, as lições nem sempre são fáceis. Mas cada esforço, cada responsabilidade assumida, prepara-te para níveis mais altos. Se fores além do que te pedem, se fores disciplinado, criativo e dedicado, vais destacar-te. E quando isso acontece, o reconhecimento e os direitos acabam por vir naturalmente.
Trabalhador: Mas e se eu me esforçar e ainda assim não for reconhecido?
Mentor: Então não perdes nada. O maior reconhecimento não vem do patrão, vem de ti próprio. Cada desafio enfrentado fortalece-te, abre-te portas e prepara-te para oportunidades maiores. Lembra-te: os deveres são os degraus que te levam até aos teus direitos.
Trabalhador: Então a pergunta não deve ser “o que o trabalho me vai dar?”, mas sim “o que posso eu oferecer ao trabalho?”
Mentor: Isso mesmo! Essa é a mudança de mentalidade que transforma jovens em protagonistas. O protagonista não fica preso à reclamação, ele cria soluções, apresenta ideias, supera-se diariamente e inspira os outros.
Trabalhador: Percebi, Mentor. Em vez de me vitimizar, vou assumir responsabilidades e encarar cada experiência como uma oportunidade de crescimento.
Mentor: Excelente! Essa é a atitude que abre portas. O mundo não te deve nada, mas oferece-te oportunidades. Cabe a ti agarrá-las com coragem, dedicação e responsabilidade.
Esta conversa mostra uma verdade fundamental: o mercado de trabalho não é um inimigo, mas uma escola. Os jovens que entram com espírito de vitimização acabam estagnados. Já aqueles que compreendem que os deveres antecedem os direitos crescem, conquistam respeito e constroem carreiras sólidas. O segredo está na mentalidade. Em vez de esperar que o mundo lhes dê algo, os jovens devem perguntar-se diariamente: “o que posso eu oferecer?”. É neste gesto de dar antes de receber que se constrói a confiança, a maturidade e o verdadeiro sucesso.
Se és jovem e estás a iniciar a tua caminhada profissional, faça hoje um compromisso contigo: abandone a vitimização e assuma o protagonismo da tua vida laboral.
Cumpra os teus deveres com excelência, mesmo quando ninguém está a olhar.
Aprenda em cada tarefa, por mais simples que pareça.
Dê sempre um pouco mais do que te pedem, é isso que te diferencia.
Encare dificuldades como treino para desafios maiores.
Mantenha a disciplina e a coragem, porque os direitos virão como consequência natural.
Lembra-te: o futuro não pertence aos que reclamam, mas aos que agem. O mercado de trabalho é o teu campo de treino. Entre nele não como vítima, mas como protagonista. É assim que transformarás oportunidades em conquistas e sonhos em realidade.